Realidade no país

Pesquisa aquém da demanda

Investimento em novas tecnologias e drogas ainda é desafio na abordagem dos tumores

Por Bárbara Ferreira
Publicado em 30 de março de 2015 | 03:00
 
 
Priscila Vila Real Macedo João Godinho – 02/7/2014-

Belo Horizonte tem oito unidades de saúde credenciadas em oncologia, e cerca de 50% dos atendimentos na capital são de pacientes provenientes do interior do Estado. Os tratamentos mais complexos são feitos no hospital Mário Pena e na Santa Casa de Misericórdia, que conta também com uma ala pediátrica.

Esses são hospitais que atendem outras especialidades e não são focados apenas no tratamento de câncer – o que, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia de Minas Gerais, Leandro Ramos, ainda é a principal deficiência do Estado. “Se a gente pensar de forma geral, não temos um hospital que consiga agregar todas as fases, desde a prevenção até o diagnóstico, além de toda a linha de tratamento de cada uma dessas doenças específicas”, comenta o especialista.

Para habilitar unidades de saúde para o tratamento de câncer, o Ministério da Saúde possui alguns critérios que vão desde a estrutura até o quadro profissional e oferta de exames e procedimentos. Os hospitais que oferecem a maior quantidade de especialidades, terapias e cirurgias são os Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacons). Minas conta com três desses centros: dois em Belo Horizonte e um no interior.

Atendimento básico. A falta de investimentos e estrutura para o tratamento de tumores mais “comuns” na literatura médica também gera impactos no atendimento oncológico de Belo Horizonte.

Com um déficit de pelo menos 200 leitos para a oncologia pediátrica confirmado pelo secretário municipal de saúde, Fabiano Pimenta, os hospitais do Instituto Mário Penna estão na iminência de suspender algumas de suas atividades pelo atraso do repasse de verbas do governo Federal. Essa situação afeta diretamente os pacientes, que não podem esperar para dar início ao tratamento.

Segundo especialistas, há dificuldades em todas as áreas. “Faltam medicamentos, aparelhos e laboratório”, explica o oncologista Sebastião Cabral Filho. “Com certeza, se houvesse mais equipamentos e mais tecnologia, poderíamos oferecer mais tipos de tratamentos, uma vez que a maioria dos hospitais credenciados em Belo Horizonte é referência”, completa.

No que se refere aos tumores raros, Cabral Filho concorda que a falta de tecnologia e de profissionais capacitados em especificidades dificulta o atendimento. “Minas Gerais ainda tem muitos recursos e está apenas um pouco atrás de São Paulo no tratamento da doença, de maneira geral. Mas precisamos avançar em termos de pesquisa e tecnologia”, reforça.

De acordo informações da Secretaria Municipal de Saúde, a pasta vem trabalhando para ampliar o número de leitos. Desde 2009 foram criados cerca de 970.

O oncologista Cabral Filho explica que existem entre 300 e 400 tipos diferentes de câncer e que os tratamentos são diversos. “A dificuldade é encontrar tratamento adequado para cada um desses tipos de câncer. A realidade das doenças é diferente e demanda tratamentos específicos. E para isso é preciso muito estudo paralelo e laboratórios de ponta”, defende.

A Secretaria de Estado de Saúde informa que, após uma reestruturação para atender a novas exigências do Ministério da Saúde, será apresentado um plano de ação que tem como objetivo assegurar o acesso da população ao tratamento em tempo hábil. O plano também contempla uma avaliação de desempenho dos serviços já habilitados e identificação dos “vazios” assistenciais – que serão priorizados para credenciamento de novos serviços.

O Ministério da Saúde informou, por meio de nota, que desde 2010 os investimentos em oncologia cresceram quase 63% e que esse montante possibilitou a inclusão de medicamentos mais modernos aos tratamentos convencionais. Segundo o órgão, seis novos medicamentos passaram a ser oferecidos desde 2011. Eles afirmam que, além dos investimentos, há também uma série de convênios, projetos de isenção fiscal e desenvolvimento de parcerias com universidades para pesquisas sobre o câncer.

A dor do “não”

FOTO: João Godinho – 02/7/2014-
Priscila Vila Real Macedo

Priscila Vila Real Macedo, 32, foi diagnosticada com um tipo muito raro de câncer – um tumor que atinge crianças e fica no maxilar. Segundo ela, não há perspectiva de cura com os tratamentos oferecidos no país, e, por isso, ela fez uma campanha para arrecadar fundos e se tratar nos EUA, em um hospital texano que é referência em pesquisa de câncer. Priscila conseguiu cerca de R$ 100 mil, mas descobriu que esse valor pagava apenas o início do tratamento. Com a falta de outros recursos, o hospital se negou a recebê-la. Mesmo sofrendo esse revés, ela segue com seu tratamento no Brasil. E usará o dinheiro para prolongar seu tempo de vida da melhor maneira.