Exemplo de vida

Trilhas da vida de dona Geralda

Aos 75 anos, aposentada coleciona quase 80 medalhas conquistadas em provas de corrida e maratonas de que participou

Por Bruno Inácio
Publicado em 03 de julho de 2017 | 20:47
 
 
Dona Geralda vai a pé até Aparecida (SP) neste mês; há sete anos, ela participa de grupo de caminhada com fé e disposição Foto: Denilton Dias

Ela levanta-se cedo, caminha todos os dias, usa a escada como uma companheira e colhe na saúde os benefícios de escolhas certas para ocupar o tempo. Aos 75 anos, a aposentada Geralda Menezes, moradora do bairro Caiçara, na região Noroeste de Belo Horizonte, coleciona medalhas de competições de corrida e prepara-se para mais uma maratona. Em julho, a mineira de Dores do Indaiá, no Centro-Oeste do Estado, vai a pé de Córrego Fundo, na mesma região, até Aparecida, no interior de São Paulo.

As quase 80 medalhas exibidas na sala de casa não contam nem metade das histórias de dona Geralda. “Acaba que, nessas trilhas, a gente viaja muito, conhece muita gente, muitos lugares. São vários grupos, de caminhada, corrida e trilha, onde sou bem recebida”, comenta a aposentada, que, a fim de participar de provas, esteve em várias cidades dentro e fora do país.

“Comecei como uma espécie de curiosidade. Fui fazer uma corrida de São Silvestre convidada por uma colega que caminhava na Pampulha, mas pensei: ‘Eu nem corro. O que vou fazer lá?’. Aí veio o Vanderley, da Casa do Corredor, e me incentivou. Eu fui com a cara e a coragem. Cheguei lá e corri 7 km e, depois, caminhei o resto. Agora, já tem quatro anos que eu corro a São Silvestre. Sem caminhar”, conta.

Entre as cidades onde dona Geralda já fez trilhas e participou de provas estão São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Lima, no Peru, e Ouro Preto, Raposos, São Tomé das Letras e Catas Altas, em Minas. Na última meia maratona da Pampulha, no início do mês, ela correu os 21 km de prova em três horas e vinte e oito minutos. “Não se preocupa, não. Eu chego. Posso ser a última a chegar, mas eu chego. Inteira”, brinca.

Independente

Viúva e mãe de três filhas, dona Geralda vive sozinha em um apartamento. Lá, faz questão de ser bem independente. Por isso, evita “incomodar” as filhas. “Quando a gente chega à idade em que estou, a gente tem algo que os jovens não têm: tempo. Eu sempre aproveito meu tempo. Levanto, arrumo minha casa, caminho, faço as compras. Não tem essa de ficar ligando para as filhas me levarem ao supermercado, não”, afirma.

No Carnaval, dona Geralda aproveitou a folia nos mais badalados blocos de BH. “Desci cedo e fui para o Então, Brilha!. Me colocaram até dentro do cordão. Também fui para o Baianas Ozadas”, conta. “Espero que alguém que esteja lendo comece. Nunca é tarde para começar. Comece aos poucos, a gente começa engatinhando”, encoraja.


Promessa paga há sete anos

A primeira viagem de dona Geralda a pé para Aparecida (SP) ocorreu em 2011, mas a ideia era antiga. Há 13 anos, uma das filhas dela teve uma gravidez de risco e ficou em coma. “Pedi para Nossa Senhora que ficasse com ela e que pedisse a Jesus, o médico dos médicos, que guiasse os médicos para salvar minha filha. E, após seis meses de luta, ela se recuperou. E eu falei com Nossa Senhora: ‘vou a pé até sua casa maior, em Aparecida’”, conta.

Antes, dona Geralda tentou caminhar sozinha pela BR–381, mas sofreu muito com feridas e o cansaço. Isso acabou fazendo com que ela desistisse em Itatiaiuçu, na região Central de Minas. “Após um tempo, conheci o pessoal de Córrego Fundo, que me convidou para participar da romaria”, relatou. (BI)


Mais de 400 km de fé e devoção

FOTO: Arquivo Pessoal
Dona Geralda se prepara com treinos diários para a 16ª romaria até Aparecida (SP)

Dona Geralda vai participar, no próximo dia 15 de julho, da 16ª Romaria de Córrego Fundo, no Centro-Oeste do Estado, até o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo. Durante 12 dias, dezenas de fiéis caminham os mais de 400 km que separam as duas cidades, em trilhas e estradas de terra e asfalto.

Além da fé e da devoção, o grupo é movido pela caridade de quem oferece comida e local para o pernoite dos caminhantes. “É um ato de muita religiosidade, integração, companheirismo. A gente vive uma experiência rica, o que é de um é de todos. A gente trabalha a paciência, ajuda e também é ajudado. Se conhece melhor dentro de nossas limitações”, explica Wellington da Cunha, um dos organizadores da romaria.

O grupo é composto por pessoas de diversas idades, desde crianças a idosos, e se hospeda em escolas e igrejas. “Se você não tem fé, não consegue, porque é duro; os lugares em que a gente passa são de distância longa, alguns lugares muito frios. Precisamos nos levantar de madrugada, mas é um ambiente de muita oração”, diz dona Geralda, que é considerada uma das mais animadas do grupo e participa da caminhada há sete anos.

Quem quiser fazer parte da romaria pode entrar em contato com Wellington pelo telefone (37) 99967-2234. (BI)


Dicas de dona Geralda

» “Nada de ficar na frente da televisão. A gente tem que fazer algum exercício, sempre. O importante é começar. Melhora o humor e evita remédios.”

» “Quando deito, é para dormir. Não fico pensando na vida. Durmo logo para estar forte no outro dia.”

» “Eu tomo muita água. Você tem que se hidratar.”

» “Quando caminho uns 5 km, eu sempre levo um doce comigo. Costumo levar rapadura.”

» “Não fico mais de duas horas sem me alimentar.”

» “Adoro uma escada. Fortalece as pernas. Subo no shopping, no prédio. Isso evita que eu sinta canseira.”

» “Faço massagens antes de sair e quando chego.”