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‘Sereno, mas assertivo’: conheça dom Walmor, eleito presidente da CNBB

Arcebispo terá de gerir uma instituição que tem experimentado embates internos entre alas de perfis progressista e conservador

Por Laura Maria
Publicado em 06 de maio de 2019 | 20:00
 
 
Dom Walmor foi eleito presidente da CNBB

Arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo foi eleito presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em eleição realizada nesta segunda-feira (6). Pelos próximos quatro anos, o sacerdote terá de gerir uma instituição que tem experimentado embates internos entre alas de perfis progressista e conservador. Ao mesmo tempo, trabalhar para que a Igreja Católica arrebanhe mais fiéis, especialmente jovens.

Na avaliação dos especialistas ouvidos pela reportagem, o arcebispo têm características fundamentais para enfrentar ambos os desafios. Coordenador do núcleo de estudos sociopolíticos da PUC Minas e arquidiocese de Belo Horizonte, Robson Sávio o avalia como uma pessoa “serena, mas assertiva”.

“Ele consegue ouvir pontos divergentes, ponderar sobre eles e tomar uma decisão acertada. Isso é importante para a Igreja no Brasil, especialmente nos últimos tempos, que tem sido tão atacada por todos os lados”, pontua Sávio.

A opinião é compartilhada pelo professor de teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), padre Washington. Segundo ele, o arcebispo tem bom trânsito entre as alas progressista e conservadora. “Eu diria que dom Walmor é um bom 'mineiro'. Ele consegue se manter com um posicionamento mais de centro, e isso é o que a Igreja precisa agora”, destaca. Apesar de ter nascido em Cocos, na Bahia, o arcebispo veio para Belo Horizonte em 2004, quando assumiu a arquidiocese da capital.

“Ele tem um perfil conciliador, moderado. Segue muito fielmente as tradições da Igreja ao mesmo tempo em que tem senso de justiça e de paz. É livre de preconceitos e averso a qualquer tipo de radicalismo”, completa Sávio.

Caminhos do papa

De maneiras mais comedida, mas, ao mesmo tempo firme, dom Walmor tem características que se assemelham ao papa Francisco, avalia Sávio. Apesar de ser diocesano, ao contrário do sumo pontífice, que é jesuíta, o arcebispo procura trabalhar por uma Igreja que reconheça as periferias, tanto as do sentido literal da palavra, como aquelas representadas pelas minorias, como a mulher, o negro e o gay.

“Ele é muito preocupado com o povo. Tem uma capacidade muito grande de ouvir a Igreja, que é plural e carrega visões diferentes sobre o mundo. É muito sensível. Além disso, é um grande administrador, que reeorganizou a cúria, começou um empreendimento de uma catedral em um momento difícil (a de Cristo Rei, em fase de construção prevista para chegar ao fim em 2021) e lançou um seminário com conceito novo, que é a comunidade de Emaús”, pondera Sávio.

Dessa forma, na avaliação de padre Washington, ele conseguirá atrair mais fiéis para a instituição católica. “Os jovens, cada vez mais, têm voltado para a Igreja atraídos pelas atitudes e discursos do papa Francisco. Voltei recentemente da Europa e percebi isso. Dom Walmor também age no mesmo sentido de ideais do pontífice”, argumentou o professor de teologia.

Bom trânsito na CNBB

O arcebispo de Belo Horizonte, apesar de ocupar agora o mais alto cargo da CNBB, já passou pela instituição em 2004, quando coordenou a Comissão Episcopal da Doutrina da Fé. “Isso fez com que ele tivesse um bom trânsito junto ao episcopado. Além disso, na mesma época, foi eleito presidente do regional Leste 2 da CNBB, que abrange os estados do Espírito Santo e Minas Gerais. É uma pessoa muito experiente, considerada um referencial para a Igreja Católica”, avalia Sávio.

“A boa capacidade de gestão dele aqui fez com que pudesse mostrar um trabalho que pode ser aproveitado nacionalmente”, observa padre Whashigonton.

Conheça mais sobre dom Walmor

Walmor Oliveira de Azevedo nasceu no dia 26 de abril de 1954, em Côcos, Bahia. Ele é o primeiro baiano eleito presidente da CNBB. Dom Walmor é doutor em teologia bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (Itália) e mestre em ciências bíblicas pelo Pontíficio Instituto Bíblico, também na capital italiana.

Nascido em 26 de abril de 1954, dom Walmor é natural de Côcos (BA). É o primeiro baiano a estar à frente da CNBB. O novo presidente da Conferência é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico (Roma, Itália).

A relação com Minas Gerais começou em 1972, quando cursou filosofia no Seminário Arquidiocesano Santo Antônio, em Juiz de Fora, na Zona da Mata.  Posteriormente, na Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, em São João Del-Rei. Entre 1974 e 1977, de volta a Juiz de Fora, cursou teologia. 

Dom Walmor foi ordenado sacerdote em setembro de 1977. Entre 1986 e 1995, foi pároco da paróquia Nossa Senhora da Conceição de Benfica e, entre 1996 e 1998, da paróquia do Bom Pastor. 

No campo acadêmico, foi professor da PUC-Minas entre 1986 e 1990. Foi professor no mestrado em teologia da PUC-Rio em 1992, 1994 e 1995).