Eleições 2022

Saiba como foi a entrevista do presidente Jair Bolsonaro no Jornal Nacional

Presidente evitou embates mais diretos com os apresentadores, em postura mais amena do que a registrada em 2018

Por Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2022 | 21:38
 
 
Jair Bolsonaro participou de sabatina do Jornal Nacional e teve postura mais moderada do que em 2018 Foto: Marcos Serra Lima / G1

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que seu embate com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é coisa do passado e que a questão hoje está pacificada. Na sabatina realizada no Jornal Nacional na noite desta segunda-feira (22), o presidente adotou um tom ameno, evitou fazer novas críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e reafirmou a confiança de que a relação com o ministro Alexandre de Moraes será melhor de agora em diante. Ele afirmou que vai aceitar qualquer que seja o resultado, mas complementou: “contanto que as eleições sejam limpas”.

Na entrevista, ele também foi questionado sobre a postura em relação à pandemia da Covid-19, afirmou que lamenta as centenas de milhares de mortes ocorridas, mas sustentou as mesmas teses contra o isolamento social, sem dizer-se arrependido. Ele também fez uma defesa da equipe econômica, alegando que eles fizeram o possível diante de um cenário externo complicado com a pandemia e a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Outros temas tratados na conversa foram as constantes trocas no Ministério da Educação, a relação com o Centrão, a política ambiental do governo e as denúncias de interferência na Polícia Federal.

Logo na primeira pergunta, Bolsonaro foi questionado sobre a postura diante do sistema eleitoral, inclusive com críticas e xingamentos aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

“O senhor chegou inclusive a ameaçar não ter eleição no Brasil como se coubesse ao senhor decidir uma coisa dessas. Candidato, com franqueza, o que é que o senhor pretende ou o que é que o senhor pretendeu com isso? O senhor pretendeu, por acaso, um ambiente que de alguma forma permitisse um golpe contra o qual inclusive a sociedade civil se manifestou agora com a divulgação de dois manifestos ou outros manifestos em defesa da democracia?”, perguntou William Bonner.

“Primeiro, você não está falando a verdade quando fala em xingar ministro. É fake news a sua parte. Outra coisa: eu quero é transparência nas eleições. Vocês, com toda certeza, não leram o inquérito de 2018 da Polícia Federal que, inclusive, está em curso. E aquela pergunta que eu sempre faço: se você pode botar uma tranca a mais na sua casa para evitar que ela seja assaltada, você vai fazer ou não? Então, esse é o objetivo disso que eu tenho falado sobre o Tribunal Superior Eleitoral”, explicou.

Ao ser lembrado de que chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”, o presidente afirmou que a situação está sendo contornada atualmente.

“Qual é o seu propósito ao xingar um ministro de canalha e ameaçar não permitir que as eleições fossem realizadas se isso não lhe compete fazer não é uma atribuição do presidente da República?”, perguntou Bonner, ao que Bolsonaro respondeu evitando novas críticas a Moraes.

“Hoje em dia, pelo o que tudo indica, está pacificado. Espero que seja uma virada. Até você deve ter visto, por ocasião da posse do senhor Alexandre de Moraes, um certo contato amistoso nosso. E pelo que isso indica está pacificado. E quem vai decidir essa questão de transparência ou não serão, em parte, as Forças Armadas, que foram convidadas a participar da comissão de transparência eleitoral”, disse.

Bolsonaro também foi questionado sobre a postura de defesa de manifestações que fazem críticas ao Supremo e que, inclusive, apresentam faixas com caráter antidemocrático. Ela afirmou, porém, que os atos são pacíficos. “As manifestações nossas (ocorrem) sem qualquer ruído. Não há uma lata de lixo sequer virada nas ruas. Eu defendo liberdade de expressão”, afirmou.

