Belo Horizonte desperdiça cerca de 40% de todo o volume de água distribuído para a capital por ano. Em 2022, foram distribuídos 237,4 milhões de m³ para a capital, segundo dados da Copasa. Logo, isso quer dizer que, por ano, são desperdiçados cerca de 94,9 milhões de m³, o que equivale a quase dez lagoas da Pampulha. Segundo a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura da Prefeitura de Belo Horizonte, o volume atual da lagoa é de 10 milhões de m³.
Os dados de desperdício de água nas capitais do país fazem parte do estudo do Centro de Liderança Pública (CLP), feito com base no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). O relatório foi divulgado em junho e antecipa informações do Ranking de Competitividade dos Municípios 2023, que será divulgado em agosto.
O índice leva em conta as perdas aparentes, que se referem ao volume de água consumido pelo usuário, mas que não foi contabilizado, seja por ligações clandestinas ou problemas de medição, e também as perdas reais, quando ela não chega até o consumidor devido a vazamentos.
O diagnóstico mostrou que, desde 2021, a capital mineira aumentou o percentual de seu desperdício: passando de 41,65% para 42,96% em 2022 e chegando a 43,07% em 2023.
A cidade mineira campeã de desperdício, neste ano, é Sabará, com 62,39% de perda. Em 2022, era a cidade de Santa Luzia, com 61,78%. E em 2021 foi Vespasiano, com 62,37%. Todas elas são atendidas pela Copasa. A companhia é responsável pelos serviços de abastecimento de água em 640 dos 853 municípios de Minas.
O Brasil, como um todo, anda mal no indicador de perda de água. Apenas três capitais estão na lista dos cem municípios que menos desperdiçam água: Goiânia (GO), com 19,50%, Campo Grande (MS), com 19,74% e Curitiba, com 25,60%. Outras onze capitais chegaram a apresentar perdas acima de 50%: Porto Velho (RO), com 77,21%, Macapá (AP), com 76,13% e Rio Branco (AC), com 70,72%, figuram no topo deste ranking negativo. Proporcionalmente, os municípios das regiões Norte e Nordeste são os que mais sofrem com a perda na distribuição de água e a região Sul é a que menos desperdiça água.
“A recomendação de bons sistemas de prestação de serviço no mundo é de 10% de desperdício, no máximo. O país está na média de 40%”, observa Pedro Trippi, coordenador de Inteligência Técnica do CLT.
Apesar do cenário negativo, é possível perceber uma ligeira melhora nos indicadores, segundo Trippi. Em 2021, cerca de 25% das cidades registraram desperdício acima de 50%. Neste ano, este índice já reduziu para 22,89%.
O coordenador explica que as ligações irregulares são um fator importante dentro do percentual de desperdício. “A própria empresa não consegue separar o que é clandestino, ‘gato’, de vazamento. Há uma perda de faturamento”, explica. Além disso, ele esclarece que os vazamentos associados à baixa qualidade de tubulação, uma deterioração dos ativos, também contribuem para a elevação dos índices.
Em nota, a Copasa informou que o índice de perdas de BH (41,7% na média móvel anual) encontra-se dentro da média nacional de perdas que, em 2022, foi de 41%. Em caso das perdas reais de água, a Companhia informou que mantém uma equipe operacional 24 horas de plantão para combater vazamentos, com equipes enviadas imediatamente para correção. Quando os vazamentos não são visíveis, a empresa faz sondagem de solo para detecção e correção rápida.
Para a submedição de hidrômetros por fraudes e ligações clandestinas, a empresa esclarece que atua em diversas frentes, como substituição do medidor após sete anos de uso e mobilizações sociais junto às comunidades para discutir a importância do consumo consciente. “As fraudes e/ou ligações clandestinas, acarretam na diminuição da pressão, podendo afetar o abastecimento principalmente das regiões mais altas, risco de contaminações, além do aumento dos custos de produção de água, que impactam diretamente nos custos da Copasa, e consequentemente, nas tarifas”, explica.
A Copasa tem um canal para denunciar fraudes pelo site www.copasa.com.br. Basta clicar em COPASA/Relacionamento/Canais de Denúncias.
Veja ranking de capitais que mais desperdiçam água no Brasil:
- Porto Velho - 77,21%
- Macapá - 76,13%
- Rio Branco - 70,72%
- São Luís - 60,73%
- Natal - 59,85%
- Manaus - 59,78%
- Boa Vista - 58,87%
- Salvador - 56,57%
- Cuiabá - 55,42%
- Rio de Janeiro - 53,37%
- Recife - 50,83%
- Belém - 45,17%
- Florianópolis - 43,80%
- Belo Horizonte - 43,07%
- Maceió - 41,07%
- Teresina - 39,66%
- Fortaleza - 39,62%
- João Pessoa - 38,75%
- Vitória - 33,51%
- Porto Alegre - 33,23%
- Palmas - 29,96%
- São Paulo - 29,85%
- Aracaju - 29,61%
- Curitiba - 25,60%
- Campo Grande - 19.74%
- Goiânia - 19,50%
Fonte: estudo do Centro de Liderança Pública (CLP), feito com base no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
Quase 100 cidades do país desperdiçam metade da água de seus sistemas de abastecimento
O estudo da CLP avaliou 415 municípios com mais de 80 mil habitantes, que representam 60% da população brasileira. Deste número, 69 deles desperdiçam menos de 25% da água, 251 municípios desperdiçam entre 25% e 50% da água e 95 cidades desperdiçam mais de 50% da água.
A análise histórica dos últimos três anos da perda na distribuição de água dos municípios mostra que algumas capitais avançaram consideravelmente nos últimos três anos, como Teresina (PI), Maceió (AL), Fortaleza (CE) e Manaus (AM). A capital do Amazonas conseguiu sair de um desperdício de água na ordem de 72,08% para 59,78% no período analisado. Por outro lado, três capitais apresentaram uma piora considerável de seus indicadores: Rio de Janeiro (RJ), Rio Branco (AC) e, principalmente, Florianópolis (SC).