As consultas médicas virtuais têm sido uma alternativa para profissionais e pacientes durante a pandemia de coronavírus. Conhecida como telemedicina, a prática foi regulamentada pelo Ministério da Saúde em março e, desde então, o formato vem ganhando adeptos. Nesse cenário, Minas Gerais já aparece como terceiro Estado com maior número de consultas no Brasil, atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
A estimativa é da empresa iMedicina, de Belo Horizonte, que em abril lançou uma ferramenta para que as consultas possam ser realizadas de forma remota. A plataforma, que já atende médicos em 22 Estados e no Distrito Federal, concentra entre 15% a 20% dos atendimentos somente em território mineiro. “Se a gente analisa o país inteiro, a região Sudeste é a que tradicionalmente é mais aberta à tecnologia na medicina, e isso é muito bom. É um reflexo da concorrência na região”, explica Caroline Paiva, coordenadora de operação do iMedicina.
Apesar de não divulgar o número total de atendimentos no Brasil, ela destaca que atualmente 10 mil profissionais de saúde já estão cadastrados na plataforma. No caso de Minas, as especialidades mais procuradas, segundo Caroline, são a pediatria, a psiquiatria e a clínica geral. “Em Belo Horizonte, a incidência maior é de pessoas em pediatria, endocrinologia, dermatologia e clínica geral, que são especialidades onde há um atendimento de rotina mais frequente”, explicou.
A busca maior pela pediatria é justificada, segundo ela, pelo fato de as crianças estarem mais tempo em casa durante o período de isolamento social, o que aumenta as dúvidas dos pais. “Psiquiatria e psicologia são duas áreas em que, infelizmente, a gente teve um crescimento devido aos transtornos causados pela própria pandemia. E na clínica geral se consegue pegar uma gama maior de atendimentos de pacientes que têm dúvidas e não necessariamente precisava de um atendimento de urgência”, pontua.
A meta é de chegar a 50 mil profissionais cadastrados na plataforma nos próximos dois meses. “A classe médica tem percebido, mesmo aqueles que tinham uma certa resistência, que esse atendimento, mais do que nunca, é um aliado. Há muitos benefícios na utilização do formato para barrar o avanço da doença e permitir que atendimentos de rotina continuem, além de apoiar os pacientes que estão precisando de assistência médica neste momento”.
Os atendimentos no iMedicina podem ser feitos via plano de saúde ou por consulta particular. No entanto, é o médico o responsável por incluir o paciente no formato – ou seja, uma pessoa não pode simplesmente acessar a plataforma e agendar uma consulta online, sendo necessário que ela já seja paciente de um profissional de saúde que aderir à ferramenta ou seja incluída no sistema.
Depressão e transtornos de ansiedade
O psiquiatra Conrado Pires, que atende em São João Del Rei, na Zona da Mata, diz que tem mantido 15% da média de atendimentos que costumava fazer antes do início da pandemia. A maioria dos casos que ele vem atendendo, durante o período de isolamento social, é de pessoas com transtornos de ansiedade e depressão. No entanto, ele explica que essas doenças, por enquanto, ainda não têm ligação com os impactos psicológicos causados pela pandemia, sendo, portanto, questões já pré-existentes antes do isolamento.
“O que eu imagino é que agora, se a pessoa for voltando à rotina normal, isso (transtornos) passe a ficar mais evidente. A maioria das pessoas está em casa, resguardada, mas quando tiver que voltar à rotina a questão pode ficar aflorada: é o medo da contaminação, a insegurança e o medo da morte”, disse. Cerca de 30% dos atendimentos que ele vem realizando são de novos pacientes. O especialista tem atendido pessoas de outras regiões, como o Norte e Nordeste.
Em âmbito nacional, segundo o iMedicina, uma das especialidades mais procuradas é a neurologia. “Tenho feito novos atendimentos. São pessoas que tinham questões pré-existentes e que não conseguiram agendar (uma consulta presencial) pela questão da pandemia, e como viram que as coisas estavam se prolongando, acabaram agendando por teleconsulta”, explicou Gabriela Pimentel, neurologista que atende na cidade de São Paulo.