O presidente minimizou os pedidos de um novo AI-5 ou de fechamento do Cogresso. “Quando alguns falam em fechar o Congresso, eu não levo pra esse lado né? E para mim isso aí é faz parte da democracia. Eu não posso é ameaçar fechar o Congresso isso ou o Supremo Tribunal Federal. Então, eu não vejo nada demais. Vejo como (força) de expressão, como alguns falam, Existe, mas aí você querer punir alguém por ter levantado uma faixinha no meio da multidão aí? Bom, isso aí é uma coisa que, no meu entender, não leva a lugar nenhum”, afirmou.

O apresentador do Jornal Nacional ainda indagou se Bolsonaro não queria aproveitar o momento para afirmar que aceitará o resultado da eleição, qualquer que ele seja. “Serão respeitados (os resultados das) urnas desde que as eleições sejam limpas”, reiterou duas vezes, completando que queria colocar um ponto final nisso: “Então vamos respeitar”.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), agora candidato à reeleição, disse nesta segunda-feira (22) durante sabatina do Jornal Nacional que "serão respeitados os resultados das urnas desde que as eleições sejam limpas". Confira: pic.twitter.com/K7E15sIVy9

— O Tempo (@otempo) August 23, 2022

Pandemia

Em outro momento mais tenso da entrevista, Jair Bolsonaro foi questionado pela apresentadora Renata Vasconcellos sobre a postura durante a pandemia da Covid-19, inclusive sobre o episódio em que imitou pacientes com falta de ar. Ela questionou se Bolsonaro não temia ser responsabilizado pela história.

“Olha, nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina”, disse, defendendo a postura que teve quanto à Pfizer, que fez ofertas ao governo e foi ignorada.

“Falar que devíamos assinar certos contratos, como por exemplo, com a Pfizer, onde a Pfizer não garantia a entrega da vacina? A primeira vacina no mundo foi dada em dezembro de 2020. E em janeiro nós já estávamos vacinando. Então, fizemos a nossa parte. E o grande erro disso tudo foi um trabalho forte da grande mídia, entre eles a Globo, desestimulando os médicos a fazerem o tratamento precoce, que isso é conhecido como uma liberdade do médico”, disse.

Bolsonaro foi diretamente questionado sobre a declaração de que quem tomasse vacina poderia “virar jacaré” e sobre a associação da vacina com o vírus da Aids, o que inclusive motivou um inquérito da Polícia Federal. 

“A questão é que no contrato da Pfizer estava escrito que nós (estaríamos nos) responsabilizando por qualquer efeito colateral. Outra coisa: a Pfizer não apresentou quais seriam os possíveis efeitos colaterais. Eu usei uma figura de linguagem. Jacaré”, disse, sendo perguntado se isso não seria uma brincadeira inadequada diante da pandemia. “Não, e não é brincadeira isso. Isso é parte da da literatura portuguesa. Então, brincadeira é, num momento difícil para o Brasil, a imprensa desautorizar os médicos pela sua liberdade de crime cá. Esse foi o grande problema”, disse.

Confira o que disse Jair Bolsonaro (PL) sobre a gestão da pandemia no Brasil, durante a sabatina no Jornal Nacional, da TV Globo, nesta segunda-feira (22). pic.twitter.com/a2hft2Msys

— O Tempo (@otempo) August 23, 2022

Bolsonaro voltou a criticar as medidas de isolamento, afirmando que o Brasil teve um lockdown de mais de um ano. Na verdade, não houve lockdown no país, mas apenas medidas de isolamento brandas em relação a outros países.

“Eu falei no início da pandemia que nós devemos cuidar tratar dos idosos e pessoas com comorbidades e o resto da população trabalhar. E isso eu falei e não errei. Hoje, muitos países já falam que o lockdown foi um erro e que as pessoas se contagiavam muito mais em casa do que na rua”, disse, sem indicar quais países seriam esses.

Ele também negou que o governo tenha cometido qualquer erro logístico no episódio em que moradores de Manaus morreram por falta de oxigênio. Ele diz que o governo fez sua parte e que transferiu recursos bilionários para Estados e municípios.

