Barragem de Fundão

Vale anuncia fundo voluntário para recuperação do rio Doce

A Vale também tentou se esquivar da responsabilidade sobre o rompimento da barragem e classificou a Samarco como concorrente.

Por Fernanda Viegas e Danilo Emerich
Publicado em 27 de novembro de 2015 | 14:12
 
 
Lama no Rio Doce Lincon Zarbietti / O Tempo

A Vale, acionista da Samarco, responsável pela barragem que rompeu em Mariana, na região Central de Minas Gerais, em 5 de novembro, anunciou nesta sexta-feira (27) que criará um fundo voluntário para a recuperação do rio Doce. O curso d'água foi duramente atingido pelos rejeitos de minério, que escoaram desde o local do acidente até a foz do rio, no Espírito Santo.

O anúncio foi realizado pelo diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira, em entrevista coletiva. Além do anúncio do fundo, que também terá a participação da anglo-austrialiana BHP, A Vale tentou se esquivar da responsabilidade sobre o rompimento da barragem e classificou a Samarco como concorrente.

Murilo Ferreira não adiantou qual será o valor do fundo voluntário. “As empresas que quiserem participar serão bem-vindas. Não será modelo imposto e a Vale terá participação especial neste trabalho coletivo para recuperação do rio Doce. É possível a recuperação”, disse.

O diretor-presidente ainda afirmou que a Vale não deixou de ser sustentável e com o fundo é em prol da sustentabilidade. “Estamos aqui trazendo certeza para os investidores, que vamos saber reagir. A empresa afirma que já está conversando com entidades públicas e particulares. O fundo vai ter uma gestora e um conselho”, pontou.

"A floresta nacional de Carajás é a única preservada, com área quatro vezes o município do Rio de Janeiro, preservada pela Vale. O rio Doce vai ser transformado em um modelo de como se cuida de um rio no país esse é o compromisso da Vale", afirmou um dos diretores da empresa presentes na coletiva.

Responsabilidades

Sobre a questão de ajuda dos atingidos pela barragem e a responsabilidade sobre o rompimento, Murilo Ferreira afirmou que não pode tomar ações que são de competência da Samarco. “Em uma situação dessa, nós entramos em um buraco de governança, porque temos as coisas bem estabelecidas do que se pode ou não fazer”, disse.

O entendimento dos diretores da Vale é de que a empresa não tem responsabilidade sobre a tragédia. O consultor-geral Clóvis Torres complementa que a Vale e a BHP podem ser acionadas. “Samarco é uma empresa grande. Ela tem recursos para arcar com problemas em suas operações”, falou o consultor-geral Clóvis Torres.

“Nesses quatro anos, eu nunca fui ao escritório da Samarco em Belo Horizonte. Eu nunca fui a uma operação da Samarco, em Mariana. Eu não conheço a pelotizadora no Espírito Santo", afirmou Ferreira, presidente da Vale.

Segundo ele, é muito clara o papel dos acionistas, como podem ou não intervir. "Quando dizemos que não temos uma interferência direta na Samarco, não temos porque não podemos", garantiu. As multas são altas, conforme ele.

"Nós temos uma distanciação da administração da Samarco, mas toda nossa equipe ficou mobilizada e consternada. Ninguém desejava e nem esperava um episódio desse. Nós temos 73 anos de história e nunca tivemos um rompimento de barragem", explica a diretora-executiva Vânia Somavilla.

Rejeitos em Fundão

Sobre a Vale ter lançado parte de rejeitos da barragem de Fundão, que se rompeu em Mariana, o diretor-executivo da Vale, Peter Poppinga defendeu a empresa. “A Vale lançou entre 4% e 5% de rejeitos na barragem de Fundão. Para isso, a Samarco definiu um local fixo onde a Vale poderia fazer este deposito, e a Vale pagou por isso. É a Samarco que direciona o fluxo do rejeito”, disse.

Ele completou ainda afirmando que a Vale tem a licença do rejeitoduto e que tem a licença da incorporação do rejeito na barragem é a Samarco. “A Vale tem 168 barragens e em 73 anos de operação nunca teve nenhum rompimento ou acidente. Todas estão em conformidade com a legislação vigente. A investigação está em curso e não temos informações sobre as causas (do acidente na barragem de Fundão)”, disse Poppinga.

Segurança de barragens

Durante a reunião, diretores da Samarco enfatizaram que a empresa segue as práticas de segurança seguidas em leis, “mas sempre pode melhorar”, segundo um dos executivos da Vale. Conversas entre as empresas vai buscar melhorar essas ações. “Não existe nenhum caso de negligência”, garante a Vale, que anunciou que as duas outras barragens da Samarco que não se romperam em Mariana estão passando por reforço e Vale dá apoio neste trabalho.

“Nós podem afirmar que a situação é de estabilidade naquela região", afirmou o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores, Luciano Siani. “Os investimentos em barragens na Vale não foram reduzidos nos últimos anos, garantem os diretores da empresa. Principalmente nos pontos de segurança e saúde”, completou.

Reforço

A Vale garante que fez uma avaliação extraordinária em suas barragens, após a tragédia em Mariana, e reviu planejamentos de segurança. Sobre a legislação, diretores garantem que a Vale cumpre todas da área. “A Vale tem auditoria externa que valida as laudas e garante a estabilidade das barragens. Manutenções são contínuas. Há planos de ações emergenciais para cada barragem, que é única, por ter particularidades”, afirmaram.

A Vale tem um plano para reduzir plano de produção de rejeito, para diminuir a construção de barragens, como consequência, segundo afirma diretor de planejamento de ferrosos. Uma saída é a conversão de rejeitos em pasta.

Contaminação

Sobre a contaminação do Rio Doce, Vania Somavilla disse que a lama pode ter recolhido material em seu caminho e levando materiais, como chumbo, mercúrio. “A boa notícia é de que esses metais não se dissolveram na água, não alterou o PH da água, conforme laudo oficial do Igam”, disse e completou que mercúrio não foi encontrado em nenhum ponto analisado do rio.

Dinheiro

Sobre o sumiço do dinheiro nas contas da Samarco, a Vale afirmou que “a empresa não esconde dinheiro. Ontem, R$ 500 milhões foram trazidos do exterior. Não tem que se falar de nenhum tipo de má fé da empresa. Samarco continuará em sua tentativa de desbloquear os recursos”, garantiu.