O setor de mineração no Brasil apresentou um conjunto de resultados negativos no primeiro semestre deste ano, em função de impactos gerados pelo conflito entre Rússia e Ucrânia e questões políticas da China. Entre os principais resultados apresentados nesta quarta-feira (27) à imprensa, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) citou quedas de faturamento, produção mineral, diminuição das exportações e aumento nas importações.
O combinado levou o saldo da balança comercial no setor a uma queda de 52,5% nos seis primeiros meses deste ano, se comparado com o mesmo período de 2021. Conforme o Ibram, o volume de exportações, em dólares, caiu 23,8% neste ano. A arrecadação total somou US$ 21,1 bi, contra US$ 27,6 bilhões de 2021. Já em relação ao montante enviado ao exterior, a queda foi menor de 7,9%.
No primeiro semestre deste ano, 160,8 milhões de toneladas de minérios deixaram o país rumo a outros territórios, contra os 170,4 em 2021. O minério de ferro foi a matéria prima com a redução mais acentuada, de 30,1% em bilhões de dólares e 13,7% em milhões de toneladas. O resultado se deu pela redução nas compras do insumo pela China, segundo o diretor-presidente do Ibram, Raul Jungmann.
“Várias siderúrgicas chinesas reduziram a produção para possibilitar que as olimpíadas de inverno se realizassem em melhores condições climáticas e ambientais. E a redução da produção das siderúrgicas chinesas levou ao aumento de estoques portuários de minério de ferro nos portos na China”, detalhou Jungmann. O representante do Ibram ainda citou que a volta de lockdowns para conter avanços da Covid-19, prática comum no governo do presidente Xi Jinping, também trouxe problemas.
O protocolo sanitário reduziu as demandas por aço no país na indústria e estagnou o processo de aquisição de matéria prima no país. No caso das importações, o movimento foi contrário, sob a pressão gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia na demanda por fertilizantes. O Ibram contabilizou alta de quase 200% em valores gastos para trazer insumos de fora do Brasil.
Por outro lado, quando se leva em consideração o volume importado em toneladas a alta foi de 5%. Os principais produtos importados foram o potássio e carvão vegetal, em que os aumentos em milhões de dólares alcançaram 314% e 222%, respectivamente. O enxofre também teve movimento semelhante, se comparado com o primeiro semestre de 2021, com elevação de 102%, de acordo com o Ibram.
O diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Ibram, Júlio Nery, afirmou que o resultado decorre da dependência brasileira em obter principalmente potássio do leste europeu. Mesmo com a crise, a Rússia ainda ocupou a segunda posição no ranking de principais fornecedores do insumo ao Brasil, sendo responsável por 27,5% do total de potássio que chegou ao território nacional.
O país ficou atrás apenas do Canadá, que liderou as importações com 32,5% do volume total. “O Brasil está procurando outras fontes possíveis e o Canadá é uma das boas opções para o fornecimento de potássio”, frisou Nery, mas reforçando um pedido para que sejam realizados estudos técnicos que possam permitir a exploração do insumo no Brasil. “Esperamos que a situação (entre Rússia e Ucrânia) possa ser resolvida. Segundo semestre, no Brasil, é a hora do plantio no agronegócio, véspera das chuvas e a força de plantio vai demandar bastante fertilizantes”, avaliou.
Queda de produção
O cenário internacional desfavorável fez com que a produção mineral no Brasil, no primeiro semestre, tivesse queda de 9% neste ano, segundo o Ibram. Foram 441 milhões de toneladas produzidas entre janeiro e junho deste ano, contra 483 milhões em 2021. A situação também despencou a arrecadação do setor no primeiro semestre. A queda observada foi de 56,2%.
Em 2022, o faturamento atingiu R$ 57 bilhões, enquanto no ano passado o montante no período somou R$ 113,2 bilhões. Nos Estados, a situação nos dois principais territórios mineradores no Brasil também registrou redução de arrecadação. Em Minas Gerais, a retração foi de 26%, enquanto o Pará observou uma subtração financeira 37% menor neste ano.
A arrecadação de impostos seguiu a movimentação de reduções nas exportações e encolhimento de produção e faturamento. Até junho, o balanço do Ibram contabilizou queda de 24% na arrecadação tributária, saindo de R$ 51,4 bilhões em 2021, para R$ 39 bilhões em 2022.
Somente a taxa de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), que é paga aos municípios mineradores, retraiu 25% e as cidades deixaram de receber R$ 3,4 bilhões.
Empregos
Apesar dos resultados negativos, o Ibram identificou que o setor mineral é responsável por 201.658 empregos diretos. O dado foi extraído do Caged, em maio. “Cada vaga direta corresponde a outras 11 na cadeia produtiva, o que representa mais de 2 milhões de empregos. Em janeiro o total de empregos diretos era 198 mil”, informou o instituto.