A psicanalista Débora Herold sempre quis ser mãe. Mas só neste ano, aos 45 anos, ela pôde realizar seu sonho, após tratamentos, fertilização in vitro e e um aborto espontâneo. “Foi o momento mais esperado da minha vida”, conta ela. E para a chegada do Rafael, numa cesárea programada em março deste ano, ela não economizou, investindo quase R$ 30 mil, entre gastos com suíte especial na maternidade, obstetra e anestesista próprios, ‘brunch’ receptivo, lembrancinhas para visitas e registro em foto e vídeo. Segundo uma apuração da reportagem de O Tempo, um parto de luxo na capital mineira pode custar até R$ 50 mil [veja abaixo]. Há de menu de alta gastronomia, a R$ 830, até conjuntinho personalizado para mamãe e bebê, a partir de R$ 800.
O parto de Débora foi realizado em uma das oito suítes master do Hospital Mater Dei, no bairro Santo Agostinho, em Belo Horizonte. O plano de saúde não cobre. Então, na época, ela desembolsou R$ 2.030 na diária e contratou os serviços de um renomado obstetra da cidade, além de um anestesista, com honorários próprios.
A suíte, espaçosa, conta com uma sala própria para receber convidados. Nela foi montado um receptivo com o Atelier Lamica, especializado em maternidade e batizados. “Tinha água, sanduíche, bem-nascido… Para as crianças, umas embalagens com bala de goma e chocolate. Ela coloca flores. Fica tudo muito bonito”, detalha Débora.
A psicanalista também investiu quase R$ 4.000 em xícaras de porcelana, pintadas à mão com as iniciais do filho, para que familiares e amigos pudessem levar de lembrança para a casa. Os mimos vieram de Santa Catarina.
A proprietária da Lamica, Camila Rodrigues Guimarães, de 35 anos, conta que 80% do faturamento do seu negócio é no segmento de maternidade e que já atendeu filhos de famosos, como Zaya, do Hulk, e Luigi, do Guilherme Arana, jogadores do Galo. “Eu faço tanto as lembranças quanto ofereço o serviço de montagem. A mãe vai para o hospital e quando a família chega no quarto já está tudo pronto”, detalha.
Em média, seu serviço custa R$ 3.000, sendo R$ 1.500 pela montagem no dia do parto e o restante dividido com os gastos com flores, 30 bem-nascidos e 30 brownies, além da decoração personalizada. Toda a identidade visual também é criada pela Lamica.
Lembrancinhas para o nascimento de Zaya, filha do jogador Hulk, do Atlético. Fotos: Camila Guimarães/Arquivo pessoal
O catálogo da marca é extenso e tem desde velas, sabonetes e caixinhas de biscoito à peças de prata. Das excentricidades dos pedidos, ela lembra de uma mãe que quis como lembrancinhas garrafas de cerveja. “O avô já era falecido e costumava dizer que quando o menino nasce, se comemora com cerveja e menina era champanhe”, conta.
Neste ano, a Lamica já fez 24 receptivos de maternidades. “No ano passado inteiro foram sete. Em nove meses, já triplicou a demanda”, conta Camila. O negócio, que começou em casa, hoje tem sala própria e conta com duas funcionárias. “Eu era advogada e abandonei a carreira porque meus pais ficaram doentes. Comecei a pensar em uma coisa para abrir um negócio e este serviço já tinha em vários hospitais de São Paulo. Percebi que em BH não tinha”, explica.
Camila não fecha contratos de última hora, mas fica disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, para as clientes com quem fecha negócios. “Quando ela me liga, já vou buscar flores, os bem-nascidos, tudo novinho e fresquinho. Faço toda essa correria para atender a expectativa da família”, detalha.
Já a empresária Sara Cardoso, de 43 anos, proprietária da Deliciere Fábrica, perdeu as contas de quantos “incêndios” já apagou, atendendo encomendas de última hora. Ela faz bem-nascidos, ou melhor, os seus bem-gostosos, bolos búlgaros, brownies ou fudge, espécies de ‘palha italiana de rico’, como ela gosta de nomear, em brincadeira.
Há quase dez anos ela atua na Deliciere, depois de abandonar a advocacia e se profissionalizar na área. Só com os bem-gostosos, sua marca fatura cerca de R$ 16 mil por mês, incluindo também vendas para eventos corporativos e outras datas, como casamentos. Isso representa aproximadamente 30% da sua receita mensal.
Cada bem-gostoso sai a R$ 3,90 e R$ 8,30 no caso dos personalizados, que ganham embalagem de papel crepom, laço e tags personalizadas. “Tem grávidas que são mais precavidas e, faltando três a quatro meses para o parto, já pedem orçamento da lembrancinha. Outras ganham o neném e pedem para entregar. Graças a Deus, atendo a demanda porque tenho uma produção diária. Sempre deixo estoque razoável”, conta Sara.
Maria Emília de Paula e Carolina Wischooff, proprietárias da loja Zero a Oito
Moda exclusiva para a maternidade
Quem também enxergou uma oportunidade de negócio na maternidade e vem lucrando com isso, é a empresária Carol Wischhoff, de 40 anos, sócia-proprietária da Zero a Oito. Há três anos, ela criou a marca, especializada em enxoval para a hora do parto. Entre os produtos oferecidos estão calcinhas e sutiãs para parturientes, camisolas para amamentação, conjuntinhos combinando para mãe, bebê e irmãos e roupinhas com nome da criança. A empresa cresceu 40% no último ano e a previsão é de um crescimento de 30% em 2023.
“Eu sou mãe e a ideia surgiu logo após ter meu primeiro filho, com base nas minhas próprias necessidades de ter um estilo de enxoval diferenciado; algo em sintonia da mamãe e o bebê. Esse momento é tão único e especial para nós mulheres, que merece ser vivenciado da melhor forma”, explica.
Atualmente, o produto mais vendido pela Zero a Oito é o look completo mãe e bebê para a maternidade, que conta com camisola, robe, gorrinho e mantinha para o recém-nascido, e sai a partir de R$ 800. A marca atende cerca de 300 clientes por mês em todo o país.
Quanto pode custar um parto de luxo em BH?
- Equipe de parto (obstetra, enfermeira e doula): de R$ 14.500 a R$ 28.900
- Diária na maternidade: de R$ 4.270 a R$ 10.800
- Menu especial gastronômico: de R$ 210 a R$ 830
- Fotografia e vídeo: R$ 900 a R$ 4.500
- Lembrancinhas e montagem no dia: média de R$ 3.000
- Saída da maternidade mãe e bebê (manta, gorrinho e robe): De R$ 408 a R$ 800
TOTAL: entre R$ 23.288 e R$ 48.830
Fonte: com base nos valores informados pelas fontes entrevistadas para a reportagem.