Turismo

Ecoturismo é aposta para se reinventar na crise no período pós-pandemia

Destino em meio à natureza deverá ser primeira opção de turistas no Estado

Por Daniele Franco
Publicado em 06 de julho de 2020 | 03:00
 
 
Honório Bicalho, trecho da Estrada Real que passa por Nova Lima, é um dos pontos turísticos que cidade prepara para turistas Foto: Flávio Tavares

Um dos setores mais afetados pela interrupção das atividades com a pandemia do novo coronavírus, o turismo em Minas Gerais vê nas atrações em meio à natureza uma forma de se reinventar após a crise. A tendência de aumento na demanda por destinos ecoturísticos foi notada em uma pesquisa do Observatório do Turismo de Minas Gerais, que constatou que os viajantes vão optar por visitar locais abertos, em contato com a natureza, após a pandemia. 

“Entendemos que o turista passa a ter o comportamento de querer locais abertos pela falta do contato com a natureza durante a pandemia e, ao mesmo tempo, um resgate pelo que lhe é caro”, destaca a subsecretária de Turismo da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), Marina Simião. A tendência vai ao encontro de um dos focos estabelecidos pela pasta antes mesmo de se instalar a crise do novo coronavírus no mundo, que é a promoção de Minas para os próprios mineiros. 

De acordo com Marina, as pesquisas apontam que as viagens deverão passar a ter uma distância máxima entre 150 km e 200 km do local de origem, um dos fatores que influenciaram a decisão da secretaria. “Depois da pandemia, o turista vai preferir rotas que ele possa fazer usando o próprio carro, tanto pela segurança sanitária quanto pela praticidade, e Minas tem opção turística para essas pessoas em todas as regiões”, salienta a gestora, que cita os parques estaduais e nacionais como alguns dos pontos que podem receber muitos dos viajantes.

O Circuito do Ouro, que engloba 17 cidades mineiras, prepara-se para atender o novo comportamento dos turistas. Segundo a presidente da Associação do Circuito do Ouro, Fabiana Giorgini, as cidades estão trabalhando para seguir as novas demandas.

“As pesquisas apontam que o turismo vai acontecer com viagens curtas e próximas. Temos um grande emissor, que é Belo Horizonte, e precisamos nos estruturar para receber esses turistas”, detalha Fabiana, que também é secretária de Turismo de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Cidades se preparam para nova realidade

Cidades que compõem o Circuito do Ouro estão se preparando para a nova tendência do turismo. Nova Lima, na região metropolitana, pretende apostar em trilhas autoguiadas para apresentar as belezas naturais da região. Segundo a secretária de Turismo, Fabiana Giorgini, “a ideia é fomentar as visitas em locais como Honório Bicalho, o trecho da Estrada Real que passa na cidade”.

Barão de Cocais, na região Central, também está investindo no ecoturismo. “Possuímos muitas riquezas naturais, paisagens e locais propícios para várias práticas esportivas. Esse segmento pode contribuir para o desenvolvimento sustentável e para a diversificação econômica do local”, diz o secretário de Turismo da cidade, Gabriel Cassoli. Barão de Cocais já havia sofrido um impacto no turismo com o risco de rompimento da barragem Sul Superior, da mina de Gongo Soco, em 2019. Segundo Cassoli, um dos desafios é dissociar a imagem negativa criada pelos riscos. “Os locais onde a atividade turística acontece não estão em risco”, defende.

Congonhas, cidade histórica da região Central cuja realidade das barragens também impactou o turismo, tem focado a retomada como destino cultural, já que o município é mundialmente conhecido pela Basílica de Bom Jesus de Matosinhos, onde estão os 12 profetas esculpidos por Aleijadinho. O diretor de Turismo de Congonhas, Syllas Marinheiro, destaca que o trabalho é desenvolvido em conjunto com Belo Vale, cidade vizinha, que vai compor uma rota turística com permanência mais longa. “Temos outros atrativos interessantes, como a igreja matriz e a igreja do Rosário”, detalha. Um app está sendo desenvolvido pelo município para conduzir o turista.

Prejuízos no setor

O setor de turismo em Minas já registrou R$ 5 bilhões neste ano, até abril. O Observatório do Turismo constatou que as empresas do ramo estão perto da falência, com a maioria das que ainda não fecharam tendo entre dois e três meses restantes de fluxo de caixa.

A média de queda no faturamento foi de 75%, e 40% deles preveem demissões. Apenas no setor hoteleiro, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais, 64% dos empreendimentos hoteleiros encerraram as atividades na pandemia – dos 3.971 estabelecimentos que atuavam no Estado, 2.540 foram fechados. As demissões no setor chegam a 6.000. 

Abih-MG oferta aulas

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais (Abih-MG), Guilherme Sanson, conta que a entidade tem ofertado aulas para os associados a fim de auxiliar os gestores hoteleiros a sobreviverem no período da pandemia. Pensando na tendência do turismo depois da crise, Sanson afirma que tem feito interlocuções com o governo do Estado e com os empreendedores para criar pacotes e protocolos.

“Temos relatos de operadores e receptivos que já demonstram maior busca por informações sobre pacotes para Minas, e estamos criando pacotes para que essa procura se converta efetivamente em reservas”, explica.