“De Volta à Estrada”

A obra de Raymundo Colares em foco

O artista mineiro, falecido precocemente em 1986, aos 42 anos, ganha uma retrospectiva na galeria do MTC

Por Patrícia Cassese
Publicado em 17 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
Uma das obras do artista mineiro presentes na panorâmica Paulo Muniz/divulgação

A criação artística de Raymundo Colares (1944-1986) já foi objeto de ao menos três grandes retrospectivas, sendo duas no Rio de Janeiro e uma em São Paulo. Faltava, portanto, Belo Horizonte, capital do Estado no qual o artista nasceu – mais precisamente, na cidade de Grão Mogol. “Essa exposição, portanto, foi delineada a partir exatamente desse desejo, já antigo, de apresentar a obra de Colares aqui”, diz a curadora, crítica e escritora Lígia Canongia, referindo-se a “Raymundo Colares: de Volta à Estrada”, mostra panorâmica que está em cartaz na galeria do Centro Cultural Minas Tênis Clube, em Lourdes, desde o último dia 5.

Com visitação até 2 de fevereiro de 2020, a iniciativa reúne 30 obras, entre pinturas, gravuras, guaches, os famosos gibis do artista e o diário pessoal. Mas não só. “A exposição, na verdade, tem um duplo aspecto. Além das obras, tem um caráter intimista, pois temos um painel documental com poemas, cartas que ele trocou com amigos como Hélio Oiticica, e desenhos, numa tentativa de mostrar também o ser humano”, prossegue ela.

A parte interativa, mesmo não sendo expressiva, é importante no contexto, e é representada pelos gibis e livros manuseáveis pelo visitante, onde cada dobrar de página, diz a curadora, “configura uma nova situação visual”. “Cada movimento do manuseio forma um novo livro, então, colocamos gibis em réplica para serem manuseados”, pontua.

“O processo de seleção das obras foi guiado justamente pelo objetivo de exibir segmentos diferentes de sua produção”, explica Lígia. Mas, apesar das plataformas distintas, a curadora entende que o conjunto reunido no MTC é permeado pela coerência – e, claro, pela qualidade, atestada na biografia do artista por prêmios como o do Salão Nacional de Arte Moderna, em 1970, que lhe rendeu uma ida a Nova York e a cidades da Itália, como Trento e Milão. 

Colares morreu cedo e em circunstâncias trágicas. Em 1985, foi atropelado por um ônibus e, num leito de hospital, em Montes Claros, no ano seguinte, acabou morrendo após a ocorrência de um incêndio. “Morreu pobre, mas, hoje, é um nome consagrado pelo circuito, pela crítica e pela história da arte brasileira. E, claro, pelo mercado. 

Suas obras alcançam preços extraordinários nos leilões”, diz a curadora, lembrando que, mesmo num curto período de vida, o mineiro deixou uma obra profícua. “Sua trajetória artística propriamente dita vai de meados dos anos 60 até sua morte”. O artista chegou a lecionar no MAM do Rio e, em Montes Claros, uma fundação chegou a ser formada para preservar seu legado. 

Programe-se

O quê. “Raymundo Colares: De Volta à Estrada.
Onde. Galeria MTC (rua da Bahia, 2.244, Lourdes).
Quando. Até 2/2/2020, de terça a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h.
Quanto.  Entrada franca.