Pesquisa

Parte dos brasileiros aprova liberação da maconha, mas com ressalva

Dos 1.259 participantes, 38% defendem a legalização para fins terapêuticos e outros 19%, para lazer

Por Jáder Rezende
Publicado em 03 de março de 2014 | 03:00
 
 
Perfil. Quase metade dos entrevistados informou conhecer parentes ou amigos que fumam maconha Uarlen Valerio / O Tempo

Tramita no Congresso Nacional projeto de regulamentação do uso da maconha nos moldes do cigarro e de bebidas alcoólicas. Relator do projeto, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) levou o debate para o seu perfil no Facebook, declarando que se sentiu “desafiado” e, por isso, decidiu promover assembleias para discutir a questão. Uma pesquisa feita recentemente no país sobre o assunto reflete o que pensa parte da população: a maioria é favorável à legalização, mas com ressalva.
 

Levantamento feito pela empresa Expertise em janeiro deste ano com 1.259 brasileiros constatou que 38% defendem a liberação apenas para uso medicinal e outros 19%, para fins recreativos. Quase metade dos entrevistados admitiu ter parentes ou amigos próximos que fumam. Já aqueles que discordam do comércio formal da droga representam 37%. O público participante foi de ambos os sexos, de todas as classes sociais e com idades de 18 a 59 anos (veja resultado no quadro ao lado).

Para Daniele Aguiar, professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Brasil levará pelo menos uma década para comprovar os reais efeitos medicinais da erva. Estudiosa das substâncias da droga com o intuito de contornar problemas provocados pelo THC (componente químico da maconha), Daniela se declara contrária à legalização. “Acredito que a utilização da planta para fins terapêuticos vai ser difícil no país. Há muitos trabalhos na literatura revelando que o uso da maconha por adolescentes precipita vários transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia”, afirma a pesquisadora, ponderando que o tema deve ser amplamente debatido antes de partir para a legalização.

O que mais chamou a atenção de Christian Reed, da Expertise, foi a diferença das respostas entre quem já fumou uma vez na vida (26%) e quem nunca teve curiosidade em experimentar (69%). “Fica claro que as opiniões são muito divergentes e que o assunto ainda é polêmico. Não há um consenso entre a população, o que só comprova que está mais do que na hora de se iniciar um amplo debate sobre o tema”, diz.

Proposta. Conforme a assessoria do senador Cristovam Buarque, o projeto é uma sugestão de iniciativa popular apresentada por meio do Portal e-Cidadania do Senado. Foram colhidas 20 mil assinaturas na ação. A expectativa é concluir um relatório com as manifestações colhidas nos debates até novembro deste ano.

Cenário

A conta-gotas. A maconha foi legalizada para fins medicinais em Turim (Itália), na França, em Nova York, em Washington e em 18 Estados norte-americanos. O Uruguai liberou o comércio.


Médicos indicariam mais se uso não fosse ilegal

Em uma das mais abrangentes pesquisas realizadas entre cancerologistas pela Universidade de Harvard (EUA), em 1991, 60% declararam não recomendar o uso ilegal da maconha para fins terapêuticos enquanto 40% aconselhavam.

No entanto, a posição mudou levando em conta outro cenário. Se o uso da droga fosse legalizado, 70% dos médicos recomendariam o uso. Especialistas defendem que os efeitos medicinais da maconha beneficiam sobremaneira pacientes portadores do vírus HIV, assim como de glaucoma, câncer e esclerose múltipla. Nesses casos, os medicamentos à base da droga podem ser ministrados na forma de supositório ou de goma de mascar.