SUS

Mulher descobre que hospital de BH não faria sua cirurgia já com acesso na veia

Após horas de jejum e dispensa de trabalhos, diarista de 44 anos foi informada sobre erro quando já estava de roupão e tinha preenchido toda documentação

Por José Vítor Camilo
Publicado em 05 de abril de 2024 | 20:00
 
 
Diarista mostra papel do agendamento da cirurgia que foi cancelada em cima da hora Foto: ARQUIVO PESSOAL / DIVULGAÇÃO

Após quase 1 ano e meio esperando por uma cirurgia para corrigir a chamada "bexiga baixa", uma diarista de 44 anos, moradora de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, fez toda a preparação para, enfim, passar pelo procedimento na última quarta-feira (3 de abril). Acompanhada desde janeiro pelo Hospital Sofia Fieldman, instituição filantrópica que atende pelo SUS para a qual ela foi encaminhada, a mulher foi informada já de roupão, com o acesso na veia e após preencher toda a documentação necessária, que o procedimento cirúrgico não aconteceria no local, que, sequer, fazia esse tipo de operação.

Em entrevista à reportagem de O TEMPO, a mulher contou que desde que descobriu o problema de saúde, ela já passou por diversas unidades de saúde, entre o Posto de Saúde do bairro Itacolomi, onde mora, um hospital de Lagoa Santa e uma outra maternidade de BH. Apesar disso, até então não tinha sido possível passar pela cirurgia, uma vez que as unidades em questão não tinham equipamentos para esse tipo de operação.

"Em janeiro deste ano, o Posto de Saúde (de Sabará) me encaminhou ao Sofia Fieldman. Lá, a médica me avaliou, falou que eu realmente precisava da cirurgia, me passou alguns exames de risco cirúrgico para fazer. Depois que estava com tudo, passei por outra consulta com essa médica e, depois, apresentei os exames ao cirurgião em março e ele me liberou para a cirurgia. No dia 28 de março me chamaram novamente, passei pela equipe médica e marcaram a cirurgia para o dia 3 de abril", lembra.

Após desmarcar vários trabalhos para conseguir se recuperar da cirurgia e conseguir uma acompanhante para o dia, ela acordou às 4h30 e foi para o hospital já com todos os procedimentos preparatórios feitos. "Eu estava muito ansiosa para finalmente me livrar dessa condição. Eu sinto dor, me incomoda muito sentar, sangra às vezes. Fui na expectativa de ficar livre disso e, depois de colocarem a fitinha no meu braço, me darem o roupão, colocarem o acesso na minha mão e, até, a equipe repassar como seria o procedimento, fui informada de que não seria operada", disse, frustrada, a diarista.

Já na recepção, ainda chorando muito, ela foi informada por funcionárias do hospital que, na verdade, ainda existiriam duas pessoas na sua frente na fila para o procedimento e que entrariam em contato novamente quando ele finalmente pudesse ocorrer.

Hospital admite erro

Entretanto, após ser questionada pela reportagem de O TEMPO, a assessoria de imprensa do hospital Sofia Fieldman alegou que, no dia em questão, a paciente foi encaminhada para realização de uma cirurgia "para a qual não prestamos atendimento". A instituição alegou ainda que o agendamento teria ocorrido sido feito por uma profissional que não sabia que a unidade não realiza esse tipo de cirurgia.

"Como rotineiro, solicitamos a todas as usuárias com cirurgias agendadas cheguem às 6h da manhã para realização de procedimento pré-cirúrgico. Durante esse procedimento é feita a conferência dos documentos necessários para a internação e realização da cirurgia, informações pré-anestésicas, entre outros. Foi neste momento em que a equipe percebeu o equívoco e imediatamente comunicou à usuária, além de orientá-la sobre a necessidade de contra referenciá-la a outra Instituição", completou o hospital.

Questionado sobre o fato da paciente estar passando por consultas no hospital desde janeiro e o erro só ter sido descoberto no dia da cirurgia, a assessoria de imprensa do Sofia Fieldman disse apenas que está tomando as medidas para que "incidentes como esse não se repitam". "Além disso, estamos dando todo o suporte necessário à usuária para que tudo seja resolvido da melhor forma", concluiu.

Prefeitura de Sabará culpa Secretaria de Saúde de BH

Como a paciente foi encaminhada ao Hospital Sofia Fieldman pela Secretaria Municipal de Saúde de Sabará, a Prefeitura do município da região metropolitana também foi questionada. Por nota, a cidade argumentou que, em setembro de 2023, o Posto de Saúde Itacolomi cadastrou a mulher no Tratamento Fora do Domicílio (TFD), da Central de Regulação do Estado de Minas Gerais.

Após isso, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Belo Horizonte teria agendado a consulta inicial para o dia 5 de fevereiro deste ano, tendo indicado o hospital Sofia Fieldman como "referência no caso". "Portanto, o erro foi cometido neste momento", disse a cidade da Grande BH.

"A Prefeitura de Sabará enviará pedido formal à TFD para que a consulta inicial para realização do procedimento seja reagendada imediatamente em uma unidade de saúde definida pela Central de Regulação de Minas Gerais. Reforçamos que este processo é conduzido via TFD, e não pelo município de Sabará", concluiu.

Questionada, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) alegou que, por se tratar de cirurgia eletiva, a responsabilidade pela gestão das filas de acesso, priorização e agendamentos dos procedimentos seria das Secretarias Municipais de Saúde (SMS), não sendo sequer encaminhados à SES-MG para regulação e agendamento.

A SMS de BH foi procurada e informou que não houve erro por parte da pasta, "já que o Hospital Sofia Feldman é habilitado para realizar o procedimento descrito na solicitação feita pelo município de Sabará". 

"Cabe destacar que o agendamento e a realização do procedimento no hospital é responsabilidade do próprio prestador. Para garantir a assistência à paciente, a Central de Internação da capital agendou uma avaliação em outra unidade hospitalar, em 15/4. A usuária será comunicada", afirmou.