Mesmo que as pesquisas mostrem que a maioria dos eleitores já decidiu seu voto para a eleição presidencial, os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentam correr contra o tempo para convencer os indecisos. Mas, diante de tantas tentativas, onde cada um deles acertou e errou durante a campanha eleitoral? Com o objetivo de mapear esse cabo de guerra que opõe direita e esquerda, O TEMPO ouviu especialistas para jogar luz às trajetórias de ambos, sobretudo a partir do início do segundo turno.

Juliana Fratini, cientista política e organizadora do livro “Ideologia: Uma para Viver” (Matrix Editora), diz que os maiores acertos de Bolsonaro giram em torno da comunicação nas redes sociais. Para ela, o presidente consegue mobilizar mais seus eleitores do que Lula. “Ele construiu um mundo paralelo nesse ambiente sem regulação. O conteúdo que hoje é divulgado é pensado por profissionais. Alguns dos profissionais de marketing digital e político mais renomados do mercado estão na campanha do Bolsonaro. São pessoas que não conseguiram espaço em campanhas de esquerda e centro-esquerda e receberam propostas mais interessantes (da direita)”, diz. Ela cita, ainda, a figura da primeira-dama Michelle Bolsonaro como carta na manga para convencer as mulheres – entre as quais o presidente perdeu no primeiro turno.

Já pelo lado do ex-presidente Lula, Fratini afirma que a principal virtude foi a defesa de uma candidatura que caminhe ao lado da democracia e defende o processo eleitoral atual. O estabelecimento da frente ampla, com antigos adversários, prova isso. “Ele recebeu o apoio comprometido de fato da Simone Tebet (MDB), da Marina Silva (Rede) e do Geraldo Alckmin (PSB). Do Ciro (PDT), eu não vou considerar, porque é um apoio parcial. Os demais realmente entraram de cabeça. Essa capacidade de interlocução foi expandida para formação de fato da frente ampla. Ele conseguiu realizar isso, até com uma declaração de apoio inesperada do João Amoêdo, correligionário do Novo”, afirma.

O cientista político e professor do Ibmec-BH Adriano Cerqueira aponta méritos parecidos nas campanhas de Lula e Bolsonaro. No caso do atual presidente, ele lembra do apoio obtido a partir dos resultados das eleições legislativas. “O ponto positivo foi a adesão política que ele recebeu por conta dos resultados no primeiro turno no Congresso. Houve uma movimentação de governadores e prefeitos também. Ele soube captar bem esse apoio. São lideranças municipais, estaduais e partidos importantes”, diz.

Já pelo lado de Lula, Cerqueira afirma que o ex-presidente contou com apoio de pessoas fora da política. “Ele conseguiu aliar sua candidatura à imagem de defesa da democracia, o que tem sido benéfico para ele”, completa. 

Os erros dos candidatos

Os conflitos com as instituições e com a imprensa são as temáticas mais lembradas quando se discutem erros da campanha de Jair Bolsonaro. Para Juliana Fratini, o presidente, por vezes, parece trabalhar contra a própria imagem. “Os erros são dele próprio. Ele que causa os principais transtornos de campanha, com a postura negativa em Aparecida (SP), por exemplo. Depois, tivemos os comentários sobre as meninas venezuelanas. A questão da desindexação do salário mínimo. A constante briga com o TSE por conta dos processos eleitorais. Ele ganhou as eleições em 2018, mas, mesmo assim, desacredita do processo eleitoral. É como se ele estivesse jogando contra si”, avalia.

Do lado de Lula, a especialista acredita que o petista saiu enfraquecido após as eleições legislativas, o que põe dúvidas na cabeça do eleitor sobre a capacidade de articulação do ex-presidente com o Congresso, caso ele vença amanhã. “Quem será o ministro da Casa Civil se Lula for eleito? Porque essa figura vai ser a responsável por ser interlocutora entre o Executivo e o Legislativo. Se não houver um bom diálogo, Lula terá dificuldade para aprovar suas pautas. Julgo mais importante a definição do ministro Casa Civil do que do ministro da Fazenda”.  

Um ponto de alerta é o fato do presidente não ter conseguido se posicionar sobre os casos de corrupção no seu governo.