Marco zero de BH, bairro Boa Viagem ainda é desconhecido

Quando se fala no bairro Boa Viagem, em Belo Horizonte, são poucas as pessoas que sabem onde fica. Situado na região Centro-Sul, nos arredores da Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem, ele possui apenas dez quarteirões e cerca de 4.500 habitantes e, apesar de ser um dos últimos a serem criados na cidade, é apresentado por historiadores como o marco zero da capital. Foi lá, em meados de 1700, ainda no início do século XVIII, que uma capela de pau a pique, construída dentro da fazenda de uma família portuguesa, deu início ao arraial de Curral del Rei, hoje, Belo Horizonte.

Desde 2009, a lei municipal 9.691 estabeleceu a delimitação da área ao desmembrá-la do bairro Funcionários, também na região Centro-Sul. A mudança, desconhecida até mesmo por moradores, só começou a ser percebida no fim do mês passado, quando muitos passaram a receber correspondências dos Correios com um novo CEP, indicando o “desconhecido” território.

“A cidade cresceu aqui, no entorno dessa capela, que foi feita para abrigar a imagem de Nossa Senhora. A prefeitura não nos deu uma justificativa para a alteração do nome do bairro, mas entendo isso como uma valorização desse marco. É uma oportunidade de recuperamos essa identidade histórica”, afirma o padre Marcelo Carlos da Silva, titular da catedral e reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua, do qual ela faz parte.

A mudança pegou de surpresa grande parte dos moradores, até mesmo aqueles mais antigos e ligados à igreja, como a aposentada Glória Silveira, 73. No fim do mês passado, ela ficou sem entender uma carta dos Correios, anunciando que o CEP de onde mora sofreria alteração.

“Moro aqui há mais de 30 anos e vim para cá muito por causa das igrejas que ficam a apenas dois quarteirões da minha casa (a outra é a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes). Quando recebi a carta, achei que era um erro, pois para mim até então, aqui era bairro Funcionários. Quando veio como Boa Viagem, eu pensei: ‘será que eles estão achando que moro em Recife (PE)?’. Só depois de ligar para os Correios é que me dei conta de que esse novo nome era uma referência à santa”, conta.

Um grupo de vizinhos da catedral, que está em processo de criação de uma associação de moradores da região, também ficou surpreso. “Não sabíamos que aqui era um bairro. Tanto é que a associação estava sendo criada como Associação de Moradores da Região do Boa Viagem. Mas é uma notícia muito boa e a chance de nos unirmos ainda mais”, afirmou a presidente do futuro grupo, Sônia Queiroga.

Formalização. A Prefeitura de Belo Horizonte não explicou se houve a criação de outros bairros com o desmembramento do Funcionários, mas informou que o Boa Viagem apareceu no último mapa de nomenclaturas da divisão da capital. Sobre a demora na notificação aos moradores, o Executivo municipal informou que, apenas em 2014, uma alteração na lei acrescentou um artigo para que “órgãos e entidades do poder público” usassem as “denominações estabelecidas” na legislação.

“A gente pode ver que é um bairro pequeno em tamanho, mas que já nasce com uma responsabilidade enorme por tudo o que representa”, diz João Roberto Souza Silva, 54, também participante da futura associação.

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Saiba mais

Escultura. A imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem instalada no marco zero de BH foi esculpida com pedras mineiras para homenagear a “mineiridade”. “Há 300 anos, quando Francisco de Faria, o fazendeiro, trouxe a imagem de Portugal, ele começou aqui um vilarejo, que se tornou a grande capital dos mineiros”, explicou o padre Marcelo Silva.

Mudança de CEP. Os Correios informaram que a mudança do CEP foi uma “adequação dos trechos com os respectivos bairros definidos pela Prefeitura de Belo Horizonte, como no caso do Boa Viagem, que, até então, não aparecia nas divisões (da cidade)”. Segundo a empresa, algumas ruas tiveram o CEP modificado ou a referência do bairro corrigida.

Outros bairros. A prefeitura informou que todos os bairros da capital podem ser consultados pelo link http://geosiurbe.pbh.gov.br/webmap/.