Estradas esburacadas, energia com qualidade inconstante, rede de dados insuficiente, aeroportos incapazes de atender à demanda, vagas em aberto por falta de trabalhadores. Em diversos setores, o Brasil corre o risco de viver "apagões" no futuro próximo por falta de
investimento nos últimos anos.

O sócio da auditoria e consultoria PwC, Guilherme Valle, diz que esse cenário inibe o crescimento econômico do Brasil e pode ter reflexo nos próximos anos. "A gente poderia dar um salto qualitativo enorme nos 20 anos seguintes, mas a infraestrutura tem que acompanhar", afirma.
Na visão do especialista, logística e formação de mão de obra são os pontos mais críticos e, ao contrário de outros segmentos que correm o risco de "apagão", já vivem seus "blecautes".

Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) não deixa dúvidas da situação preocupante das estradas. Segundo o levantamento, 57,4% das rodovias brasileiras têm "algum tipo de deficiência" e 26,9% delas estão em situação crítica. Para deixá-las em boas condições, seriam necessários R$ 200 bilhões em investimentos. Para se ter uma ideia do tamanho da diferença entre o ideal e o real, em 2010 foram investidos R$ 13 bilhões em estradas,
6,5% do necessário.

A consequência da falta de investimentos é o aumento do frete, que pode ficar até 30% mais caro quando a carga trafega por pontos críticos. A condição ruim das vias também aumenta gastos em manutenção de frota e faz o país perder competitividade no mercado internacional, já que 62% do que se produz aqui é transportado por meio rodoviário. O levantamento da CNT se
refere apenas às rodovias pavimentadas, que são 13% das estradas brasileiras.

O quadro crítico da logística se completa com a falta de ferrovias para transporte de cargas e com a infraestrutura portuária insuficiente para atender as importações e exportações com a agilidade necessária.

Guilherme Valle diz que o Brasil tem fatores a seu favor, como o forte mercado interno, a economia longe dos centros de crise mundial, e a realização de grandes eventos esportivos nos próximos anos. "A Copa do Mundo e as Olimpíadas são oportunidades e deveriam deixar legados principalmente estruturais para o país", afirma. No entanto, os investimentos estão em ritmo bem menor do que o necessário e o país deve adotar soluções paliativas durante os eventos. "É muita coisa para ser feita em tão pouco tempo", lamenta Valle.