CIDADES

Vitalidade e lucidez aos 100 anos

Redação O Tempo

Por PATRICIA GIUDICE
Publicado em 08 de julho de 2007 | 23:46
 
 
RODRIGO CLEMENTE / O TEMPO

Nos últimos cem anos, o mundo passou por várias transformações. A energia elétrica substituiu as lamparinas. O cavalo perdeu sua importância como meio de transporte, dando lugar a carros, ônibus, metrô e aviões. A canetatinteiro acabou e o computador surgiu. E dona Geralda Pires do Couto, 100, viu todas essas mudanças de perto.

Muito graciosa e particularmente moderna, ela completou um século de vida no último dia 2. A festa, merecida, aconteceu no último sábado. Parentes e amigos da época de Nova Lima, onde nasceu, se reuniram para festejar toda sua vitalidade. Dona Geralda recebeu a reportagem ontem na casa de uma de suas netas, no bairro Funcionários, região Centro-Sul de Belo Horizonte.

A família é pequena e estava toda presente (uma filha e duas netas), com exceção do bisneto Lucas, 8. Entre risadas e com muita simpatia, ela disse que chegou até essa idade porque Deus quis e relembrou "causos" da antiga Nova Lima, cidade da região metropolitana.

"No meu tempo de menina, lá não tinha calçamento nem luz. A gente tinha que usar lampião ou velas para iluminar. Na cozinha tinha uma lamparina", contou a filha caçula de uma família de sete irmãos, quatro homens e três mulheres. Seu pai era dono de uma fábrica de calçados, tudo feito à mão. Além do trabalho que sustentava os filhos e a mulher, seu pai tocava um piano de calda que existe até hoje e, segundo dona Geralda, está na casa de parentes.

Doces

Ela lembra o hábito que tinha de comer doces e as netas brincam que esse deve ser o segredo para viver tanto tempo. "A gente comia doce todo dia, mas eu acho que foi um erro. Doce faz mal. Mas tinha doce todo dia mesmo", disse. Questionada sobre qual guloseima ela mais gosta, a senhora acha graça: "Eram tantos que eu nem tinha preferência. Gostava do doce de figo, cidra, arroz doce, de leite. Minha mãe fazia um tanto, eu e meus irmãos comíamos de lambuzar."

A MG-030, que hoje liga a capital à cidade natal de Geralda, não existia. Para fazer compras em Belo Horizonte, a viagem era mais longa. "Eu tinha que ir de trem até Raposos para depois pegar outro e chegar à capital. Eu gostava muito de ir à drogaria Araújo que, naquela época, só existia na praça da rodoviária", disse.

Viúva, ela agradece a Deus pela saúde da filha Maria da Graça Couto Martins, 69, que diz ser a coisa mais preciosa de sua vida. Na festa de aniversário, Geralda fez questão de retribuir um pouco de tudo que recebeu nesses cem anos. E pediu aos convidados para, ao invés de levar um presente, contribuir com uma quantia em dinheiro para ajudar o Projeto Providência. Há 15 anos a entidade promove ações de cidadania a mais de 3.000 crianças e adolescentes carentes da capital. Foram arrecadados R$ 2.620.