Bichos

Estabelecimentos pet-friendly se proliferam e colhem lucros

Metade dos consumidores que têm bichos de estimação só vai a locais que os aceitam

Por Rafaela Mansur
Publicado em 20 de outubro de 2019 | 02:00
 
 
Marcos Sales Guimarães dá preferência a locais que aceitam, e tratam bem, seu “filho” Renzo Piano, um dálmata Foto: Flávio Tavares/O Tempo

Antes de ir a qualquer lugar, o arquiteto e urbanista Marcos Sales Guimarães, 26, se certifica de que o “filho”, o dálmata Renzo Piano, vai ser bem recebido.

O critério para decidir onde vai consumir e gastar vale para bares, restaurantes, shoppings e todo tipo de estabelecimento. “Dou preferência para locais que aceitam animais. Quando colocam tigelinha de água na frente da loja, por exemplo, faz diferença”, conta Guimarães, que leva Renzo até para o trabalho, onde o cão virou o mascote oficial. “Ele é parte da família. Somos eu, minha mulher e ele”, conta.

Os animais de estimação têm se tornado parte de cada vez mais famílias brasileiras. Nos domicílios do país, há mais cachorros do que crianças: são 44,5 milhões de pessoas com até 14 anos, de acordo com dados de 2018 do IBGE, contra 54,2 milhões de cães, segundo números levantados pelo órgão e atualizados pelo Instituto Pet Brasil.

Por isso, investir na alegria dos bichos e de seus tutores se tornou um bom e lucrativo negócio. Em Belo Horizonte, é cada dia mais fácil encontrar estabelecimentos pet-friendly, isto é, amigos dos animais.

O Porks, casa especializada em carne de porco localizada no Santa Efigênia, região Centro-Sul da capital, não só aceita, como incentiva a presença de pets: quem leva o bicho de estimação para o bar ganha um chope. Os bichos recebem água, e o mimo faz sucesso entre os tutores, “cada vez mais numerosos”, diz o proprietário do estabelecimento, Diogo Manfredini Araújo.

Segundo ele, a política de receber os animais gera retornos financeiros. “Os pets ajudam a termos um ambiente mais alegre e agradável, o que atrai clientes e se reverte em vendas. Ele diz que nunca recebeu reclamações de clientes insatisfeitos com a companhia dos animais. “Mas, se tiver que escolher entre o cachorro e a pessoa que reclamou, a gente escolhe o cachorro”, brinca.

Para a analista do Sebrae Minas Samira Souza, atualmente os estabelecimentos pet-friendly tendem a ganhar mais do que perder, devido às mudanças no comportamento do consumidor.

“As pessoas estão deixando de ter filho para ter animal. O pet não fica mais no quintal, fica dentro de casa como qualquer outro ente da família, e o cliente não quer abrir mão da companhia dele. A demanda tem crescido e vai crescer mais nos próximos anos”, pontua.

Segundo ela, ser pet-friendly se tornou um diferencial positivo para os empreendimentos. “É uma extensão do cuidado com o cliente. Isso traz retorno financeiro para o negócio, porque as pessoas estão dispostas a investir em produtos e serviços alinhados com seu estilo de vida”, diz.

Os números também não deixam dúvidas: a pesquisa mais recente sobre o assunto realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em 2017, mostra que 61% dos entrevistados consideram os pets membros da família e 46% dão preferência a lugares onde a presença dos animais é permitida.

As mesas na calçada, ao ar livre, ajudaram A Pão de Queijaria, na Savassi, também na região Centro-Sul, a se tornar pet-friendly naturalmente. Uma vasilha de água fica à disposição para matar a sede dos bichos que visitam o local.

Lucas Parizzi, um dos proprietários, conta que já viu até porco e pássaro por lá. Ele diz que, embora seja difícil mensurar, ser amigo dos animais é, sim, um atrativo para o negócio: “As pessoas ficam mais à vontade para sair de casa sabendo que vai ter um espaço para ela e o animal serem recebidos”.

A varanda do restaurante L'Entrecôte de Paris, no Lourdes, na mesma região, recebe animais de estimação há cerca de três anos. A média, segundo a gerente Luana Garcia Cavalcante, é de três a quatro pets por semana na casa. “Às vezes o cliente já está na rua passeando com o cachorro, quer almoçar, e uma restrição à entrada do animal pode fazer com que ele escolha outro restaurante”, conta.

Shoppings

O conceito pet-friendly invadiu também os shoppings de Belo Horizonte e da região metropolitana, que veem a tendência como uma oportunidade de crescimento constante. No Pátio Savassi, a estimativa é que cerca de 150 pessoas circulem com animais de estimação por mês. O shopping oferece espaços específicos e carrinho para os tutores passearem com os bichos.

Comercialmente, é um benefício, além de ser uma tendência de mercado. Muitos clientes dão preferência para o shopping por aceitar os cães”, diz o gerente de marketing do mall, Marcelo Portela.

O Boulevard Shopping oferece um kit com luvas descartáveis e saquinho coletor, além do carrinho. “A quantidade de pets nos corredores é cada vez mais frequente”, diz Pedro Barbosa, gerente de marketing do shopping.

No shopping Del Rey, o conceito pet-friendly tem atraído novos consumidores e investidores. O mall recebeu a primeira unidade da Cobasi, uma das maiores redes varejistas de cuidado animal do país, na capital. O shopping tem até vagas de estacionamento para tutores com animais.

“A decisão de tornar o Del Rey um espaço pet-friendly está em linha com os novos modelos de família. É cada vez mais comum a presença dos animais de estimação, em papel de destaque, nos lares brasileiros”, diz a gerente de marketing do mall, Marina Moura.

Saiba mais

Diferencial

Oferecer água e comida é um diferencial e permite que os clientes permaneçam mais tempo no estabelecimento, como orienta o Sebrae Santa Catarina.

Criatividade

Para os empreendimentos que ainda não têm condições de se tornar pet-friendly, uma ideia é promover eventos especiais para atrair esse público, como encontros ao ar livre para que os donos possam levar os pets.