Uma das principais dúvidas após o governador Romeu Zema (Novo) anunciar apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), neste segundo turno das eleições presidenciais, era até que ponto seria o engajamento do político do Partido Novo na campanha presidencial. A participação de Zema, nesta quarta-feira (12), em um ato religioso ao lado do presidente, no entanto, pôs fim a essa dúvida. O governador entrou de cabeça na disputa presidencial e fez um discurso que passou do tom até do que se viu na sua própria campanha à reeleição.
Em um breve pronunciamento, ao lado do apóstolo Valdemiro Santiago e de Bolsonaro, Zema, que é católico e até então nunca apostou em um tom religioso em seus discursos, afirmou que o Brasil precisa de um “homem de Deus” para comandar o país – um dos principais ideias liberais, defendido pelo Novo, é a separação entre Estado e religião.
“Todos nós aqui sabemos o desastre que o Brasil viveu em 2015 e 2016, com mais de três milhões de desempregados que foram gerados naqueles dois anos de corrupção e escândalos do governo PT. Precisamos de um homem de Deus na Presidência da República, e esse homem é o presidente Bolsonaro”, declarou o governador durante a inauguração da Cidade Mundial dos Sonhos de Deus, no centro de BH, templo do apóstolo Valdemiro Santiago.
Em cima de um trio elétrico, o governador Zema ainda vinculou ao presidente Bolsonaro o crescimento dos postos de trabalho em sua gestão à frente do Estado. Nos bastidores, a expectativa é que o apoio do governador traga para a campanha de Bolsonaro capilaridade no interior de Minas. O evento desta quarta trouxe centenas de caravanas de outras cidades a BH.
“Nesta minha gestão, nós já conseguimos criar, de acordo com o Ministério do Trabalho, mais de 500 mil vagas de emprego com carteira assinada e vamos continuar criando. Precisamos que o nosso presidente continue o trabalho dele. Minas precisa do presidente Bolsonaro”, completou o governador, que teve a presença no evento questionada por alguns fiéis, que disseram desconhecer a relação de Zema com a igreja.
Ao participar de evento na Igreja Mundial do Poder de Deus, em Belo Horizonte, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) voltou a destacar que é contra a legalização do aborto e a liberação das drogas. pic.twitter.com/6rOdjLWoF6
Estranhamento
Em um dos raros eventos nos quais participou durante sua campanha à reeleição, Zema se reuniu com 20 pastores na sede do BDMG em um ato capitaneado pelo deputado federal do Novo, Lucas Gonzalez. “Nem sabia que ele era cristão”, questionou a aposentada Rosângela Faria, 67. “Eu gosto do Bolsonaro, ele tem um histórico na igreja, mas tem gente que pega carona para conseguir votos”, criticou a dona de casa Rúbia Zaneti, 42.
“Eu votei no Zema, nem sabia que ele tinha religião. O Estado é laico, eu sei, mas é bom saber que ele defende a família”, afirmou a professora Júlia Fabel, 25.
Entenda
Zema anunciou publicamente apoio a Jair Bolsonaro na última semana, dois dias após a definição do segundo turno, sendo o primeiro governador a confirmar apoio à candidatura do presidente. Até então, o governador evitou dar palanque a Bolsonaro sob o pretexto de ter um candidato de seu partido na disputa à presidência da República, Luiz Felipe D’Avilla (Novo).
O distanciamento gerou, inclusive, atritos entre as campanhas e fez com que Bolsonaro fosse obrigado a lançar a candidatura de Carlos Viana (PL) ao governo do Estado. O próprio senador admitiu em diversas ocasiões que foi o plano B do presidente depois que Zema se negou a fechar um palanque conjunto com o PL para não levar para a sua campanha à reeleição o alto índice de rejeição de Bolsonaro tendo em vista a tendência do voto “Luzema” em Minas Gerais.
Para garantir palanque a Bolsonaro no segundo turno, Zema acertou a participação do PL na base de apoio de seu novo governo que começará em 2023. O partido do presidente elegeu 9 parlamentares neste ano e terá a segunda maior bancada da ALMG, empatada com o PSD. A Federação PT/PV/PC do B terá 17 parlamentares.
Nos últimos quatro anos, a volatilidade foi a marca na base do governador na ALMG. Foram poucos os momentos de maioria sólida, o que fez com que projetos como a adoção ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) só fosse conseguido por Zema por meio de liminar no Supremo Tribunal Federal.