Em meio às queimadas que assolam o Pantanal sul-mato-grossense, voluntários mineiros trabalham dia e noite na tentativa de salvar a vida animais afetados pelo desastre. Enquanto se organizam para resgatar, alimentar e buscar um novo habitat para esses bichos, eles, que fazem parte do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (Grad), se assustam pela destruição que toma conta de um dos principais biomas do planeta.

É o que relata Enderson Barreto, de 22 anos. Estudante de veterinária e gerente de uma associação comercial de Conselheiro Lafaiete, na região metropolitana de Belo Horizonte, ele esteve nos últimos dias em uma das zonas do Pantanal mais afetadas pelas chamas, retornando a Belo Horizonte na última terça-feira (22). Porém, mesmo após ter sido voluntário em outros desastres, como o de Brumadinho, ainda se assusta com o impacto humano na natureza.

“É um pouco chocante é pensar que que montaríamos um trabalho para levar água para a maior planície contínua da terra. É assustador ver o poder de destruição do homem. Porém, ao mesmo tempo, é belíssimo ver várias pessoas se unindo para mitigar os impactos”, afirma Barreto.

Atuação

Barreto foi um dos 15 voluntários empenhados pelo Grad para auxiliar no trabalho de proteção à fauna afetada pelas queimadas no Pantanal. O grupo foi criado em 2011, após as chuvas torrenciais que atingiram a região Serrana do Rio de Janeiro, e, desde então, trabalhou para minimizar os impactos de desastres como o rompimento das barragens em Mariana, em 2015, e em Brumadinho, 2019, e até mesmo nas enchentes que atingiram Belo Horizonte no início deste ano.

Com boa parte dos voluntários sendo de Minas Gerais, mas com membros de vários outros Estados do Brasil, o Grad, que conta com os serviços de médicos veterinários, auxiliares de veterinária, biólogos e bombeiros civis, se aliou a outras organizações que atuam para mitigar os impactos da chamada fome cinzenta, que ocorre quando animais não possuem recursos para se alimentar ou se hidratar.

“Hoje, nós, do Grad, temos dez voluntários no Pantanal, mas chegamos a ter 15, uma vez que parte teve de retornar para Minas. Nosso trabalho é conter a fome cinzenta, que ocorre quando os animais não têm o que comer e beber. Atuando com outras organizações, conseguimos instalar mais de 70 pontos estratégicos, onde colocamos água e alimentação para esses animais, além de fazer alguns resgates pontuais”, explica Barreto.

De acordo com o estudante de veterinária, diferente de Brumadinho, quando tinham a facilidade de contar com o maquinário para avançar nas buscas, a atuação no Pantanal está dificultada pelo local ser ermo, de difícil acesso.

“Nosso trabalho em Brumadinho foi complexo, pelas vítimas humanas, mas tínhamos recursos por ser uma empresa privada, que disponibilizou vários materiais. O Pantanal, porém, não se tem recurso e logística. Tudo é muito distante. São mais de 150 km de estrada de terra, com mais de 140 pontes de madeira, algumas muito frágeis. Não temos sinal de telefone, a comunicação é horrível. Então, nosso trabalho é prejudicado. Felizmente, temos um comando central e estamos bem alinhados com outras ong’s”, pontua Barreta.

Graças ao trabalho desses voluntários, vários animais conseguiram sobreviver à tragédia.

“Os regastes são pontuais. Fazemos mais realocação de animais, tirando de áreas onde eles não têm alimentos e água. Mas conseguimos trabalhar bem. Os animais estão sofrendo muito, principalmente os répteis, como as iguanas, mas conseguimos salvar quatis, onças, lontras, ariranhas, entre outros”, destaca Barreto.

O Grad conta com doações para a realização de seus trabalhos voluntários. Quem desejar conhecer melhor o projeto e contribuir para sua manutenção, basta entrar na página no Instagram, onde há um link disponível na biografia do grupo que direcionará para uma página de contribuição. A doação é destinada exclusivamente para manutenção da equipe.