‘Empurra’

Crise da Abengoa na Espanha é ameaça à energia no Brasil 

Empresa vinha usando impasses no licenciamento ambiental para justificar atraso em projetos

Por ludmila pizarro
Publicado em 01 de dezembro de 2015 | 04:00
 
 
Sem energia. Abengoa, que vive crise financeira, já é apontada pela imprensa espanhola como a possível maior falência da história lá Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A multinacional espanhola Abengoa, que tem projetos de 13 mil km de linhas de transmissão de energia no Brasil, comunicou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que suas obras serão interrompidas no país, diante da crise financeira que a companhia enfrenta. Entre as obras estão linhas de transmissão da energia que será gerada na usina de Belo Monte, e a linha Estreito-Itabirito 2, que passa por Belo Vale, na região Central de Minas.

A Abengoa, líder no setor de construção, operação e manutenção de linhas de transmissão de energia do país, solicitou na última sexta-feira um pedido de proteção preliminar contra credores, uma espécie de recuperação judicial, em seu país de origem. Isso aconteceu depois que as ações da empresa chegaram a perder mais de 54% do seu valor.

A Aneel fará, nesta semana, uma reunião com a Abengoa para definir a situação das linhas que estão sob responsabilidade da empresa espanhola. O Ministério de Minas e Energia (MME) também está ciente e acompanha o assunto. “A Aneel terá reunião nesta semana com representantes da Abengoa. O Ministério de Minas e Energia acompanha o assunto”, diz a nota do MME.

Entre os projetos da empresa que já estão atrasados, pelo menos dois são necessários para escoar a energia que será produzida na hidrelétrica de Belo Monte, prevista para começar a operar em fevereiro de 2016. A Cemig, sócia da Norte Energia SA, consórcio responsável pela construção da hidrelétrica, afirma em nota que a situação da Abengoa “não vai atrapalhar o cronograma de obras da usina de Belo Monte”. A Aneel, entretanto, já havia assumido, em relatório de fiscalização, um “descasamento” entre as obras de Belo Monte e a das linhas de transmissão.

Na semana passada, a Abengoa teria anunciado a intenção de demitir 1.500 pessoas de uma obra na Bahia. A direção da empresa em Madri não nega as demissões no Brasil e afirma apenas “que há reestruturação para preservar o negócio” na América Latina.

Porém, nega que os negócios no Brasil serão encerrados. “Não é certo que a Abengoa está fechando as filiais latino-americanas”, informou um porta-voz da companhia. “Atualmente, estamos imersos em um processo de reestruturação”, informa a companhia.

Os atrasos nas obras da Abengoa já estavam sendo sentidos por órgãos do governo antes da divulgação da crise financeira da empresa, porém, os licenciamentos ambientais eram colocados como o entrave. Em fevereiro deste ano, a Abengoa apresentou um relatório ao ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, relatando atraso em cinco de seis obras de linhas de transmissão em andamento, somando 4.936 km afetados. Em todos os casos, atrasos no licenciamento eram colocados como a razão do problema. (Com agências)


Crédito dado pelo BNDES é garantido
 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem atualmente sete financiamentos para a Abengoa e um total de créditos de R$ 2,1 bilhões. Seis dessas operações são “project finance” de linhas de transmissão, e o sétimo projeto é uma usina de cogeração a partir do bagaço de cana. As linhas de transmissão financiadas pelo banco público, porém, já foram todas construídas. 
 
Por esse motivo, o BNDES afirma em nota que “o banco possui boas garantias associadas aos empreendimentos”. Essas garantias seriam os ativos dos projetos, as próprias linhas construídas e os recebíveis da empresa. “O eventual pedido de recuperação judicial da matriz não afeta o BNDES do ponto de vista do recebimento de seus créditos”, afirma o banco em nota. Segundo o BNDES, os projetos estão em fase de amortização, porém o banco não informa se os pagamentos estão sendo feitos, já que isso se refere “à intimidade financeira da empresa”.

Na América Latina, porém, as perspectivas não são animadoras. No México, a filial da espanhola já avisou ao mercado que poderá dar o calote em breve. “O perfil de crédito da Abengoa México foi afetado pela necessidade da Abengoa Espanha. A tesouraria centralizada concentra os recursos. Com isso, a sociedade possivelmente descumprirá as obrigações de pagamento, tanto de juros como de principal”, disse a empresa no México. 


Empresa tem até março para resolver, ou pedir falência



A espanhola Abengoa pediu proteção contra seus credores porque não conseguiu chegar a um acordo para receber uma injeção de capital por parte da Gonvarri, na ordem dos 350 milhões. A negociação envolvia 28% do capital da Abengoa que passaria para a Gonvarri, e salvaria a empresa de suas dívidas, que aumentaram em função de sua internacionalização. Porém, na semana passada, a negociação foi abandonada. 
 
Com isso, as ações da empresa chegaram a desvalorizar até 70% e a empresa foi retirada do principal índice da bolsa espanhola, o Ibex-35.

A empresa tem agora até março de 2016 para resolver a situação, ou vai ser obrigada a pedir falência. Se isso acontecer, vai ser a maior falência da história da Espanha. 
Nesse cenário, a empresa teve a sua classificação de risco rebaixada por parte das três maiores agências de rating do mundo, a S&P, a Moody’s e a Fitch.