Contagem

DATATEMPO: Bolsonaro transfere mais votos para Marília do que para a direita

Entre aqueles que disseram ter votado no ex-presidente em 2022, 37,4% escolheriam a petista nas eleições de outubro

Por Gabriel Ronan
Publicado em 16 de abril de 2024 | 06:01
 
 
Marília Campos (PT) tentará a reeleição em Contagem Foto: Willian Dias/ALMG

Apesar de integrar o quadro do PT durante toda a sua carreira política, a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), atrai a maioria dos eleitores que dizem ter votado em Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial de 2022. Conforme pesquisa DATATEMPO, 37,4% dos bolsonaristas dizem que votariam em Marília Campos para a disputa de outubro na cidade.

O cruzamento entre bolsonaristas alinhados a Marília supera a vinculação de eleitores do ex-presidente com pré-candidatos de direita em Contagem. De acordo com o DATATEMPO, 21,2% dos eleitores de Bolsonaro votariam em Cabo Junio Amaral (PL), deputado federal do mesmo partido do líder conservador. Outros 16,9% iriam com o também deputado federal Felipe Saliba (PRD), e 1% com o professor Gustavo Olímpio (PSTU). Há, ainda, 13,1% de brancos e nulos e 10,4% de indecisos entre os eleitores de direita.

Oposição

Pelo lado oposto, a maioria das pessoas que dizem ter votado no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como já era esperado, também pretende escolher Marília Campos no pleito municipal: 84% desse grupo migraria o voto para a atual prefeita. Apenas 2,2% dos lulistas estão com Cabo Junio Amaral; 2,6%, com Felipe Saliba; e 0,7%, com Gustavo Olímpio. Ao mesmo tempo, 5,7% dos que apertaram 13 nas urnas em 2022 dizem que vão anular ou votar branco em Contagem; enquanto 4,8% não sabem ou não responderam.

O desempenho de Marília entre os petistas não surpreende por sua ligação histórica com a legenda. Ainda assim, a prefeita tem tido divergências com a bancada do partido na Assembleia Legislativa. No ano passado, o marido dela, o economista José Prata, chegou a defender o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) proposto pelo governador Romeu Zema (Novo), o que gerou reações contrárias por parte dos deputados estaduais do partido.

Outra divergência aconteceu após a aprovação do projeto de lei que reformou a maneira como se distribui o ICMS da Educação. O novo modelo, aprovado pelos deputados estaduais por unanimidade, tirou dinheiro sobretudo das prefeituras maiores. Nos bastidores, Marília Campos não escondeu o desconforto com a falta de ação dos correligionários para reverter a situação. 

Em março, durante entrevista ao Café com Política, da FM O TEMPO 91,7, a prefeita se pronunciou sobre os problemas com o PT. “Tenho este entristecimento com o distanciamento dos nossos deputados e da direção partidária com as prefeituras. São muitas demandas e pouco recurso. O PT, em nível estadual e federal, tem que dialogar mais com as prefeituras, porque é por meio delas que a gente procura solução para os grandes problemas dos municípios”, desabafou.

Concorrência

Pelo outro espectro político, os candidatos alinhados à direita enfrentam outros desafios. Nascido em Belo Horizonte, Cabo Junio Amaral não tem histórico político em Contagem. Ele disputou sua primeira eleição em 2018, quando ganhou para deputado federal, sendo reeleito quatro anos depois. Ele assumiu, recentemente, a presidência do diretório do PL na cidade.

Para efeito de comparação, o pré-candidato foi o 20º mais votado em Contagem para o cargo de deputado federal em 2022. Pesa ao lado de Cabo Junio, no entanto, a força eleitoral do correligionário Nikolas Ferreira (PL-MG), o mais votado da cidade naquele pleito.

Já Saliba nunca conseguiu se eleger para um cargo público. A cadeira que ele ocupa hoje na Câmara dos Deputados foi herdada do presidente do PRD e ex-deputado, Fred Costa. Nos bastidores, o entendimento é que Fred só deixou o Congresso para cuidar do planejamento do PRD para as eleições municipais. O partido foi o último a surgir no Brasil, criado a partir da fusão entre o Patriota e o PTB, duas legendas que não superaram a cláusula de desempenho. Portanto, a tendência é que Costa volte a Brasília após a eleição.

Pesa a favor do pré-candidato do PRD o desempenho que ele teve em Contagem na disputa por uma vaga na Câmara em 2022. Felipe Saliba foi o sexto mais votado da cidade para o cargo, ficando atrás dos eleitos Newton Cardoso Jr. (MDB), Rogério Correia (PT), Miguel Ângelo (PT), Duda Salabert (PDT) e Nikolas Ferreira (PL).

Caciques nacionais puxam mais apoio que Zema na cidade

A pesquisa do instituto DATATEMPO também perguntou ao eleitor de Contagem, na região metropolitana, qual figurão da política teria mais chance de influenciar seu voto para prefeito na disputa. Nesse recorte, a política nacional mostrou mais força do que a local.
 
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi quem mais se destacou numericamente: 33% dos entrevistados disseram que poderiam votar em alguém apoiado pelo petista. Depois – dentro da margem de erro da pesquisa, que é de 3,1 pontos percentuais – aparece o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com 30,8% das indicações dos entrevistados da cidade. 

O governador Romeu Zema (Novo), por sua vez, teria poder para influenciar 16,5% dos entrevistados na escolha do candidato para prefeito de Contagem. 

Além disso, para 18,5% dos entrevistados, nenhum dos três caciques políticos influenciaria o voto, enquanto outros 1,2% não responderam ou não souberam responder ao questionamento. 

Campanha

A expectativa é que Lula participe da campanha da prefeita Marília Campos (PT), por serem do mesmo partido. A cidade é, inclusive, a maior em todo o país administrada por um quadro do PT. 

Apesar dos problemas entre a prefeita e os deputados petistas nos últimos meses e das declarações de Marília de insatisfação com as direções estadual e federal, a presidente da executiva nacional da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), esteve na cidade quando Marília lançou sua pré-candidatura, em setembro do ano passado.

Pelo lado do governador Romeu Zema e de Jair Bolsonaro, os caminhos podem convergir. O ex-presidente vai participar da campanha do deputado federal Cabo Junio Amaral (PL), e o governador deve apoiar o mesmo candidato, após o diretório municipal do Novo fechar um acordo com o PL para lançar o nome do deputado na cidade. 

O vice na chapa de Cabo Junio deve ser o empresário Márcio Bernardino, que chegou a concorrer à Prefeitura de Contagem pela legenda de Romeu Zema em 2020. Ele ficou em quinto lugar na disputa, com 4,62% dos votos válidos.

Registro

A pesquisa DATATEMPO foi contratada pela Sempre Editora e está registrada no TRE (MG-09912/2024). Foram 1.000 entrevistas domiciliares, entre 5 e 8 de abril. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais para mais ou para menos. O intervalo de confiança é de 95%.