Quem deixou para fazer as compras de Natal de última hora enfrentou filas quilométricas nas lojas de departamento. As roupas estão no topo do ranking dos presentes escolhidos pelos consumidores, segundo uma pesquisa de dezembro da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). Para evitar a espera e minimizar o aborrecimento dos clientes, as grandes redes têm investido cada vez mais no autoatendimento. 

Nesta sexta-feira, 23, a cozinheira Jéssica Sara da Silva, de 29 anos, experimentou pela primeira vez o totem de autoatendimento da Renner. À princípio, ela achou bem confuso. “Eu cheguei e tinha umas compras de outra pessoa e o sistema estava colocando as roupas dela junto com as minhas. Eu tive que tirar as delas, atualizar a sacola e colocar as minhas pra conseguir”, explica. Apesar disso, ela aprovou a novidade, mostrando a fila de cerca de 30 pessoas que esperavam no caixa ao lado. 

Os caixas de autoatendimento da Renner utilizam uma tecnologia antiga, conhecida como RFID (Identificação por radiofrequência), que utiliza ondas de rádio para coletar informações de objetos. Basta o cliente colocar os produtos no caixa, que o sistema identifica quais são eles, faz a soma da compra, desativa o alarme das peças e gera a impressão da nota fiscal. 

Nesse fim de ano, o totem da Renner acabou virando tema de discussão no Twitter após uma publicação da influencer Bianca Müller, conhecida como Bic Müller. Bianca ficou surpresa com o sistema utilizado nas lojas. “Não tem que passar nada na leitora. Tu só joga a sacola ali e ela diz tudo o que você colocou e quanto que deu”, escreveu em uma publicação na rede. 

Eu to é chocadérrima com o autoatendimento da Renner, que não tem que passar nada na leitora
Tu só joga a sacola ali e ela diz tudo que você colocou e quanto que deu

— Bic Müller  (@bicmuller) December 21, 2022

Segundo a Renner, o investimento na digitalização dos processos vêm desde o início da pandemia. “Os totens dão autonomia para o consumidor, aceleram o tempo de registro dos produtos, pagamento, desativação das etiquetas de alarme e emissão da nota fiscal, pois permitem a leitura simultânea em um único compartimento de todos os itens adquiridos pelos consumidores”, informou a empresa em nota. 

A C&A também oferece terminais de autoatendimento em suas lojas. O próprio cliente registra os produtos por meio da leitura óptica (leitura do código de barras), realiza o pagamento e faz a desativação dos alarmes. “Cada vez mais, principalmente com o advento da pandemia, percebe-se um cliente mais objetivo e prático”, informou a marca por nota. 

Autoatendimento é tendência, diz economista

Para Cleyton Izidoro, professor de economia e finanças, o maior investimento em canais de autoatendimento não arrisca postos de trabalho. “Na verdade, é um novo patamar: você sai do operacional para o intelectual. É a própria evolução laboral”, explica.  

O professor lembra que o sistema de autoatendimento já vem sendo utilizado em supermercados, redes de fast food e grandes lojas de construção da capital e que a tendência é que a adesão aumente no comércio. Segundo o professor, a mudança, num primeiro momento, assusta, mas é uma questão de tempo até se habituar à novidade. “Hoje em dia, você mesmo coloca R$ 1 real na maquininha e calibra o pneu do carro”, exemplifica. 

Izidoro ainda observa que essas novas tecnologias facilitam muito a vida do lojista, não só na redução de despesa, com um melhor gerenciamento do estoque, mas também na questão das vendas. “Está tudo integrado. Você sabe de forma muito mais rápida o que tem no estoque”, explica. Para ele, o autoatendimento vai dar uma guinada em um curto espaço de tempo.

Saiba o que é, como funciona e onde pode ser aplicado o RFID  

Renato Franzin, especialista da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), explica que o RFID (Identificação por radiofrequência) é uma tecnologia conhecida e utilizada há bastante tempo. “Em loja de roupa é fantástica, pega vários itens de uma vez”, observa. 

Nessa tecnologia, dados digitais codificados em etiquetas são capturados por um leitor por meio de ondas de rádio. Parece um código de barras, mas tem a vantagem de não precisar ser alinhado a um scanner óptico. 

Franzin conta que o sistema RFID utilizado nas lojas de departamento é similar ao “Sem parar”, utilizado em pedágios, estacionamentos e postos de combustíveis. Nele, um selo RFID colado no veículo, é lido a alguns metros de distância e permite a passagem do veículo. A diferença, segundo o especialista, está nos padrões de distância de leitura, que se adaptam à necessidade de cada serviço.  

Ele conta que, em grandes redes de vestuário na região do Brás, em São Paulo, o RFID já vem sendo usado. “Como o volume é muito grande, não são só três ou quatro peças, os lojistas adotaram essa tecnologia. Ajuda ainda na prevenção de perder produtos na hora da contagem”, conta. 

Para Franzin, a tecnologia é incrível para quem trabalha com a logística dessas marcas. “Você escaneia e já vê se tem a calça M. Você está lidando em tempo real com a caixa de vendas. O caminhão amanhã já sai pra loja com os produtos necessários”, destaca.