Enquanto o governo brasileiro enfrenta a difícil missão de levar médicos para atuarem em cidades distantes dos grandes centros, o país enfrenta também um problema na formação de profissionais. De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a maioria dos cursos de medicina abertos no Brasil nos últimos cinco anos não atendem aos requisitos considerados essenciais para oferecer uma boa formação aos futuros médicos.
A entidade verificou que quase metade das 75 escolas médicas abertas desde 2018 estão localizadas em cidades onde não há equipes de Saúde da Família suficientes para absorver os estudantes. Além disso, 87% não oferecem pelo menos cinco leitos públicos de internação hospitalar para cada aluno no município sede de curso.
O conselho viu ainda que 90% dos municípios que receberam os novos cursos não possuem um hospital de ensino. Ou seja, fica muito mais difícil para o estudante colocar em prática o que tem sido aprendido em sala de aula, “o que pode comprometer sua atuação em diagnósticos e tratamentos, deixando a população exposta a riscos”, segundo a entidade.
Mais de 6 mil vagas foram abertas nos cursos de medicina criados nos últimos cinco anos, sendo 96% delas na rede privada de ensino. Nos últimos dez anos, foram abertas mais de 15,5 mil novas vagas em cursos de medicina, passando de 25.321 (2013) para 40.306 (2023).
Atualmente, o Brasil conta com 389 faculdades de medicina, número superior ao de países mais populosos, como China (164) e Estados Unidos (196). Por isso, para o CFM, abrir escolas não tem sido suficiente para levar médicos para cidades onde há grande demanda.
“O Brasil precisa rever suas políticas e programas de distribuição e fixação de médicos. Abrir novas escolas não resolve e não resolverá o problema da saúde pública no país”, diz o presidente do CFM, José Hiran Gallo.