Uma tradição de mais de 300 anos está ameaçada na localidade rural do Socorro, onde nasceu Barão de Cocais, na região Central de Minas, por conta do risco de rompimento da barragem Sul Superior da Mineradora Vale.
A festa da padroeira Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro pode não acontecer onde sempre aconteceu em Barão de Cocais, em agosto. Isso porque os moradores foram obrigados a abandonar suas casas há três meses, desde que o nível de alerta da barragem foi elevado a 3, deixando Socorro como um "lugarejo fantasma ".
Nesta semana, os moradores, que estão vivendo espalhados em hotéis de Barão de Cocais e de Santa Bárbara, procuraram o diácono da Igreja Matriz São João Batista, em Barão de Cocais, pedindo que a festividade deles seja nesse santuário.
A Igreja Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro, na localidade rural, é de 1737 e remete ao primeiro ciclo do ouro, com a chegada dos primeiros bandeirantes na região. Imagens de santos, entre elas a da padroeira, estão guardadas em caixotes, no alto do coro da matriz de Barão de Cocais.
A medida, tomada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e artístico Nacional (Iphan), é para proteção do acervo tombado, caso a barragem venha realmente a se romper.
"O povo do Socorro está muito triste, muito doente, sem alegria até para fazer as suas festas de aniversário, batizado, casamento. Nada está acontecendo. As crianças não estão tendo aquela alegria de ser criança. Estão preocupadas", lamenta o diácono José Apolinário.
De acordo com o religioso, a igreja do Socorro é a mais antiga do município. "O povo de lá tem muita fé na padroeira. Agora, a igreja está praticamente abandonada, porque ninguém mais pode ir lá. Está fechada. Com certeza, tem danos acontecendo, como mofo e outras coisas", acredita o religioso.
E acrescenta: "Que a festa deles seja celebrada aqui em Barão de Cocais, pelo menos para que não percam essa tradição e essa fé que eles têm. A festa é importante para reunir esse povo que está disperso. Uns estão aqui, outros em Santa Bárbara, uns num hotel, outros em outro. Então, para reunir esse povo nesse tempo de festa da padroeira, pelo menos para voltarem a rir, conversar. Lá, em Socorro, eles se encontram a toda hora, e agora é assim", disse Apolinário, lembrando que as pessoas estão tendo depressão, vivendo presas em quartos de hotel.