Uma cardiologista da Unimed-BH está temporariamente afastada de todas as suas atividades ligadas ao plano de saúde após ser denunciada à empresa e ao Conselho Regional de Medicina (CRM-MG). De acordo com parentes de uma paciente, a médica teria inventado um diagnóstico e receitado remédios para evitar ataques cardíacos causados por uma "bactéria espanhola". Não suficiente, ela ainda teria sugerido um segundo atendimento para tratar a respeito do caso mas, desta vez, em seu consultório particular.
O caso aconteceu, segundo familiares, na última segunda-feira (6) durante uma consulta de rotina na Unimed da avenida D. Pedro I, no bairro Planalto, na região Norte de Belo Horizonte.
Essa história se espalhou nas redes sociais ainda na terça-feira (7) após Thiago Souza, irmão da paciente, publicar uma denúncia contra a médica em seus perfis no Instagram no Facebook (acesse o relato completo). Quarenta e oito horas depois, mais de 1.300 pessoas já haviam comentado o caso com bastante indignação.
Com a irmã em estado de choque após o susto, o estudante de direito procurou a Unimed-BH e protocolou uma denúncia contra a cardiologista no Conselho Regional de Medicina (CRM-MG), como descreveu durante entrevista. Na tarde desta quinta-feira (9), a família irá ainda à Polícia Militar para registrar uma ocorrência contra a médica. À reportagem, a cardiologista declarou apenas que não comentaria o caso sem antes solucionar um imbróglio com o plano de saúde.
Entenda
O suposto diagnóstico incorreto custou todo um dia de sossego e uma noite de sono à paciente. Mãe de duas crianças pequenas, uma menina de 3 anos e um menino de 7, a mulher costuma procurar médicos todos os anos para exames de rotina. Assim, nos primeiros dias de janeiro, agendou um atendimento pela Unimed-BH com a cardiologista. No decorrer do primeiro encontro, a médica teria solicitado uma gigantesca bateria de exames à paciente.
"Minha irmã não tem anormalidades médicas, não tinha nenhum sintoma. A cardiologista pediu uma lista de exames que nenhum outro médico nunca pediu. Minha irmã achou estranho, mas decidiu fazê-los", conta Thiago Souza.
No retorno, após analisar os exames, a médica teria comunicado à mulher que seu organismo estaria sendo atacado por uma "bactéria espanhola" que poderia lhe causar um ataque cardíaco e matá-la a qualquer momento. Depois de cravar o diagnóstico, a cardiologista ainda teria pedido à paciente para "chorar baixo" e para agendar um novo atendimento, mas desta vez em seu consultório particular.
"A todo momento, ela remetia à marcação de uma nova consulta, só que particular e fora do hospital da Unimed. Inclusive, minha irmã falou com ela que iria viajar no dia seguinte (em 7 de janeiro) e a médica disse: 'não, não te recomendo viajar porque você sofrer uma parada cardíaca a qualquer momento. Mas vou te receitar um remedinho para você viajar tranquila'", conta Souza.
Ainda de acordo com ele, a médica tratou sua irmã com bastante frieza durante todo o atendimento e, realmente, chegou a emitir uma receita para compra de quatro medicamentos. "Ela é uma mulher extremamente fria que não importa com o paciente. Eu não sei se ela visa o lucro, remetendo a uma consulta particular, ou se é loucura mesmo", completa.
Diagnóstico descartado
Mesmo em estado de choque, a irmã de Thiago decidiu procurar uma segunda opinião. Assim, na tarde da segunda-feira (6), ela foi até um hospital na região Centro-Sul de Belo Horizonte para ser submetida a novos exames. Após a bateria, o cardiologista que a atendeu negou o diagnóstico da médica da Unimed-BH.
"O outro médico conferiu todos os exames e disse que não tinha absolutamente nada acontecendo com a minha irmã. Sobre a essa bactéria espanhola, ele disse que não teria como diagnosticar esse tipo de infecção apenas com os exames que minha irmã apresentou à médica. Aliás, ele disse que essas infecções apresentam sintomas, como febre, e minha irmã não tinha esse quadro", explica Thiago.
A mulher procurou, ainda, uma terceira opinião. O terceiro médico consultado também apontou como mentiroso o diagnóstico da cardiologista da Unimed-BH.
De acordo com o estudante de direito, após publicar o caso em suas redes sociais, recebeu ainda inúmeras mensagens de outras pessoas que teriam passado por situações semelhantes com a médica citada.
"Uma conhecida comentou que sua tia recebeu o mesmo diagnóstico que a minha irmã. A médica ainda disse pra tia dela as mesmas coisas que disse para minha irmã e receitou remédios que ela toma até hoje. Uma menina que trabalhou comigo também contou que o namorado recebeu o diagnóstico de bactéria feito pela médica", declarou.
Apuração do caso
A Comissão de Ética do Centro de Promoção da Saúde – Pedro I da Unimed-BH, onde a médica atendia antes da denúncia, é o órgão responsável por apurar todas as reclamações recebidas. De acordo com a assessoria do plano de saúde, a médica está suspensa do atendimento aos clientes desde o dia de recebimento da denúncia.
"A cooperativa reforça que não mede esforços para apurar e repreender condutas que contrariem o cuidado, o respeito e a ética, valores que norteiam todos os relacionamentos com clientes, colaboradores, cooperados e sociedade em geral", comunicou em nota enviada à reportagem.
Em nota, o CRM-MG informou que já tomou conhecimento da denúncia e que vai apurar os fatos.
Leia abaixo a nota na íntegra:
"O Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) informa que tomou conhecimento da denúncia de possível infração ética cometida por uma profissional médica, e que iniciará os procedimentos regulamentares necessários à apuração dos fatos, seguindo o protocolo estabelecido pelo Código de Processo Ético Profissional (CPEP). Os procedimentos correm sob sigilo. Obedecendo ao CPEP, somente as penalidades públicas impostas aos médicos poderão ser divulgadas".
Atualizada às 15h08