Repercussão

Amigos e admiradores lamentam morte de Rubem Fonseca

Escritores, intelectuais, artistas e políticos ressaltaram o legado e o estilo que consagraram o autor mineiro

Por Ana Clara Brant
Publicado em 15 de abril de 2020 | 16:06
 
 
Rubem Fonseca deixou sua marca na literatura brasileira e fez escola com seu estilo Divulgação

Apesar de ter 94 anos, a morte de Rubem Fonseca pegou muita gente de surpresa. Amigos e admiradores do escritor mineiro lamentaram sua partida e o assunto foi parar nos trendings topics do Twitter. O Vasco da Gama, seu time, do coração também, prestou uma homenagem.

É com tristeza que recebemos a notícia do falecimento de um dos maiores escritores deste país, Rubem Fonseca.
Desejamos muita força aos amigos e familiares neste momento de profunda dor.

— Vasco (de 🏠) (@VascodaGama) April 15, 2020 Amiga de Rubem Fonseca desde os anos 70, quando o conheceu no "Pasquim", a jornalista e escritora mineira radicada no Rio, Silvana Gontijo, lembra com carinho do escritor e conta que apesar de ele ser muito recluso, discreto, era uma pessoa extremamente gentil, afável e agradabilíssima. "Até hoje tenho um bilhete muito delicado que ele me escreveu. Acho que a coisa que mais me marca nele é que Rubem nunca fez nenhuma concessão, foi coerente, e seguiu suas crenças até o final aos 94 anos", frisa.
 
Foi com o amigo que Silvana aprendeu a gostar de filme noir, além de ter tido uma grande influência em sua escrita. "E foi referência não só no meu estilo de escrever, na minha vida como jornalista e escritora,  mas referência com seus valores, de integridade, coerência. Rubem Fonseca é imortal. Ele não vai morrer nunca", destaca. 

O presidente da Academia Mineira de Letras (AML) Rogério Tavares ressaltou a importância de Rubem não só pelos prêmios que colecionou ao longo da vida como o Camões (honraria atribuída aos autores que contribuíram para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa), e o Machado de Assis (principal prêmio literário brasileiro, oferecido pela Academia Brasileira de Letras), mas pelo conjunto da obra e de seu legado. 

"É curioso que, antes de ingressar na literatura, que acabou se dedicado durante décadas, Rubem Fonseca trabalhou durante muito tempo na polícia, o que acabou lhe servindo de inspiração para muitos livros e contos, e também na Light, companhia de energia elétrica do Rio de Janeiro", analisa.

Entre as obras Rogério destaca "Feliz Ano Novo", que foi censurado pela ditadura militar e só públicado anos depois e "Agosto", que virou minissérie da Rede Globo, em 1993. 

"Em Feliz Ano Novo ele já mostrava quem ele era, as narrativas caracterizadas pelo uso muito sagaz da violência, do sexo, da relação entre pessoas de classes sociais distintas, e tendo como cenário sempre o Rio de Janeiro. Aliás, isso está muito presente em vários de seus livros e contos", salienta. 
 
BRUTALISMO
O estilo seco, direto e sem rodeios, chamado de "brutalismo de Rubem Fonseca" também foi lembrado por Rogério Tavares. "Ele não floreia, não rodeia, é uma linguagem nua e crua e que fez escola", opina.
 
A jornalista e escritora Leida Reis teve contato com a literatura de Rubem Fonseca ainda na época da faculdade. “O que me despertou no texto dele foi a coragem da linguagem, a narrativa direta e seca. Ele escreve sem dó nem piedade, é como se você estivesse vendo e vivendo o lado cruel da vida”, comenta.
 
Autora de dois romances policiais – “A Invenção do Crime” (2010) e “Quando os Bandidos Ouvem Villa-Lobos” –, ela diz que a influência do mineiro em sua trajetória literária é decisiva: foi por causa dele que a escritora trilhou caminho na literatura policialesca. “Embora minha escrita seja diferente, ele foi meu grande mestre nesse estilo”, conta Leida, que cita “A Grande Arte” e “Bufo & Spallanzani” como duas das obras de Rubem Fonseca que marcaram sua vida.
 
A escritora e roteirista Patricia Melo ressaltou como sua geração foi marcada e influenciada pelo escritor de Juiz de Fora.  "Até o início dos anos 60, a literatura brasileira era essencialmente regional. Apesar de haver retratos da cidade em Machado de Assis e Lima Barreto, a literatura urbana era uma literatura de exceção. Foi Rubem Fonseca que com seus personagens e histórias nos mostrou, na literatura, a cidade tal como a vemos na realidade, uma selva bruta,  terrivelmente desigual, onde o homem sofre de medo, de fome, de solidão.  Minha geração e a geração anterior à minha devem muito ao Rubem. Todos nós aprendemos muito com seus anti-heróis. É uma perda irreparável. Sem ele, a nossa literatura fica mais pobre", comentou.
 
 
O humorista carioca Hélio de La Peña fez questão de se manifestar:

Mais tristeza. Meu escritor preferido desde a adolescência. Adoro seus contos.
Paz #rubemfonseca pic.twitter.com/KJvcv54VYh

— helio de la peña (@lapena) April 15, 2020
 
O escritor português Valter Hugo Mãe postou uma foto ao lado de Fonseca em seu Instagram e disse estar desolado.

A jornalista e escritora Dorrit Harazim  homenageou o amigo nas redes sociais e brincou com o fato de ele não gostar de aglomerações. 

Saiu de mansinho, aproveitando o momento em que aglomeraçoes de homenagem estão proibidas. Grande Zé Rubem. Grande Rubem Fonseca. 🌺

— Dorrit Harazim (@dorritharazim) April 15, 2020

Jornalista e viúva de outro grande nome da língua portuguesa, Pilar del Rio também se manifestou.

 

Muere Ruben Fonseca y me quedo sin palabras: el escritor brasileño estaba ahí, era paralelo a Brasil, una forma de estar en la vida. Contó con pasión, humor y desgarro. Un grande. Descanse en paz pic.twitter.com/ASa9LSgoyZ

— Pilar del Río (@delRioPilar) April 15, 2020 Matéria em atualização