Com milhões de seguidores nas maiores plataformas da internet, os principais youtubers brasileiros que ensinam sobre finanças pessoais e investimentos resolveram, nos últimos anos, apostar no mercado editorial – e acabaram tão bem-sucedidos quanto nas redes.
Na lista dos dez livros mais vendidos no país no ano passado, compilada pela consultoria Nielsen, três títulos são de autoria de influenciadores digitais especializados em educação financeira: “Do Mil ao Milhão”, de Thiago Nigro, em terceiro; “Seja Foda!”, de Caio Carneiro, em quarto; e “Me Poupe!”, de Nathalia Arcuri, em nono.
Frente ao poder de alcance e financeiro do conteúdo digital, o livro surge, à primeira vista, como um meio pouco afeito a gerar lucros. Em 2019, segundo levantamento da Nielsen e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), o mercado editorial nacional encolheu 6,21% em faturamento e 6,35% em volume na comparação com 2018.
Mas, para os youtubers, as vantagens de colocar as ideias no papel vão desde a possibilidade de fisgar outro público, menos antenado às redes sociais, até a oportunidade de aprofundar as próprias ideias.
Fundador do canal O Primo Rico, com mais de 116 milhões de visualizações e 3 milhões de inscritos, Thiago Nigro lançou “Do Mil ao Milhão” no fim de 2018. Até agora, o paulista, que ensina os seguidores a terem sucesso no mercado financeiro, calcula ter vendido cerca de 500 mil livros e ganhado R$ 1 milhão com a publicação.
No entanto, ele afirma que a escrita foi uma forma de alcançar autoridade na área – e, por consequência, atrair pessoas para palestras, eventos e cursos. “Quando você tem uma receita com um livro, significa que você está fazendo muito mais receita com outros produtos”, explica. “Tem muita gente que gosta do conteúdo que faço e pode presentear parentes e amigos”, conta o investidor.
Para além do alcance, o youtuber também se viu desenvolvendo um método de ensino durante o processo de redação. Na publicação, as dicas nos vídeos viraram três pilares: “gastar bem, investir melhor e ganhar mais”. “Até escrever o livro, eu não tinha a clareza de qual era o meu método. Nele, me obriguei a refletir muito para pensar em qual é a minha metodologia”, diz.
Para Nathalia Arcuri, do canal Me Poupe!, que tem mais de 219 milhões de visualizações e 4,4 milhões de assinantes no YouTube, o suporte do papel virou uma oportunidade de passar os ensinamentos sobre educação financeira, o que considera sua missão, para um número maior de pessoas.
No primeiro semestre de 2018, ela lançou “Me Poupe!: 10 Passos para Nunca Mais Faltar Dinheiro no Seu Bolso” por sugestão da editora. “Seria um novo ponto de contato para quem de repente não está na internet, para quem não está no YouTube, que é o meio onde a gente tem mais influência”, diz ela, que também colocou uma versão do livro em encartes de grandes revendedoras, como a Avon.
“Cada vez mais eu percebo que muita gente veio por meio do livro, que não conhecia o canal, não me conhecia das redes sociais e me conheceu por conta do livro”, completa a paulista.
Nathalia figura como a única mulher na lista dos dez mais do mercado editorial de 2019. Para ela, o sucesso foi inesperado. “Na noite de autógrafos, foram mais de mil pessoas. Eu não esperava”, conclui.
Número de seguidores não garante sucesso
Além de Thiago Nigro, Caio Carneiro e Nathalia Arcuri, outros dois influenciadores digitais figuram na lista dos livros mais vendidos no Brasil no ano passado: Lucas Netto, com “Brincando com Luccas Neto” e “As Aventuras na Netoland com Luccas Neto”, em quinto e sexto lugares, respectivamente; e o coach Paulo Vieira, com “O Poder da Autorresponsabilidade”, em sétimo, e “O Poder da Ação”, em décimo lugar.
Segundo o consultor editorial Eduardo Villela, porém, o simples fato de se ter um grande número de seguidores não garante o sucesso no mercado de livros.
“Há a ideia de que é só alguém que tem entre 500 mil e 1 milhão de seguidores escrever um livro que vai vender. Isso é uma inverdade. Esses youtubers estão vendendo porque fizeram um conteúdo com qualidade, com uma metodologia, que não é uma mera repetição do que eles falam nas redes”, explica.
Um livro de má qualidade, para Villela, pode inclusive colocar em xeque a reputação de um influenciador. Se você pegar os vídeos mais assistidos do canal e transcrever, não vai vender. As pessoas não são bobas, e isso cria um efeito reverso no boca a boca”, diz ele.
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