LA PAZ, Bolívia " Num gesto repleto de simbolismo, o presidente da Bolívia, Evo Morales, aproveitou o 1º de maio para firmar um decreto que nacionaliza todas as operações de gás e petróleo (hidrocarbonetos) do país.

Morales fez o anúncio nas instalações do campo de produção de gás de San Alberto, operado pela Petrobras, na província de Tarija, sudeste da Bolívia. Ele invadiu o local com o Exército.

Logo após ter lido o decreto, soldados das forças armadas atenderam a uma ordem do presidente e ocuparam as 53 instalações de exploração de gás e petróleo que eram até então controladas por empresas estrangeiras.

Pessoalmente, Morales liderou a ocupação simbólica do campo de San Alberto, antes de partir para Cochabamba e La Paz, onde receberia a aclamação popular pela emissão do decreto.

"A hora chegou, o dia esperado, um dia histórico quando os bolivianos reassumem o controle absoluto de seus recursos naturais", disse Evo. "Acabou o saque das empresas estrangeiras". O presidente pediu aos bolivianos que se mobilizem contra quaisquer tentativas de sabotagem das empresas.

"Pedimos às petrolíferas que respeitem a dignidade dos bolivianos. Se não respeitarem, faremos nos respeitar à força porque se trata de respeitar os interesses de um país".

O anúncio da nova lei foi recebido com manifestações de júbilo nacional nas concentrações de trabalhadores que se espalhavam ontem por vários departamentos do país. O texto surpreendeu muitos analistas por seu grau de radicalização.

O decreto 28.701 estabelece que o Estado boliviano passa a controlar todo o processo produtivo do petróleo e do gás bolivianos. A Yacimientos Petrolíferos Federales de Bolivia (YPFB) assume a parte majoritária (50% mais 1) das ações de todas as filiais de companhias petrolíferas estrangeiras que atuam na Bolívia, inclusive a Petrobras, maior empresa atuante na Bolívia.

Com isso, a YPFB se torna a responsável por todas as fases dos negócios do setor " desde a exploração até o transporte do produto, passando pela fixação dos preços para o mercado externo.

 A nova lei não prevê nenhum tipo de indenização às companhias petrolíferas estrangeiras afetadas pela medida. As empresas multinacionais ficarão com o papel de meros operadores da produção e receberão da YPFB uma remuneração de apenas 18% pelos serviços.