Mariana

Samarco faz mais promessas

Após mais de oito meses de tragédia, mineradora apresenta novas ações para evitar outros desastres

Por Aline Diniz
Publicado em 29 de julho de 2016 | 03:00
 
 
Tragédia. Rompimento da barragem de Fundão provocou o maior desastre ambiental da história do Brasil LINCON ZARBIETTI – 7.11.2015

Após mais de oito meses do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central, e ações, que conforme os órgãos responsáveis, não eliminaram os riscos de novos desastres, a mineradora Samarco apresentou novamente uma série de medidas para conter rejeitos antes e durante o período chuvoso, que começa em outubro. As ações foram propostas nessa quinta-feira (28) durante uma reunião da Câmara de Rejeitos e Segurança Ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

No momento, uma das principais preocupações do Ibama é evitar o rompimento da Hidrelétrica Risoleta Neves, conhecida como Candonga, em Santa Cruz do Escalvado, na Zona da Mata, que represou cerca de 10,8 milhões de m³ de lama, situação que não está afastada, conforme o superintendente do órgão em Minas Gerais, Marcelo Belisário. “Existe uma menor probabilidade (do rompimento de Candonga), mas temos que ter uma posição responsável e firme e colocar isso em discussão”, disse.

Para o engenheiro civil Aloysio Saliba, o desabamento é pouco provável. “A chuva pode trazer novos rejeitos e elevar o nível do reservatório. Mas, como eles estão sendo retirados, é pouco provável que a estrutura possa ceder”, avaliou.

Ações. Segundo um relatório divulgado pelo Ibama no fim de junho, desde que Fundão se rompeu, das 11 ações emergenciais feitas pelo Comitê Interfederativo, a Samarco não cumpriu sete e realizou quatro parcialmente.

Nessa quinta-feira (28), na reunião entre as partes, foram revisados os cronogramas de dragagem em Candonga, além de apresentados projetos para construção de duas barragens submersas na usina para ajudar na contenção de rejeitos. Uma delas, o barramento B – que não teve o tamanho informado – deve ficar pronto ainda neste ano, durante o período de chuvas. Já o barramento A, o maior, terá 45 metros de altura e deve ser concluído até março de 2017.

“O rejeito que chega não será carregado até o barramento, mesmo local em que se retira os resíduos atualmente”, informou Belisário. No leito do rio Gualaxo do Norte, em vez de ser construído um dique, serão construídos três até dezembro.

O superintendente do Ibama não soube precisar o atual volume dos resíduos que existe entre a barragem de Fundão e Candonga, mas a Samarco apresentou informações atualizadas. O Ibama havia informado existir cerca de 30 milhões de m³ em 102 km atingidos. (Com Débora Costa)

Operação

Teste. Superintendente do Ibama, Marcelo Belisário informou que a Samarco só irá voltar a operar em Mariana quando controlar toda a situação do vazamento e que o período chuvoso será como um teste.

BHP libera mais de US$ 1 bilhão para reparos em área atingida

Sydney (AUS). O grupo minerador anglo-australiano BHP Billiton, um dos controladores da Samarco, anunciou nessa quinta-feira (28) a disponibilização de US$ 1,1 bilhão a US$ 1,3 bilhão de dólares para assumir custos pelo rompimento da barragem de Fundão, maior desastre ambiental da história do Brasil.

O grupo informou que o valor será somado aos US$ 100 milhões concedidos para enfrentar os impactos diretos da catástrofe e será contabilizado no balanço do segundo trimestre da empresa, que será publicado no dia 16 de agosto.

A soma representa aproximadamente a metade do que o maior grupo minerador do mundo se comprometeu a pagar pelo desastre. “A constituição desta provisão demonstra nosso apoio à recuperação no longo prazo das comunidades e do meio ambiente afetados pela tragédia da Samarco”, afirmou o diretor-executivo do grupo, Andrew Mackenzie.

Saiba mais

Outras ações. A Samarco prometeu retirar os rejeitos da região do Distrito de Bento Rodrigues. Além disso, para complementar a construção do dique S4, ela fará o alteamento (levantamento) do dique S3 e a construção de uma nova barragem de Santarém.

Resposta. A mineradora negou que haja vazamento de lama. A Samarco informou que obras de drenagem e contenção de encostas foram iniciadas logo após o rompimento de Fundão, como parte de um plano emergencial para redução de impactos. Em Candonga, estão sendo retirados 1,3 milhão de m³ de rejeitos em 400 m lineares a partir da barragem. O local acumula 10,8 milhões de m³ de lama.

Multas. Após o desastre, a Samarco foi multada em R$ 291,8 milhões pelo Ibama. Só da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), as multas chegam aos R$ 68,5 milhões. Dessas, pelo menos dez penalidades de R$121,8 mil foram por sonegar dados ou informações ao órgão. O Conselho Estadual de Política de Meio Ambiente (Copam) também aplicou três multas à mineradora, totalizando R$ 99,6 mil também por sonegação de dados. A Samarco informou que recorreu das multas e que aguarda uma decisão.