Economia

O presidente falou das dificuldades econômicas no país e defendeu a postura do ministro da Economia, Paulo Guedes, no enfrentamento do problema que, segundo ele, foi causado pela pandemia e pela guerra da Rússia contra a Ucrânia.

“Quando veio a guerra agora, problema nós tivemos. Fui na Rússia negociar fertilizantes com o presidente (Vladimir) Putin. Se não tivesse ido, não teria fertilizante para nossa safra agora desse segundo semestre. Isso garantiu a segurança alimentar do nosso Brasil e do mundo.

Bolsonaro foi questionado se, no segundo mandato, manteria a política econômica que vigora até o momento: “Nós somos sete países mais digitalizados do mundo, tá? Nós fizemos muita coisa no Brasil. Atendemos realmente a todas camadas da sociedade. Só agora na questão do IPI, a proposta do Paulo Guedes que está parada no Supremo Tribunal Federal nós estamos pretendendo diminuir impostos de quase mil produtos em 35% (...) Desde agora. É que a proposta parou no Supremo Tribunal Federal”, reclamou.

Ele reiterou que o programa para o próximo mandato é o mesmo: “O que nós pretendemos fazer? É continuar exatamente na política que vínhamos fazendo desde 2019. A grande vacina a favor da economia em 2019 foram reformas, como por exemplo a da Previdência. Foi a Lei da Liberdade Econômica, foi a modernização das Normas Regulamentadoras

Política ambiental

Jair Bolsonaro também foi bastante questionado sobre a política ambiental de seu governo. Os apresentadores lembraram da fala do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em 2020, de que o governo deveria aproveitar a pandemia para “passar a boiada” na área ambiental, em referência a desregulamentações no setor. O presidente foi lembrado do salto da taxa de desmatamento, que tornou-se a maior em 15 anos.

“Olha, você tem que pensar que aqui na Amazônia, você tem quase 30 milhões de habitantes lá. Tem 30 milhões de brasileiro na Amazônia. A primeira preocupação é essa. Outra: qualquer propriedade lá tem que preservar 80% e pode e pode usufruir de 20%. Eu tentei, nos primeiros dois anos de mandato, fazer a regulação fundiária”, argumentou.

Bolsonaro afirmou que o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (PSDB), dificultou o avanço de sua pauta para essa regulação. “Agora, quando se fala em Amazônia, por que não se fala também agora na França? Que há mais de 30 dias está pegando fogo? A mesma coisa está pegando fogo na Espanha e Portugal. Califórnia pega fogo todo ano. No Brasil, infelizmente, não é diferente. Acontece. Grande parte disso aí, alguma parte disso, é criminoso. Outra parte não é criminoso. É o ribeirinho. Que toca fogo ali na sua área”, disse Bolsonaro, afirmando que também há ao fogo espontâneo.

O presidente também foi questionado sobre a falta de fiscalização em 90% dos alertas do Mapa Biomas para a Amazônia e sobre o sucateamento do Ibama. Os apresentadores quiseram saber se isso não seria uma mensagem de incentivo a quem desmata e ao garimpo ilegal.

“Primeira coisa: a destruição, como dá em lei, é se você não puder retirar o equipamento daquele local. O que vinha acontecendo e, ainda vem, infelizmente, é que o material pode ser retirado do local, porque se chegou lá pode se retirar…”, disse, criticando o Ibama, acusando o órgão de excessos.

“O que muitas vezes o pessoal do IBAMA faz? Toca fogo mesmo podendo retirar o material de lá”, acusou.

Corrupção no MEC

O presidente Jair Bolsonaro também foi questionado sobre o escândalo de corrupção no MEC. Ele rejeitou o termo, mesmo com o ex-ministro Milton Ribeiro tendo sido inclusive preso pela Polícia Federal após o episódio em que, em um áudio, orientou o repasse de verbas por indicações de pastores. O presidente ainda tentou explicar as constantes trocas no ministério.

