Segundo o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Brumadinho, Aldinei Pereira, uma pesquisa realizada 45 dias após o desastre da barragem revela que o comércio local já estava com o faturamento menor em até 70%. “Os prejuízos são imensos. Estamos conversando com a Vale para ampliar a cooperação ao comércio do bairro Parque da Cachoeira”, afirma Pereira.

Ele se refere a uma “ação humanitária” da Vale que oferece uma doação de R$ 15 mil para quem teve negócios impactados na zona de autossalvamento (cerca de 10 km do local de rompimento). “Apresentamos um projeto para que a Vale financie uma campanha de valorização do comércio e de fomento do turismo”, acrescenta Pereira. “Ninguém vem mais aqui, nem turista nem a própria população, que está muito triste”, relata Lourisvaldo Fernandes Pessoa, dono do bar Tio Louro.

A porção de fígado com jiló e a cerveja gelada são os carros-chefe do bar do Tio Louro, no bairro Parque da Cachoeira, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte. “Era uma alegria, vendi muita cerveja para o pessoal que vinha de fora, para os sítios da região. Eu tirava até R$ 2.000 por fim de semana, hoje não tiro R$ 100”, conta Lourisvaldo Fernandes Pessoa, 64, proprietário do estabelecimento há mais de 20 anos. Ele conta que já não abre mais o bar todo dia e que, para garantir o sustento está “capinando chácara”.

A professora aposentada Vera Lúcia Barcellos, 66, abriu a Loja do João e da Vera, um armarinho e loja de materiais hidrelétricos, há um ano e meio em Brumadinho. Há 60 dias, os rejeitos da barragem da mineradora Vale chegaram a 155 m de sua porta. “Fomos as primeiras pessoas da vizinhança a avisar do rompimento pelo WhatsApp”, conta. Ela relata que da porta do seu comércio consegue ver o rio de lama. “Agora não estamos vendendo nem bala”, lamenta. “Tem muita gente que não tem como, e muita gente que ainda não está conseguindo trabalhar. Isso impacta muito o comércio, porque a renda do cliente só cai”, afirma Vera.

Dona de um salão de beleza e filha de Lourisvaldo, Lúcia Fernandes, 43, diz que seu movimento caiu mais da metade. “A rua do meu salão agora é sem saída, por causa da lama da barragem ”, afirma.

Lúcia se descreve como uma mulher independente e que gosta de trabalhar. “Não era só o salão. Nos fins de semana, levava bebidas para vender aos turistas e pescadores na beira do rio. Eles estavam adorando a ideia. Ter uma bebida gelada, uma porção para consumir. Não tem mais rio. É muito triste”, desabafa.

 

Luto gera desejo de ir embora

A ideia de deixar Brumadinho tem assombrado a comerciante Lúcia Fernandes, 43. “Eu penso em ir embora porque dá muita tristeza olhar o barro. A cidade parece um lugar morto”, afirma.

A presidente do Instituto NaAção, Carolina Antunes, que desenvolve ações voluntárias em Brumadinho desde o dia seguinte ao rompimento, diz que a vontade de ir embora é relatada com frequência. “Damos suporte psicológico para a comunidade e percebemos a necessidade de aceitar a mudança. Se for embora, que seja bem resolvido, ou vai levar o problema para onde for”, avalia Carolina.

Proprietário de uma casa que teve 30% do terreno invadido pela lama, Mário Patto, 64, diz que seu imóvel perdeu mais de 50% do valor após o desastre. “Não dá para vender e ir embora por causa da desvalorização. Mas o pior é a perda emocional, ver o quintal onde minhas filhas viveram a infância com oito metros de altura de lama”, diz.

O comércio de Brumadinho sente o impacto do rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, da Vale, ocorrido em 25 de janeiro, há exatos dois meses.

Projeto CDL

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Brumadinho propôs à prefeitura do município que em suas licitações priorizem empresas locais. “A prefeitura normalmente faz a licitação com três empresas. A ideia é que, se, entre elas, duas forem de Brumadinho, a terceira já seja descartada”, explica o presidente da entidade, Aldinei Pereira.