Com um caso confirmado de Covid-19 e uma morte em investigação, Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte, decidiu liberar a reabertura dos comércios na cidade. Um decreto publicado na noite dessa segunda-feira (13) estabelece a retomada das atividades desde que se observem “as medidas sanitárias expedidas pelas autoridades competentes, no intuito de se preservar a manutenção de empregos e renda, bem como da economia local”. Entre as normas estão o uso de máscara por parte de todo trabalhador, restrição de acesso e disponibilização de álcool em gel.

Com a medida, ônibus oriundos de Esmeraldas podem ser impedidos de entrar em Belo Horizonte. No Decreto 17.326, de 6 de abril, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) proibiu, por tempo indeterminado, a circulação de transporte público coletivo oriundo de municípios que interromperem as medidas de isolamento social. Não se incluem na proibição o transporte público individual de passageiros, o transporte de cargas, táxis, carros de passeio e ambulância. Questionado em entrevista coletiva sobre a liberação dos comércios em Esmeraldas, Alexandre Kalil disse que a restrição já está decidida. “Então, se lá afrouxou, (os ônibus) não vão entrar. Temos a Guarda Civil e a Polícia Militar”, declarou.

Na cidade da região metropolitana, bares, restaurantes e lanchonetes devem seguir algumas normas, como funcionamento apenas para delivery ou retirada no local, disponibilização de álcool em gel nos pontos de atendimento ao cliente e a proibição de self servisse – as refeições devem estar prontas em marmitas para a entrega no local.

Já salões de beleza e clínicas de estética poderão funcionar em Esmeraldas desde que o atendimento seja agendado previamente e com apenas um cliente por vez em cada procedimento, não sendo permitidas filas ou clientes em espera.

Hotéis, pousadas e afins no município também seguirão determinações para a reabertura. Só podem ativar 50% da capacidade de hospedagem, devem disponibilizar álcool em gel 70% para uso dos clientes na recepção, nos elevadores e nos corredores, serviços de alimentação poderão atender apenas em serviços de quarto, devem intensificar as ações de higienização e manter fechadas áreas sociais e de convivência, como academias, salões de jogos e piscina.

Lojas de vestuário, armarinho, papelaria, perfumaria e cosméticos devem, também, seguir regras específicas. Não vai ser permitido experimentar roupas, acessórios, bijuterias e calçados, o número de clientes e funcionários deve respeitar a cota de 10 m² por pessoa, e os produtos expostos em vitrines deverão ser higienizados de forma frequente, apesar da recomendação de diminuir os produtos expostos. Esses estabelecimentos devem orientar quanto à limpeza dos produtos adquiridos antes do uso e que consumidores e funcionários higienizem sempre as mãos antes e depois de manusear roupas ou produtos. Para as lojas de cosméticos, fica proibido o mostruário à disposição do cliente.

A medida, assinada pelo prefeito Márcio Belém, atendeu pedidos feitos pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade e de associação dos comerciantes. O presidente da CDL em Esmeraldas, Daniel Nunes Batista, disse que essa é uma recomendação da federação das Câmaras de Minas Gerais. Batista pediu que não se faça “turismo” nos comércios da cidade. “Uma das coisas que deixo claro, ninguém é obrigado a ir ao comércio para comprar. As pessoas estão fazendo turismo com isso, leva o pai, a mãe, os filhos pra ir fazer compra. Não pode sair uma pessoa fazer compra e retornar pra sua casa? Porque é também uma falta de educação da população nesse quesito, estão só jogando a questão do comércio e parecendo que o comércio é o capeta da história, mas o cidadão também tem sua parcela de contribuição”, disse.

Segundo projeção de Batista, o comércio da cidade teve um prejuízo de R$ 5 milhões a R$ 7 milhões no último mês com a quarentena.

Prejuízos

A comerciante Anete Padrão, que tem uma loja de vestuário feminino no centro de Esmeraldas reabriu nesta terça-feira o estabelecimento depois de 24 dias. Cumprindo com as determinações, a empresária disponibilizou álcool em gel e colocou um aviso em relação às medidas restritivas logo na entrada da loja. "Poder reabrir a loja hoje nos traz um alívio e ao mesmo tempo insegurança, mas a gente está seguindo todas as restrições estabelecidas pelo novo decreto e levando um dia de cada vez pra ver até quando a gente vai ficar nessa situação e com a esperança de que volte à normalidade mais breve possível", disse. 

Durante o período em que a loja ficou fechada, Anete afirmou ter tido um grande prejuízo, já que lançamentos estavam previstos. "Meu comércio estava fechado desde o dia 20 de março mediante decreto da Prefeitura de Esmeraldas. De lá até hoje eu tive grandes perdas que impactaram diretamente no faturamento do meu negócio. Deixei de realizar eventos e ações que já estavam estabelecidas no meu calendário e com isso impactou drasticamente no nosso faturamento", contou.

Dona de um salão de beleza no centro da cidade, Sabrina Rodrigues, 30, fechou o estabelecimento no último dia 20 e contabiliza um prejuízo de aproximadamente R$ 4.000. “A reabertura dos comércios vai ser bom, sim, para nós, que somos microempreendedores, porque a gente vai poder pagar os nossos custos, que é o aluguel, que é o fornecedor, água, luz, custos com a família. Eu acho por esse lado muito bom, mas também eu acho um pouco ruim, porque também a gente tem que cuidar da nossa saúde, tem que cuidar da nossa família. Na minha família, tem pessoas que entram no grupo de risco, então a gente sai para trabalhar com um pouco de medo, mas, se a prefeitura fizer a sua parte em questão de fiscalização, dá pra funcionar, sim”, afirmou.

Sabrina já adotou algumas medidas para voltar a abrir o espaço de beleza, como espaçamento maior entre os atendimentos e álcool em gel para os clientes. Ela também pediu que os clientes não levem acompanhante e desmarquem caso apresentem sintomas de gripe e ou fizerem parte de grupo de risco.

 Fiscalização

Moradores da cidade, que falaram sob anonimato à reportagem, afirmaram que o último fim de semana pareceu “férias” e “retiro” na cidade. Sítios estavam lotados, várias pessoas circulavam pelas praças da cidade, e, devido aos shows transmitidos por cantores, houve festas em residências.

Por meio de nota, a Prefeitura de Esmeraldas disse que, “como o município tem quase 910 km², não é possível fazer a cobertura completa”. “Então, em alguns casos, pode ter sido verificada a ocorrência de situações contraindicadas praticadas pela população sem que a fiscalização pudesse repreender”, afirma a nota. O Executivo reconheceu que o número de fiscais está subdimensionado para cobrir o município.