Em entrevista para revista Veja desta semana, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro disse que irá apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) provas sobre as acusações feitas ao presidente Jair Bolsonaro,  acusado por Moro de estar interferindo em investigações da Polícia Federal.

Segundo Moro,  a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo foi a gota d'água para ele deixar o governo. "Reitero tudo o que disse no meu pronunciamento. Esclarecimentos adicionais farei apenas quando for instado pela Justiça. As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar", disse o ex-ministro para a revista Veja.

Mensagens no JN

O ex-juiz da Lava Jato disse ainda que, apresentou ao Jornal Nacional, da TV Globo, as mensagens trocadas com Bolsonaro e com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) no Whatsapp, por ter sido chamado de mentiroso por Bolsonaro.

"Eu apresentei aquelas mensagens. Não gostei de apresentá-las, é verdade, mas as apresentei única e exclusivamente porque no pronunciamento do presidente ele afirmou falsamente que eu estava mentindo. Embora eu tenha um grande respeito pelo presidente, não posso admitir que ele me chame de mentiroso publicamente", disse Moro.

Vaga no Supremo

Na entrevista, o ex-ministro, que após ordem do STF  terá que depor na Polícia Federal sobre o caso dentro de cinco dias, garante ser uma inverdade a fala do presidente de que ele teria aceitado a troca do diretor da PF em troca de uma cadeira de ministro do Supremo.

"Eu jamais faria isso. Infelizmente, tive de revelar aquela mensagem para provar que estava dizendo a verdade, que não era eu que estava mentindo", declarou.

Intimidação da PGR

Moro contou para a revista que nunca foi intenção dele "ser algoz do presidente", e que considera a inclusão no pedido de abertura de inquérito feito pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, como um ato de intimidação.

"Entendi que a requisição de abertura desse inquérito que me aponta como possível responsável por calúnia e denunciação caluniosa foi intimidatória. Quero afirmar que estou à disposição das autoridades. Os ataques mais virulentos vieram principalmente por redes virtuais. Não tenho medo de ofensa na internet, não. Me desagrada e tal, mas se alguém acha que vai me intimidar contando inverdades a meu respeito no WhatsApp ou na internet está muito enganado sobre minha natureza" afirmou o ex-juiz.

Medo de sofrer atentado

Para a revista, o ex-ministro confessou estar com medo de sofrer um atentado e que, por isso, está sendo escoltado pela Polícia Federal. Moro disse que sua mulher tem sofrido vários ataques pela internet. Apesar de tudo, o ex-juiz federal disse que não tem nada pessoal contra Bolsonaro e disse que admira sobretudo o ministro Paulo Guedes.  

"Pessoalmente, gosto dele. No governo, acho que há vários ministros competentes e técnicos. O fato de eu ter saído do governo não implica qualquer demérito em relação a eles. Fico até triste porque considero vários deles pessoas competentes e qualificadas, em especial o ministro da Economia", disse.

Facada em Bolsonaro

Na entrevista, Moro ainda foi questionado sobre a investigação a respeito da facada recebida pelo presidente na campanha eleitoral de 2018. Segundo o ex-juiz,  “existe uma forte suspeita de que o Adélio (o autor da facada recentemente absolvido pela Justiça) tenha agido a mando de outra pessoa". 

"A Polícia Federal fez a investigação, mas pende para o final da investigação um pedido de exame do aparelho celular de um advogado do Adélio. A polícia buscou esse acesso, e isso foi obstado pelas Cortes de Justiça, e ainda não há uma decisão definitiva. A suspeita de que pode existir um mandante intelectual do crime não pode ser descartada. Enquanto não se tem a conclusão da investigação, não se pode ter um juízo definitivo", defendeu Moro.

Não pretende ser candidato

A reportagem da revista também indagou o ex-ministro sobre suas pretensões para o futuro. Apesar dos rumores, Moro descartou ter qualquer pretensão eleitoral no momento.

"Minha posição sempre foi de sentido técnico. Vou continuar buscando realizar um trabalho técnico, agora no setor privado. Não tenho nenhuma pretensão eleitoral. Não me filiei a partido algum. Nunca foi meu plano. Estou num nível de trabalho intenso desde 2014. Quero folga. E não quero pensar em política neste momento", declarou o ex-ministro.

Em busca de recolocação

Desempregado e sem a aposentadoria após 22 anos de magistratura, Moro disse que pretende se recolocar profissionalmente em uma empresa privada. 

"Eu me encontro, no momento, desempregado, sem aposentadoria. Tudo bem, tem gente em situação muito mais difícil que a minha. Não quero aqui ficar reclamando de nada. Pedi a quarentena para ter um sustento durante algum tempo e me reposicionar, provavelmente no setor privado" disse ele.