Pressão da Covid-19

Situação é caótica em unidades de saúde de BH, relatam usuários e servidores

Conselho fala em colapso e diz que profissionais estão desesperados e trabalhando de forma improvisada: prefeitura cita medidas adotadas para atender ao aumento da demanda por causa da pandemia

Por Rômulo Almeida
Publicado em 25 de março de 2021 | 15:30
 
 
WhatsApp Image 2021-03-25 at 141758jpeg Foto: Alex de Jesus/O Tempo

Relatos de usuários e profissionais do sistema público de saúde de Belo Horizonte mostram que os sinais de colapso aumentam a cada hora na capital. O Conselho Municipal de Saúde de BH diz que os servidores estão "desesperados" e estão trabalhando de forma improvisada. 

A situação é caótica principalmente nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), onde pacientes com sintomas respiratórios se misturam com os demais, em condições precárias de atendimento e sem tomar banho, segundo depoimento de acompanhantes. 

Na UPA do Barreiro, os pacientes recebem oxigênio e medicação intravenosa sentados em uma cadeira, aglomerados em uma pequena ala da unidade, sem qualquer tipo de distanciamento. Pacientes, com sintomas respiratórios ou não, se misturam com o fluxo de acompanhantes e do público em geral. O mesmo ambiente é compartilhado por pessoas de diversas idades, incluindo idosos, que fazem parte do grupo de risco da Covid-19.

Sobre a UPA do Barreiro, a Prefeitura de Belo Horizonte disse que instalou uma tenda na unidade para separar os pacientes com sintomas respiratórios dos demais. O Executivo municipal disse, em nota, que o banho é garantido aos pacientes e que vai instalar nos próximos dias mais um chuveiro na unidade. 

Depoimentos.

A reportagem esteve na UPA do Barreiro na manhã desta quinta-feira (25) e conversou com familiares de pacientes que buscam por atendimento. Andressa Elisa de Souza está acompanhando o pai, 52, o tio, 38, e a tia, 60, com sintomas respiratórios na unidade. "Tem vários pacientes sentados na cadeira, sem nenhuma estrutura, profissionais esgotados, não tem recurso, a UPA sempre fica cheia. Eles não estão tomando banho, está um caos", diz.

A falta de informação aumenta a angústia dos parentes e dos próprios doentes. "Eles botaram um papel informando para o familiar ir embora e eles irem informando a gente. Mas eles não estão nem conseguindo medicar na hora certa, nem dar almoço na hora certa. Como eles vão conseguir ligar para todo mundo que está aqui?", reclama Andressa.

A cunhada de Andressa, Maíra de Mendonça Herzog, também viu de perto o atendimento na UPA barreiro e reclama. "É uma situação precária, uma coisa medonha. A prioridade é quem está com queda de saturação, mas as pessoas já estão com diagnostico de pneumonia, com o raio X em mãos, já fazendo a medicação, ou seja, estão em internação, sentados, com risco de trombose", diz. 

Leia o depoimento do fotógrafo de O Tempo, Alex de Jesus, que foi a UPAs de Belo Horizonte nesta quinta-feira:

"Não quero esquecer nunca o que está acontecendo. Isso se tornará história, e, para mim, as imagens são mais poderosas que as palavras. É desumano ver e registrar cenas como essas, que antes podiam ser vistas apenas nos corredores e, agora, também tem pacientes por todas partes das UPAs. Até mesmo do lado de fora, deitadas no bancos ou até mesmo em colchões improvisados.

Pacientes com suspeitas da covid, juntos com outros que ainda não tiveram resultado, familiares desesperados por um atendimento ao seu ente. E a chegada da imprensa parece um alívio para eles, uma forma de expor, colocar para fora tudo que vem se passando no sistema"

Conselho de Saúde fala em "colapso".

O Conselho Municipal de Saúde de BH (CMS-BH) emitiu comunicado nesta quinta-feira sobre a realidade enfrentada pelos funcionários da saúde na capital e defendendo medidas mais rígidas. A entidade fala em "colapso" no SUS-BH.

"Desde o último sábado (20), há fila de espera se formando para leitos de UTI em BH. Ontem, quarta-feira (24), 190 pessoas aguardavam uma vaga de CTI em BH (no total, eram 471 leitos disponíveis, com 97,7% de ocupação – apenas 1 leito vago). Na última semana, o Samu bateu recorde histórico de atendimentos (1054 em 7 dias – o recorde anterior era 740 atendimentos/sem, em julho de 2020). Na atual situação, as UPAs viraram CTIs improvisados e precários; salas de cirurgia, banheiros tornaram-se  salas de emergência lotadas e improvisadas para atender a uma demanda crescente", diz o texto.

Em nota, o CMS-BH disse que os profissionais da saúde relatam exaustão e falta de condições de trabalho. "Neste cenário de guerra trabalhadores das UPAs têm enviado depoimentos desesperados: 'não temos mais pontos de 02 (oxigênio) disponíveis para oxigênio', 'não tem respirador agora e cinco pacientes vão evoluíram para intubação', 'apocalipse', 'estou desesperada', 'choramos à tarde inteira depois que a paciente morreu'.

O secretário do CMS-BH e médico Bruno Pedralva diz que as UPAs não estão dando conta da demanda. "Em uma sala que cabem quatro pessoas, tinham seis, três intubados. Enfermarias praticamente viraram emergência, tinha duas pacientes com indicação de intubação que estavam fora da sala de emergência, e eles ainda não tinham intubado porque não tinha ventilador mecânico As pessoas estão morrendo nas UPAs de Belo Horizonte, os trabalhadores estão desesperados", relata. 

Resposta da prefeitura de BH.

A administração do município informou que a demanda por atendimento nas UPAs cresceu nos últimos dias e tem adotado medidas para dar assistência aos pacientes.

"Na última segunda-feira (22), a prefeitura anunciou novas medidas para ampliar e agilizar a assistência, como a abertura unidades de atendimento 24h não-Covid que irão apoiar as UPAs, atendendo a pacientes que não estejam com sintomas respiratórios, com quadros de média e baixa complexidade. Também foi aberto o Cecovid-19 Norte, em funcionamento desde sábado, dia 20, na UPA Norte, todos os dias, 24 horas. Conta com oito leitos de observação, uma unidade de decisão clínica e 10 leitos de emergência", diz a PBH, em nota.