Flutuações

Dólar e bolsas caem: veja como fechou mercado nesta sexta-feira (26)

Mercados adotaram forte postura defensiva, mas o mercado de câmbio brasileiro operou na contramão

Por Agências
Publicado em 26 de agosto de 2022 | 18:13
 
 
Imagem ilustrativa Foto: Pixabay

No dia do discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, os mercados adotaram forte postura defensiva, mas o mercado de câmbio brasileiro operou na contramão. Mesmo com o dólar operando majoritariamente em alta ante outras divisas pelo mundo, por aqui houve queda ao longo de praticamente todo o período.

Profissionais do mercado apontaram ainda fluxo positivo para o dólar e redução de posições em moeda estrangeira como fatores que motivaram o comportamento. No entanto, não acreditam em espaço para recuos significativos, levando em conta o cenário externo e a possibilidade de maior movimentação do cenário eleitoral doméstico.

Ao final dos negócios, o dólar à vista ficou cotado a R$ 5,0781, em baixa de 0,67%. Com esse resultado, o "spot" encerrou a semana com queda de 1,74%, acumulando perda de 1,86% em agosto.

No mercado futuro, o dólar para liquidação em setembro recuava 0,69% às 17h07, aos R$ 5,0825. O Dollar Index (DXY), que mede a variação do dólar ante uma cesta de divisas fortes, subia 0,32%

Jerome Powell fez um discurso breve e direto, como ele mesmo sinalizou. Afirmou que a busca pela meta de inflação de 2% era incondicional e disse que famílias e empresas sentiriam "alguma dor" com os esforços do BC na condução da política monetária. 

O chairman do banco central americano afirmou que restaurar a estabilidade dos preços nos Estados Unidos ainda levará "algum tempo", numa tentativa de refrear apostas em breve redução dos juros. Powell sinalizou que novos aumentos de juros serão feitos, mas que a magnitude dependerá de novos indicadores econômicos e perspectivas de mercado.

Para Bruna Centeno, especialista em Renda Fixa da Blue3, o tom de Powell surpreendeu mais pela mudança de tom do que propriamente pelo teor, que de certa maneira já estava precificado. "Powell mostrou um Fed muito preocupado com a inflação, mas também muito comprometido com a busca da meta, o que é um aspecto positivo. Falar em juros de 4% nos Estados Unidos assusta, e o Brasil precisa controlar aspectos importantes da sua economia sob pena de ver uma fuga de recursos e as suas consequências no câmbio e na inflação", afirma.

No cenário doméstico, o Banco Central divulgou nesta sexta que o resultado das transações correntes ficou negativo em maio deste ano, em US$ 3,506 bilhões. Este é pior desempenho para meses de maio desde 2014, quando o saldo foi negativo em US$ 6,691 bilhões. Em abril, o resultado foi superavitário em US$ 1,088 bilhão. Já os Investimentos Diretos no País (IDP) somaram US$ 4,483 bilhões em maio, segundo dos dados do BC.

Bolsas de NY fecham em queda forte, após Fed reafirmar aperto nos juros

Os mercados acionários de Nova York registraram queda forte, nesta sexta-feira. O fato de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ter reforçado seu compromisso de subir juros para conter a inflação pressionou as ações. Entre os setores, tecnologia e serviços de comunicação estiveram entre as maiores perdas, fazendo com o que o Nasdaq caísse mais.

O índice Dow Jones fechou em baixa de 3,03%, em 32.283,40 pontos, o S&P 500 caiu 3,37%, a 4.057,66 pontos, na mínima do dia, e o Nasdaq recuou 3,94%, a 12.141,71 pontos. Na comparação semanal, o Dow Jones registrou queda de 4,22%, o S&P 500 caiu 4,04% e o Nasdaq, 4,44%.

Nesta sexta, o índice Dow Jones perdeu pouco mais de mil pontos (1.008,38). O presidente do Fed, Jerome Powell, fez um aguardado discurso no simpósio de Jackson Hole, no qual disse que a prioridade neste momento é levar a inflação de volta à meta de 2%. 

