Mais uma empresa desistiu do lote arrematado no leilão para a implantação da tecnologia 5G no Brasil. Seis meses depois da primeira desistência, a Neko Serviços de Comunicações Entretenimento e Educação Ltda protocolou, no mês passado, junto à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), renúncia aos direitos de outorga da faixa de banda de 26 GHz. A companhia havia comprado licença para operar no Estado de São Paulo durante 10 anos por R$ 8,5 milhões.
No ano passado, a Fly Link, empresa mineira do ramo de telecomunicação, também abriu mão da licença, que cobria a mesma banda de 26 GHz, mas com atuação no Triângulo Mineiro.
O Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência (Gaispi), criado pela Anatel para coordenar a implantação digital, recomendou à Anatel adiamento em dois meses do prazo para iniciar o processo nas capitais e no Distrito Federal.
Segundo o edital do leilão para a concessão do 5G, até 31 de julho, a tecnologia teria que ser implantada nas cidades. Caso o pedido do grupo seja atendido, esse prazo seria prorrogado até o final de setembro deste ano.
Questionada sobre a recomendação e se ela afetaria o prazo estipulado para a implantação tecnológica, a Anatel afirmou que a sugestão “será encaminhada ao Conselho Diretor, que tem a próxima reunião prevista para 2 de junho, mas regimentalmente a matéria pode ser decidida por circuito deliberativo (apenas documental) ou em reunião extraordinária.”
A Agência também informou que somente após a reunião serão divulgadas novas informações a respeito e enfatizou que seguirá empenhada em antecipar o processo em algumas regiões.
“Nesse período, o Gaispi seguirá avaliando todas as possibilidades e iniciativas que levem à antecipação da liberação do uso da faixa em determinadas áreas de prestação que se mostrarem viáveis”, diz o texto. A reportagem tenta contato com ambas as empresas envolvidas e aguarda retorno.
Especialista em eletrônica e telecomunicações e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Puc-Minas), Luciano Assirio Bossi explica que a faixa de banda de 26GHz, que é comum às duas empresas que desistiram, não entrará nas primeiras fases de implementação da tecnologia no Brasil.
O país adotará, primeiro, frequências mais baixas – em especial a faixa de 3,5GHz – que deverão, entre julho e setembro, começar a operar como um novo braço das redes 4G que já funcionam dentro das capitais.
Assirio Bossi aponta duas razões principais que podem ter desencadeado nas desistências. A primeira é que as empresas, de pequeno porte em comparação aos grandes atores do mercado, teriam dificuldade de competir, em especial no interior do Brasil. A segunda seria a necessidade de investimento em infraestrutura, que precisarão ser implementadas para que as frequências mais altas, hoje ocupadas por sinal de televisão analógica, funcionem.
Em muitos casos, pontua, “a multa [relativa à desistência] pode ter valor menor do que o investimento”. O professor ressalta que, devido à diferença nas frequências dos lotes leiloados, a saída das empresas do mercado de 5G não deve afetar o cronograma de implementação.