A seleção de Marrocos se tornou o xodó desta Copa do Catar. Seja pelo ineditismo, pelo brilhantismo de ter derrotado outras equipes de maior tradição ou pelo simples fato de ‘Davi’ triunfar sobre ‘Golias’ em duas partidas (contra Espanha e Portugal), fato é que, ao menos em Belo Horizonte, os marroquinos ganharam um reforço na torcida para o jogo diante da França, nesta quarta-feira (14), às 16h, no estádio Al Bayt.
“Passei pelo Mercado Central e já conquistei muitos brasileiros que me falaram que estão torcendo por Marrocos. Mas o jogo não vai ser fácil: o Hakimi e o Mbappé se conhecem do futebol francês, mas será um jogo bem complicado”, prevê o sheik Mokhtar Elkhal, marroquino, que há 28 anos mora na capital mineira.
Líder religioso do Centro Islâmico de Minas Gerais, o teólogo desembarcou em BH por “obra do destino” como ele mesmo conta. E a hospitalidade, a simplicidade e o carinho do povo mineiro fizeram com que ele nunca mais saísse do Estado. A paixão pelo futebol vem desde jovem, quando durante a “pelada”, Mokhtar e os amigos usavam nomes de craques brasileiros da Copa de 70, como Jairzinho, Tostão e Pelé na brincadeira em campo.
“A gente vai vingar o Brasil pela Copa de 98”, promete ele, afirmando que também sofreu com aquela derrota em plena final para a França. “No último jogo de Marrocos a pressão foi a 18 por 10, mas vou tentar me controlar desta vez”, almeja o marroquino, que também é torcedor do Raja Casablanca - que eliminou o Atlético em 2013 do Mundial de Clubes.
Primeira seleção africana na Semifinal da Copa
O feito de Marrocos não é pequeno. A seleção é a primeira da África a uma semifinal de Copa do Mundo em toda a história. Sem nenhum favoritismo no Catar, a equipe também conquistou a proeza de derrotar dois “colonizaradores”: Espanha e Portugal, e perto de vencer um terceiro, a França. O próprio técnico Walid Regragui já deu o tom da euforia: “Somos o Rocky Balboa dessa competição, pelo nosso espírito”.
Na última coletiva antes da grande partida de logo mais, mais otimismo do treinador marroquino: “Estamos confiantes, queremos reescrever os livros de historia e colocar a África no topo do mundo. Não somos os favoritos, pode me chamar de louco, tudo bem, mas um pouco de loucura é bom”, disse Regragui.
Festa pelo mundo
Marroquinos lotaram as ruas de cidades europeias, como Amsterdã, Londres, Paris, Turin e Barcelona, além de várias cidades marroquinas, como Rabat, capital do Marrocos, e Casablanca e Marrakech. Imagens de torcedores na Faixa de Gaza, território palestino, também circularam nas redes sociais, principalmente após a vitória diante de Portugal, por 1 a 0, nas quartas de final.
Scenes in Marrakesh as Morocco 🇲🇦 made #FIFAWorldCup history.
Dima Maghrib.
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Orgulho do mundo árabe
A eficiência da seleção marroquina nos contra-ataques, a boa tática defensiva elaborada pelo técnico Walid Regragui e a paciência para saber o momento certo de concluir as jogadas também têm encantado quem admira a cultura do país africano. Antonio Abrahão é descendente de sírios, mas reforça que toda a comunidade árabe está com Marrocos.
“A gente tem esse gostinho de estar sendo representado na Copa. E os mineiros também são muito próximos dos árabes, porque partilhamos de muitos valores em comum, como o cuidado com a família e com os mais velhos, a atenção para as crianças. Estamos todos na torcida”, garante o também proprietário do Casa do Abrahão, restaurante de comida árabe em Brumadinho, na região metropolitana de BH.
Nem mesmo o Emir do Catar escondeu a felicidade por Marrocos ter avançado na Copa. Veja a comemoração:
فرحة حضرة صاحب السمو أمير البلاد المفدى بفوز المنتخب المغربي #قطر_قروب | #المغرب_البرتغال |#قطر2022 | #FIFAWorldCup | #Qatar2022 pic.twitter.com/nLjDqqV9KD
— شبكة قطر قروب (@QATARNG) December 10, 2022Esta é a sexta participação marroquina em Copa do Mundo (1970, 1986, 1994, 1998, 2018 e 2022). Até então, a melhor campanha da equipe havia sido em 1986, na Argentina, quando o país chegou às oitavas de final do torneio. Nas outras edições, não passou da primeira fase.
Você sabia?
O maior artilheiro da França em Copas do Mundo é de origem marroquina. Just Fontaine nasceu em Marrocos, quando o país ainda era colonizado pelos franceses. O atacante disputou somente a edição de 1958, na Suécia, mas balançou as redes em todos os jogos. Marcou 13 gols ao todo. Marrocos só deixou de ser um protetorado francês em 1956. Fontaine, ídolo em Casablanca, já jogava na França 3 anos antes.
Maiores artilheiros em Copas
- 1 Miroslav Klose 16 (24 jogos) - Alemanha
- 2 Ronaldo 15 (19 jogos) - Brasil
- 3 Gerd Müller 14 (13 jogos) - Alemanha
- 4 Just Fontaine 13 (6 jogos) - França
- 5 Pelé 12 (14 jogos) - Brasil