Trânsito

Número de acidentes no Anel Rodoviário de BH volta a subir

Retorno do fluxo intenso de veículos e a ausência dos radares contribuem para o problema. Via já registra neste ano 14,6% mais ocorrências do que em 2020

Por Pedro Nascimento
Publicado em 09 de julho de 2021 | 03:00
 
 
Anel Rodoviário Foto: Cris Mattos

Com o gradativo fim das restrições impostas pela pandemia, o tráfego de veículos também começa a voltar à normalidade em Belo Horizonte, trazendo um reflexo corriqueiro e negativo: o aumento na ocorrência de acidentes.

Segundo dados da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), de janeiro até o último dia 6, foram registrados nos 27 km da via 924 acidentes, sendo 352 deles com vítimas. Os números superam o verificado no mesmo período do ano passado, quando houve 806 acidentes, 301 deles com vítimas. 

“No ano passado, tivemos uma redução drástica do número de pessoas nas ruas e, consequentemente, essa redução no tráfego de veículos e acidentes. Mas agora, com todas as flexibilizações que estão sendo feitas, o movimento já se aproxima do que era, e o número de batidas, inclusive com vítimas, é um reflexo disso”, confirmou o porta-voz da PMRv, major Douglas Guimarães.

Fiscalização eletrônica

Além do trânsito mais pesado com o aumento do fluxo de veículos, muitos motoristas se queixam da falta de fiscalização eletrônica de velocidade na via. Em setembro de 2020, dez radares do Anel foram removidos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e seguem sem previsão de reinstalação.

“O pessoal corre muito, para cima dos 80 km/h, que é o permitido. Carro, caminhão, moto, o povo não respeita. E o problema é que a gente tem que seguir o fluxo, e aí existem pontos de retenção em que a velocidade vai para os 40 km/h. Nem sempre dá tempo de parar”, desabafa a revendedora Isabela Araújo, que todos os dias cruza o Anel, do bairro Caiçara, na região Noroeste, ao bairro Betânia, na região Oeste de BH. 

Rotina de medo

O relato de Isabela é parecido com o de quem vive às margens do Anel Rodoviário. “Antes, o radar inibia, o pessoal freava, mesmo com ele desligado. Agora nem isso, o povo anda a 100 km/h, 120 km/h, e não tá nem aí. Aqui tem muito comércio, residência, então a gente morre de medo de um carro descontrolado”, conta o borracheiro José Magno, que mora no bairro Nazaré, região Nordeste da capital.

O medo não é para menos. Em 2014, uma Kombi desgovernada acertou um carro, que invadiu a borracharia onde ele trabalha. Um pedestre que passava pelo local morreu na hora, e quatro pessoas se feriram, entre elas o próprio José Magno.

Além dos abusos e da imprudência, os engarrafamentos típicos do Anel também já voltam a dar dor de cabeça aos motoristas. “Até o ano passado, a volta para casa era mais tranquila. Agora o trânsito já começa a ficar ruim desde cedo, em especial na altura do bairro Califórnia, e em cima do viaduto da Via Expressa”, lamenta o servidor público André Rodrigues.

Questionado sobre a frequência dos acidentes, ele disse já ter visto vários engavetamentos na via neste ano. “Nunca me envolvi em batida, mas não é raro ver um no caminho. Mesmo que não sejam tão grave, eles atrapalham demais o trânsito”, conclui.

Blitzen intensificadas

Para compensar a ausência dos radares, a Polícia Militar Rodoviária alega que tem desde o ano passado aumentado a fiscalização no Anel Rodoviário.

“Estamos fazendo blitze em pontos fixos e temos viaturas que circulam pelo Anel o dia todo. Em cada ponto temos observado situações específicas. Na descida do Betânia, por exemplo, o nosso foco são os caminhões”, afirmou o major da PMRv Douglas Guimarães.

No aguardo de nova licitação

Até o setembro de 2020, havia 31 controladores de velocidade espalhados pelos 27 km do Anel Rodoviário. Agora, há somente 21 em operação – sendo que 17 estão no trecho administrado pela Via 040. Hoje, na maior parte da rodovia, cerca de 15 km, não há nenhum tipo de fiscalização eletrônica.

Segundo o Dnit, atualmente há somente quatro radares em funcionamento no trecho considerado parte do Anel. Dois estão em Sabará, um em Santa Luzia, e outro em Belo Horizonte, próximo ao bairro Jardim Vitória.

A justificativa para a retirada dos equipamentos é o fim do contrato com a empresa que fazia os serviços de fiscalização. Agora, o trecho só voltará a ter a velocidade controlada após a conclusão da licitação e também a aferição do Inmetro. O departamento não informou qual o atual estágio do processo nem se há uma previsão para isso acontecer.

“Excesso de velocidade é o que mata” 

Consultor em transportes e trânsito, Osias Baptista avalia que a retirada dos dez radares do Anel Rodoviário, associado ao aumento do fluxo de veículos com o iminente controle da pandemia, tende a agravar a situação dos acidentes na via. 

“Com certeza esse aumento de tráfego vai significar um volume crescente de acidentes no Anel Rodoviário. Mais carros, motos, caminhões e pedestres. Isso tudo na mesma estrutura precária de sempre do Anel, sem contar a má educação dos motoristas, que também não mudou”, analisa o especialista. 

“Nesse momento, é muito importante que seja mantido o controle de velocidade. É preciso que tenham os radares bem colocados, nos lugares certos. O que mata no acidente é justamente o excesso de velocidade”, enfatiza Batista.