Em menos de 20 anos, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos terá se equiparado ao de jovens no país. Com o envelhecimento da população e normas mais rígidas para a aposentadoria, especialistas acreditam que o acolhimento dos mais velhos no mercado de trabalho será inevitável. Até lá, porém, ainda demanda programas de recrutamento exclusivos e iniciativas de requalificação para ser ampliado. 

“Hoje, o preconceito é a maior barreira, porque ainda somos um país onde a força jovem é muito valorizada. Mas o Brasil vai ficar sem mão de obra jovem. Em um futuro próximo, projetos sociais de inclusão ainda terão muita importância, mas, no futuro mais distante, quando o número de jovens e idosos se igualar, o processo será mais naturalizado, como estamos tentando naturalizar as questões de gênero, raça e orientação sexual no mercado”, avalia a presidente do Conselho Municipal do Idoso de Belo Horizonte e coordenadora da Rede Cidadã, Fernanda Matos, que capacita idosos para reinserção no mercado de trabalho.

O projeto, que atende idosos em BH desde 2015, atua em várias frentes, desde o reconhecimento dos direitos dos idosos por eles mesmos à reflexão sobre os rumos profissionais que ainda desejam tomar. No caso da vendedora e administradora Tânia Oliveira, 68, uma das participantes, a labuta é questão de sobrevivência. 

“Trabalho desde os 14 anos e nunca tinha sido demitida na vida, até os 63. Fui substituída por uma moça de 21 anos. Eu estou aposentada e, não vou mentir, se ganhasse uma boa aposentadoria, não trabalharia mais para ninguém e só aproveitaria a vida, mas preciso pagar meu aluguel. Hoje, trabalho informalmente para uma amiga há quase um ano, mas, quando estava procurando emprego de vendedora, função na qual tenho experiência, ouvi que era muito velha para as necessidades de uma empresa. Tentei vender bombons na rua por conta própria, mas não deu certo”, diz.

 

O empreendedorismo por necessidade, como em outros segmentos, também deve ter alta entre a população idosa, analisa Mórris Litvak, CEO da plataforma Maturi. “A tendência é termos cada vez menos emprego formal. Trabalhar por conta própria, por um lado, é ruim, já que não tem os benefícios da CLT. Por outro lado, abre novas oportunidades”, diz. Dos cerca de 160 mil inscritos na plataforma, apenas cerca de 4.000 conseguiram trabalho formal. Recentemente, ela começou a conectar pessoas a vagas de freelancer e também tem parceria com grandes empresas, como a Credicard, para contratação de profissionais sêniores.

“Estamos lidando com uma situação irreversível: a expectativa de vida só tem aumentado, as pessoas estão tendo menos filhos, e vamos continuar tendo que sustentar a economia do país. Claro que as pessoas com mais de 60 vão permanecer por muito tempo no mercado de trabalho, é algo que já começou. Para o início dessa transição, acho que cotas em empresas podem ser interessante, mas vai chegar um momento em que o envelhecimento do país vai obrigar a contratação, porque não teremos mais jovens para contratar”, avalia a professora de ciências sociais e gerente de projetos do Instituto Ânima, que conduz oficinas para idosos, Naiane Loureiro. 

Serviço: veja como contatar as entidades citadas nesta reportagem:

Rede Cidadã: programa Rede Sênior, para idosos, deve ser reaberto ainda neste ano. Site: redecidada.org.br. Telefone: (31) 3290-8000.

Senac: cursos livres, técnicos, graduação e MBA. Cursos gratuitos pelo Programa Senac de Gratuidade. Site: mg.senac.br. Telefone: (31) 3057-8600 (Capitais) 0800-724-4440 (demais regiões).

Maturi: cadastro de currículo, busca de vagas e cursos gratuitos. Site: maturi.com.br

Universidade Aberta à Pessoa Idosa, do Instituto Ânima: cursos de memória e história, espanhol, nutrição, cultura e arte e prevenção à queda com inscrições abertas e gratuitas. Serviço também orienta sobre casos de violência emocional, física e financeira contra idosos. Telefone: 4003-3126.