A gasolina alcançou o maior preço médio no Brasil da história ao ultrapassar a barreira de R$ 4 por litro no final de novembro, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que acompanha a evolução dos preços dos combustíveis desde 2003. Esse valor histórico da média nacional foi ultrapassado nos postos de Belo Horizonte na sexta-feira, ao bater os R$ 4,19 por causa da escassez do produto nos estabelecimentos da capital devido a uma greve dos transportadores (tanqueiros) ocorrida entre quinta e sexta-feira da semana passada. Nessa terça-feira (12), a Petrobras anunciou um novo reajuste para os combustíveis, com aumento de 1,1% no preço da gasolina nas refinarias e alta de 1% no do diesel. Os novos valores valem a partir desta quarta-feira (13).
De junho a novembro de 2017, o preço médio da gasolina no Brasil disparou e subiu 19,5%, em um período em que a inflação medida pelo IBGE foi de 1,06%. Desde julho, a Petrobras adota uma política flutuante de preços de acordo com o câmbio e o preço do petróleo no mercado internacional. “O Brasil sempre teve uma posição contraditória frente ao mercado internacional. Em 2012, quando o barril estava alto, na faixa de US$ 100, o governo segurava os preços. Agora, que o barril está em torno de US$ 50, vemos esses aumentos constantes. Nos Estados Unidos, a gasolina nunca esteve tão barata”, diz a pesquisadora do Centro de Estudos de Energia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Energia), Fernanda Delgado. A queda no preço do petróleo no mundo atingiu seu ápice no início de 2016, quando chegou a US$ 30, e tem tido altas em 2017. E os avanços da Petrobras são baseados nessas altas, mesmos com o preço internacional do barril menor agora do que em anos anteriores.
O coordenador do curso de economia do Ibmec-MG, Márcio Salvato, explica que além das atuais altas internacionais, o câmbio também tem feito o preço subir no postos neste ano. “A desvalorização do real ajuda na alta do preço, o que já é um problema interno causado pela instabilidade do país”, afirma.
Os especialistas concordam que uma política de flutuação ainda é melhor do que segurar os preços de forma artificial como foi feito pelos governos do PT. “A política de represar o preço do combustível acabou com o caixa da Petrobras, que pagou a diferença do preço e agora está endividada. Para fazer caixa, ela adotou essa nova política. Quem paga é o consumidor”, explica Fernanda. “No médio prazo, a política de variação pode ser positiva para o consumidor, que se beneficiaria de um preço menor em caso de queda do valor do petróleo. Mas, no Brasil, a gente nunca viu isso, de cair preço”, avalia Fernanda.
Segundo Salvato, os postos também têm dificuldade na hora de precificar. “Costumam segurar o preço por um tempo e subir na bomba após aumentos sucessivos. Quando o combustível chega mais barato, eles não repassam porque estão se preparando para a próxima alta”, explica Salvato. “A política da Petrobras causa atualizações constantes no preço. Estamos aprendendo a precificar”, admite o diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado (Minaspetro), Bráulio Chaves.
“A gasolina sempre foi cara no Brasil por causa da carga tributária”, afirma o coordenador do curso de economia do Ibmec-MG, Márcio Salvato. Atualmente, cerca de 45% do preço da gasolina é formado por tributos, entre estaduais e federais. Para a pesquisadora do Centro de Estudos de Energia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Energia), Fernanda Delgado, a desoneração seria uma boa alternativa para diminuir o peso dos constantes aumentos do combustível.
“A política de variação de preços de acordo com o mercado internacional é importante para a Petrobras. Com ela, a empresa vai mostrar ao mercado que tem uma política mais ligada ao mercado, e não de tabelamento feito pelo governo. Por outro lado, a conta fica com o consumidor. Por isso, o governo poderia diminuir a carga tributária do combustível”, propõe.
Para Fernanda, um risco que o aumento do preço da gasolina e do diesel traz é a pressão inflacionária, pois encarece preço de frete, do transporte públicos e da geração de energia pelas térmicas que usam diesel. “O perigo existe. A inflação não está subindo porque, na economia como um todo, não estamos tendo demanda para consumir a oferta de produtos”, explica.
Acordo. Representantes do Sindicato dos Transportadores de Combustível e Derivados do Petróleo de Minas Gerais (Sindtanque) e do governo do Estado se reuniram nessa terça-feira (12). Ficou acertada a manutenção da alíquota do ICMS do óleo diesel em 15%, além do apoio na interlocução com o governo federal para tratar de outros impostos.