Mortes

Violência contra adolescentes cresce em BH e supera RJ e SP 

Capital mineira é a oitava mais perigosa do país para jovens, com taxa de 4,12 homicídios por mil habitantes

Por Luciene Câmara
Publicado em 23 de fevereiro de 2015 | 03:00
 
 
Exemplo. Mãe de jovem assassinado na região da Pampulha acredita que ele foi vítima de queima de arquivo MOISES SILVA / O Tempo

Faltava um mês para Felipe*fazer 19 anos, quando ele foi assassinado em abril de 2014, no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha, em Belo Horizonte. Apaixonado por automóveis, ele não chegou sequer a realizar o seu sonho, que era comprar um carro. Foi morto com 30 tiros no meio da rua, por volta das 18h. O caso dele é apenas um retrato da violência que tem matado milhares de jovens no Brasil. Na capital mineira, a cada grupo de mil adolescentes, ao menos quatro morrem antes de completar 19 anos.

A taxa aqui é de 4,12 assassinatos por mil habitantes (de 12 a 18 anos), o dobro da registrada na cidade do Rio de Janeiro (2,06). A marca é de 1,69 em São Paulo e 3,32 na média nacional. Os dados são do Índice de Homicídios na Adolescência: IHA 2012, divulgado neste ano pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH), em parceria com o Observatório de Favelas e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No estudo, Belo Horizonte aparece como a oitava capital mais violenta para os jovens.

O mais preocupante, segundo a coordenadora do Programa de Redução da Violência Letal da SDH, Raquel Willadino, é que os números estão aumentando. De 2010 a 2012, a taxa de homicídios cresceu 40% na capital – de 2,94 para 4,12. “Se esse índice se mantiver, a estimativa é que cerca de mil jovens de 12 a 18 anos morram assassinados até 2019 em Belo Horizonte”, alerta Raquel.

Felipe foi apenas uma das vítimas por trás dessas estatísticas. Só em 2014, foram 298 homicídios de pessoas até 25 anos, o que representa cerca de 50% do total, de acordo com o chefe do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Wagner Pinto de Souza. Dos 298 casos, 147 (49,3%) fizeram vítimas com 16 a 20 anos.

É nessa idade que as pessoas têm mais chance de se envolver em briga em bares, festas etc, diz o cientista político Guaracy Mingardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “As condições sociais também interferem muito nesses resultados. Onde há aglomeração de pessoas e falta de emprego e estudo, o risco é sempre maior. E nesse contexto, a droga – ingrediente de peso – também afeta mais os jovens”.

No caso de Felipe, a mãe do jovem diz que ele não era criminoso, mas se envolveu com pessoas erradas. “Os jovens são seduzidos pela ilusão de ter carro, roupas de marca etc. Meu filho acabou descobrindo alguma coisa errada e foi morto por queima de arquivo”.

A morte violenta que ele teve também é observada em muitos casos. O IHA 2012 revela que a chance de um adolescente ser assassinado por arma de fogo é 4,67 vezes maior em relação a outros meios. O delegado Wagner Pinto diz que 90% dos homicídios da capital são praticados com arma de fogo. “É fuzil, submetralhadora, ninguém usa mais revólver. As execuções são todas com ferimentos múltiplos, 10, 15, 20 tiros, como forma de marcar poder e território”.

Os homens também correm risco 12 vezes maior do que as mulheres, assim como os negros, que têm três vezes mais chance de serem assassinados do que os brancos. “A morte de jovens negros vem se repetindo e se intensificando, o que mostra uma hierarquização da cidadania e do valor da vida, que gera práticas que vão desde da indiferença até o extermínio”, conclui Raquel Willadino.

* Nome fictício