Os caminhoneiros mineiros consideraram a linha de crédito específica para autônomos, anunciada nesta terça-feira (16) pelo governo federal, uma medida insuficiente para resolver o problema da categoria. “Achei interessante. Só que, do jeito que o país está, ninguém vai ‘comprar’ porque não tem serviço. Está tudo parado”, afirmou o caminhoneiro autônomo de Igarapé, na região metropolitana de Belo Horizonte, Sidnei Nascimento, que estava nesta terça-feira em Brasília acompanhando as negociações com o Planalto.
Para o presidente do Sindicato Interestadual de Caminhoneiros, José Natan Neto, um dos problemas da medida é que muitos caminhoneiros estão sem crédito na praça em função de outros financiamentos já feitos. “Ajuda, mas não gera uma forma de desenvolvimento da forma como a categoria precisa”, afirmou.
O crédito de R$ 500 milhões será disponibilizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e terá um valor de até R$ 30 mil por caminhoneiro. Segundo José Natan, a quantia é pequena. “Se (o caminhoneiro) tiver crédito, R$ 30 mil não vai dar para muita coisa. Não dá para comprar pneus”, disse. Mas ele pondera: “A intenção é boa, acaba atingindo alguém”.
Já lideranças do movimento em outros Estados chamaram a linha de crédito de “esmola”. “É melhor do que nada, mas é esmola; R$ 30 mil não dá para 15 pneus. O caminhoneiro precisava de uma linha de crédito de R$ 200 mil”, reivindicou Ariovaldo Junior Almeida, diretor do Sindicato dos Caminhoneiros de Ourinhos, no interior de São Paulo.
Logo após o anúncio da linha de crédito, Wallace Costa Landim, conhecido como “Chorão”, um dos líderes dos caminhoneiros, declarou que a medida agradava à categoria e até poderia evitar a greve, mas esperava uma manifestação de Bolsonaro. “Inicialmente, claro que o pacote agrada (à categoria). Mas preferimos aguardar o que o presidente vai falar para comunicar oficialmente o posicionamento dos caminhoneiros”, disse.
Participante do movimento do ano passado, o motorista Wanderlei Alves, o Dedéco, de Curitiba, criticou o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e as medidas divulgadas nesta terça-feira. “Nada do que o ministro da Infraestrutura anunciou nos ajuda. É um avanço conseguir pegar dinheiro no BNDES a baixo custo? É. Mas, hoje, mais da metade dos caminhoneiros está com o nome sujo no Serasa. Nós vamos conseguir pegar esse crédito?”, questiona.
Ele diz que não representa toda a classe. “Tenho os caminhoneiros que estão comigo. E faço parte de um grupo com outros amigos, que têm outros caminhoneiros. Isso faz uma rede de mais de 1 milhão de profissionais”, explica Dedéco. Daniel Reis de Oliveira, o Queixada, afirma que muitos motoristas não aguentam quitar os financiamentos devido ao baixo valor pago pelos fretes e ao preço alto do diesel. “O importante é ter um preço de frete que sustente o trabalho”, concorda José Natan. (Com agências)
Ameaça da greve não acabou
A manutenção do preço do diesel é importante para afastar o risco de greve, na avaliação de representantes da categoria dos caminhoneiros. “Os caminhoneiros estão esperando o que vai ser feito a respeito do diesel. Mas, por enquanto, nada de greve”, afirmou nesta terça-feira o motorista de caminhão autônomo Sidnei Nascimento. Questionado sobre a possibilidade de um reajuste no combustível, Nascimento já diz que “provavelmente vai inflamar os caminhoneiros”.
Em grupos do WhatsApp, caminhoneiros manifestaram insatisfação com o pacote desta terça-feira e chegaram a citar uma greve em maio deste ano. Nos grupos, o plano do governo federal anunciado nesta terça-feira foi visto como uma “cortina de fumaça” para protelar uma possível paralisação dos motoristas. Alguns falaram em nova greve em 21 de maio, exatamente um ano após o movimento que paralisou o país, caso a situação não melhore.
“Se (o movimento) fizer uma coisa correta, tem condição de ter mais uma greve, sim”, afirma o presidente do Sindicato Interestadual de Caminhoneiros, José Natan Neto. Segundo ele, a situação dos profissionais autônomos “é de desespero”.
“Precisamos de lugar para descanso nas estradas, de segurança, de condições de trabalho”, afirma.
Em mensagens nos celulares, outros caminhoneiros afirmam que não estão pedindo dinheiro para o governo, mas sim melhores condições de trabalho. Nas discussões, eles avaliam que soluções como a linha de crédito para manutenção do caminhão com taxas menores já foram testadas em outras ocasiões, mas não foram colocadas em prática. Eles citam o Cartão-Caminhoneiro para compra de combustíveis.
A grande reclamação é que a situação dos caminhoneiros está tão precária que poucos conseguiriam ter acesso ao crédito. Além disso, eles acreditam que pegar crédito agora seria decretar a “morte” dos motoristas em alguns anos. “Estão dando a corda para a gente se enforcar”, dizia um deles nas mensagens trocadas.
Aprovado
Para José Natan, as obras nas rodovias foram um anúncio positivo. “Melhorar as condições das estradas é fundamental. Eu mesmo denunciei a situação de uma ponte, e 20 dias depois ela caiu. Eles não cuidam das rodovias. Muitos autônomos estão abandonando as estradas e rodando só em área urbana”, diz. (LP com agências)
Decisão sobre diesel será só da Petrobras
Brasília. Após reunião entre o presidente Jair Bolsonaro, ministros e o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, nesta terça-feira, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou a jornalistas que o encontro foi feito para “esclarecer” a Bolsonaro a política de preços de combustíveis. Perguntado se alguma decisão foi tomada sobre o reajuste do preço do diesel, Albuquerque respondeu que quem vai decidir será a Petrobras.
“Quem vai decidir o momento e o valor vai ser a Petrobras. A reunião foi para esclarecer ao presidente a prática de preços. Desde 2002, o preço do mercado de combustíveis é livre, e quem vai tratar desse assunto é a Petrobras”, disse o ministro de Minas e Energia.
Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que Bolsonaro pensou na dimensão política do reajuste de 5,7% do óleo diesel quando ligou para o chefe da estatal, na última sexta-feira, pedindo para segurar o aumento. “O presidente tem preocupação maior do que só a preocupação do mercado. É natural que eu, como ministro da Economia, esteja preocupado com o mercado”, disse Guedes a jornalistas. O ministro ainda afirmou que Bolsonaro “deixou claro que está fora de qualquer propósito manipulação de preço, congelar, segurar”.
Empresas de ônibus também estão de olho em possível alta
A Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) enviou nesta terça-feira ofício ao presidente da República, Jair Bolsonaro, manifestando apoio à preocupação do governo com o reajuste do preço do óleo diesel, anunciado e cancelado pela Petrobras na última sexta-feira. “É importante que o Executivo tenha em mente que o diesel utilizado para abastecer a frota de caminhões é o mesmo utilizado nos quase cem mil ônibus urbanos”, destaca Otávio Cunha, presidente da NTU.
O combustível representa hoje 25% dos custos totais do transporte coletivo urbano por ônibus. “O diesel representava 10% dos custos totais na época em que existiam subsídios cruzados na cadeia do petróleo, e o preço correspondia a apenas uma fração do preço da gasolina”, diz a NTU.
Caixa
Crédito. Hoje a Caixa Econômica libera outra a linha de crédito para caminhoneiros, o BNDES Finame, para máquinas e equipamentos novos. O montante pode chegar a 100% do valor do bem.