Sistema prisional

Linha-dura de novo diretor pode ser causa de motim na Dutra Ladeira

Rodrigo Machado assumiu o cargo em dezembro e teria adotado regras mais rígidas na entrada de visitantes

Por Ailton do Vale, Pedro Rocha Franco e João Renato Faria
Publicado em 16 de janeiro de 2017 | 23:05
 
 
Detentos fazem rebelião no presídio Dutra Ladeira LINCON ZARBIETTI / O TEMPO

A rebelião na penitenciária Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na Grande BH, estaria ligada à linha-dura adotada pelo novo diretor da unidade, Rodrigo Machado, nas últimas semanas. Além das declarações de presos em vídeos supostamente gravados na unidade, três fontes ligadas à Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) relataram a O TEMPO que a nova gestão do presídio causou insatisfação entre os detentos, entre outros, por impedir certas regalias.

Em vídeo supostamente gravado por presos e vazado por parentes de presos para a imprensa, os detentos se queixam do diretor e exigem a saída imediata dele. Uma das reclamações dos presos é o tratamento dispensado aos familiares dos detentos em dias de visita. A reclamação pode estar associada ao aumento do rigor nas revistas dos visitantes, o que implica diretamente na maior dificuldade para entrada de armas, relata uma fonte.

Os presos pedem para conversar com o diretor e exigem mudanças. “Se não der a resposta, vai começar a morrer muita gente. Se não tiver resposta das nossas reivindicações, nós vamos começar a queimar e meter fogo em tudo. Vai derramar sangue”, afirmam.

O presidente da Comissão de Assuntos Carcerários da OAB-MG, Fábio Piló, esteve dentro da penitenciária. Ele relata que os presos estão revoltados com a nova direção do presídio. "Os detentos relataram que estão sendo agredidos há cinco dias. São agressões que não são visíveis, como chutes nos órgãos genitais e no estômago e tapas na cara. Eles botaram fogo exigindo a saída do diretor", afirma Piló. 

Diretor da Dutra Ladeira em 2014, Machado reassumiu o posto na última semana de dezembro do ano passado. De lá para cá, impôs linha dura na gestão na penitenciária. Segundo um agente penitenciário, a nova gestão herdou um presídio bagunçado com a missão de colocar ordem na casa. “Eles (presos) estão fazendo isso porque estavam acostumados a muita droga e com muita regalia. Isso eles perderam. Eles não queriam que o grupamento especial entrasse nos pavilhões”, relata. A fonte rechaça as supostas agressões relatadas pelos presos. “Inventam muita coisa. Ninguém encosta a mão neles”, diz.

Em uma manifestação na manhã desta segunda, os presos iniciaram uma greve de fome para evidenciar queixas. A lista de reclamações inclui supostas torturas psicológica e física, falta de atendimento médico e psicológico e assédio contra familiares por parte dos agentes penitenciários.

A Seap afirmou, em nota, que Rodrigo Machado permanecerá no cargo. Além disso, a secretaria ressaltou no comunicado que o diretor "é competente e está retomando procedimentos técnicos de segurança do presídio". Por fim, a pasta diz que "não foi detectado nenhum espancamento a presos na unidade".