Segundo ele, o compromisso com a estabilidade de preços é "incondicional", mesmo que o aperto cause "alguma dor" para famílias e empresas nos EUA. Para o CIBC e outros analistas, Powell rechaçou a ideia de que um relaxamento na política monetária pode vir rápido. O Fed ainda publicou análise segundo a qual os EUA vão sair da pandemia com crescimento lento. 

Entre papéis em foco nas bolsas americanas, 3M recuou 9,54%, após perder na Justiça uma tentativa de garantir proteção contra falência, em uma disputa que envolve protetores auditivos militares fabricados pela empresa. Salesforce, por sua vez, caiu 4,97%, depois de publicar balanço considerado negativo.

Entre outras ações de peso, Apple fechou em baixa de 3,77%, Amazon caiu 4,76%, Alphabet recuou 5,41% e Microsoft, 3,86%. Boeing registrou queda de 2,86% e, entre os bancos, Citigroup perdeu 4,38% e Morgan Stanley, 3,45%.

Ainda no noticiário, os EUA e a China anunciaram acordo sobre auditorias que funcionários americanos poderão fazer em registros de empresas chinesas, para que os papéis destas possam ser negociados em solo americano.

Mercado de juros absorve discurso duro de Powell; taxas caem com alívio no câmbio

Os juros futuros acabaram fechando a sexta-feira em queda, definida na última meia hora da sessão regular na esteira do maior alívio do câmbio, com o dólar chegando a até R$ 5,05 pouco antes do fechamento dos negócios. Mais cedo, chegaram a operar em alta acompanhando a reação inicial dos Treasuries ao discurso considerado "hawkish" do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, mas depois o mercado absorveu as declarações e o movimento perdeu força no começo da tarde. 

Evento mais aguardado da semana, a participação de Powell no Simpósio de Jackson Hole não foi capaz de desempatar o quadro das apostas para a próxima reunião de política monetária, em setembro, que continua dividido entre elevação de 75 e 50 pontos-base. Internamente, nem agenda nem noticiário contribuíram para o desenho da curva, com a movimentação no cenário eleitoral mais uma vez em segundo plano.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,73%, de 13,72% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 encerrou na mínima de 13,08%, de 13,19% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 11,99%, de 12,12% na quinta, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 11,88% para 11,78%. 

No acumulado da semana, as taxas devolveram prêmios, mas como na ponta curta a redução foi pouco mais pronunciada, a curva acabou fechando a semana com leve ganho de inclinação.

O mercado esperou a semana inteira para ver se Powell endossaria a leitura dos dados fracos de atividade nos Estados Unidos que saíram nos últimos dias. A comunicação, porém, seguiu com tom prioritário à inflação. Powell afirmou que o compromisso com a estabilidade de preços nos EUA é "incondicional", que o foco é a meta de 2% e que restaurar a estabilidade dos preços ainda levará "algum tempo", com um período de baixo crescimento e "alguma dor" para famílias norte-americanas e empresas.

Para o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, o discurso foi hawkish como o esperado, mas no curtíssimo prazo não há sinal claro sobre se é 75 ou 50, nem sobre o destino final da taxa. "A mensagem transmitida é de que não vão afrouxar enquanto não controlarem a inflação e vejo um quadro bastante confortável para que o Fed faça o que está dizendo que vai fazer. É um discurso crível", afirmou. "No price action, porém, hoje não fez muita diferença", completou, afirmando que com a credibilidade do Fed, o "tranco" de um discurso mais duro acabou sendo absorvido.

A reação inicial às declarações foi de alta nas taxas futuras no fim da manhã, alinhadas à aceleração do avanço dos Treasuries, mas no decorrer da tarde a pressão, em ambos os mercados, arrefeceu. Aqui, a aceleração da queda do dólar no fim da tarde deu o empurrão derradeiro para colocar os DIs em trajetória de baixa, após subirem nas duas últimas sessões. Nas mesas, operadores citam fluxo positivo em ambos os mercados.

No âmbito local, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mostrou visão animadora sobre o comportamento das estimativas de inflação, nesta sexta em evento organizado pela 1618 Investimentos. "A gente vê as expectativas do mercado para a inflação deste ano caindo, um pouco pelas medidas do governo. A gente acha que as expectativas de inflação de 2023 e 2024 começaram a acomodar e vão começar a cair em algum momento", disse. (Estadão Conteúdo)