"Por muitas vezes, depois que a pessoa chega, a gente vê que ela não leva jeito para aquilo. Não foi só o da Educação. Ele (Ribeiro) teve a acusação. Ele teve uma ordem de prisão, foi preso inclusive. Agora, conseguiu habeas corpus logo em seguida. Eu fiquei sabendo depois, né, que o Ministério Público do Distrito Federal foi contra a prisão dele. Por quê? Não tinha nada contra. Se tiver algo hoje em dia, é outra história. Até aquele momento, não tinha nada. A questão de ter dois pastores, um, que estava no gabinete dele, qual o problema?", disse Bolsonaro aos entrevistadores.

Interferências na Polícia Federal

O presidente também foi questionado sobre as acusações de que teria interferido no comando da Polícia Federal. Ele rechaçou, afirmou que “ninguém comanda a PF” e disse que, se isso fosse possível, dirigentes petistas teriam feito o mesmo no passado.

“Se pudesse comandar, o Lula teria comandado, a Dilma (Rousseff), o (Michel) Temer, seja lá quem for. Ninguém consegue comandar a Polícia Federal dessa forma como você está falando aí", disse Bolsonaro na sabatina.

O candidato ainda rebateu críticas da Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF) e de outros órgãos do setor. Sugeriu que as críticas se dão em razão dos pedidos de reestruturação da carreira, não atendidos.

“Eles queriam uma reestruturação de carreira agora. Eu achei até justo, mas outras categorias não concordavam com isso sem serem beneficiadas também. E daí, começou um movimento dentro, por parte de alguns delegados da PF, contrários à minha posição. O que deságua em uma nota como essa daí. Eu queria, inclusive, reestruturar a Polícia Rodoviária Federal, que era bem mais fácil e menos onerosa. Os delegados, essa mesma associação não topou fazer isso daí. Então, tem uma briga política e salarial por trás disso", afirmou o presidente.

 

Relação com o Centrão

O presidente foi muito questionado sobre a relação com o Centrão, grupo de partidos que o apoia, depois de ter feito muitas críticas a esse grupo nas eleições de 2018. Bolsonaro foi perguntado se o eleitor deve acreditar naquele candidato que dizia que nunca foi do Centrão ou naquele que diz que sempre foi do grupo. Em sua resposta, ele afirmou que, em sua época, esse conjunto de partidos não tinha esse nome. O presidente ainda afirmou que seria um ditador se não dialogasse com o Parlamento.

"Você está me estimulando a ser ditador. O centrão são mais ou menos 300 parlamentares. Se eu deixá-los de lado, vou governar com quem? Não vou governar com o parlamento", aponta Jair Bolsonaro ao ter sua relação com o 'centrão' questionada em sabatina no JN. pic.twitter.com/DGR7oUBVXh

— O Tempo (@otempo) August 23, 2022

Considerações finais

O presidente aproveitou sua fala final para enfatizar, novamente, as medidas econômicas e reforçar suas ações para a queda do preço dos combustíveis e a adoção de auxílios para a população.

"Hoje, você nota que os preços dos combustíveis caíram assustadoramente. Nada de canetada. Com o trabalho nosso junto ao parlamento brasileiro, conseguimos R$ 600 de Auxílio Brasil para 20 milhões de pessoas mais pobres. Conseguimos transposição do São Francisco, que estava parada desde 2012, levando água para o nordeste. Nós pacificamos o MST titulando terras pelo Brasil, e 90% dessas titulações foram para as mulheres. Criamos o PIX, tirei dinheiro de banqueiros fazendo com que a população pudesse se transformar, muitos, em pequenos empresários. O PIX: sem qualquer taxação em cima do PIX. Anistiamos 99% da dívida de um milhão de jovens junto ao FIES", afirmou o presidente.

Nas declarações finais, Bolsonaro diz que pegou o Brasil em situação crítica nas questões ética, moral e econômica. Citou a pandemia, e a guerra na Ucrânia como entraves econômicos e mencionou a queda nos preços dos combustíveis e aumento do Auxílio Brasil para R$ 600. Confira: pic.twitter.com/nzNvTL5bZs

— O Tempo (@otempo) August 23, 2022

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