"Chegar a 40 anos de trajetória é maravilhoso, muito representativo em nossas vidas. Eu, que em todo esse tempo nunca saí da banda, tenho um amor e um zelo inexplicável pelo que construímos. Isso é bem significativo, porque um roqueiro de verdade é alguém de resistência, atitude e contestação".
A frase do baterista, letrista e um dos fundadores do Barão Vermelho, Guto Goffi, escancara a euforia de quem trilhou uma carreira de respeito no universo do rock brasileiro.
Toda a empolgação do músico é mais que justificada, afinal, completar quatro décadas de estrada não é para qualquer um. E para comemorar a data, o Barão está com uma agenda agitada para 2022, que inclui uma série de TV, um álbum acústico, três EPs e uma turnê nacional (que vai, inclusive, fazer uma parada na capital mineira em novembro).
O seriado documental, aliás, já está em exibição no Canal Bis e também disponível pela plataforma de streaming Globoplay. Dirigido por Rodrigo Pinto, o especial é dividido em quatro episódios temáticos, intitulados: “Acústico”, “Clássicos”, “Blues & baladas” e “Sucessos”, e mostra os "barões" tocando canções de todas as fases da carreira, além de entrevistas e imagens de bastidores. O último capítulo da série vai ao ar, neste sábado (3), a partir das 23h.
Já o álbum acústico foi lançado no começo de agosto, e os Eps chegam ao mercado fonográfico entre os meses de setembro, outubro e novembro.
Reencontro no palco
Hoje, da formação original do Barão, só restaram Guto e o tecladista Maurício Barros, e são eles que seguem conduzindo a bando ao futuro com a ajuda do cantor e guitarrista Rodrigo Suricato – que assumiu o posto ocupado por Frejat desde 1985 – e do também guitarrista Fernando Magalhães.
Porém, para a festa de aniversário, Goffi adianta que Frejat vai voltar aos palcos com os velhos companheiros.
"Ele já se juntou a gente quando gravamos os episódios da série e também participou do show que gravamos em janeiro no Rio. Vamos estar juntos nessa celebração", detalha.
Nas páginas do rock nacional
Criado em 1981 justamente por Goffi e Maurício, o Barão Vermelho logo incorporou o baixista Dé Palmeira, o guitarrista Roberto Frejat e o cantor Cazuza. Foi com esse line-up que eles lançaram três discos e chegaram ao sucesso radiofônico com os hits "Pro Dia Nascer Feliz", "Maior Abandonado" e "Bete Balanço".
Guto não esconde o orgulho ao lembrar da geração musical que entrou para as páginas do rock nacional nos anos 1980.
"Tudo começou com os discos da Gang 90 & Absurdettes, Lulu Santos, Blitz, Rádio Táxi, Herva Doce e Barão Vermelho. O engraçado é que dessa primeira turma do rock 80, a gente era a única banda de molecada mesmo. Tínhamos entre 15 e 23 anos, pode isso? Depois vieram, Titãs, Paralamas, Legião Urbana, Kid Abelha e muita coisa legal e marcante. Fizemos história e não dá para negar", declara.
Desde o começo, o conjunto carioca ficou conhecido por mesclar perfeitamente a rebeldia do rock e do blues com letras inspiradas – originalmente através das mãos de Cazuza (1958-1990) e depois pelo próprio Goffi, que herdou a função logo que o cantor deixou a banda em 1985.
"Quando o Cazuza saiu, eu fui, aos poucos, ocupando esse trajeto. Hoje me sinto bem à vontade como letrista", confessa ele, citando ainda que muitos de seus escritos se apoiaram em textos de outros artistas, como Jorge Salomão, Arnaldo Antunes, Antônio Cícero, Renato Russo, Raul Seixas, Clarice Lispector, Ezequiel Neves, Dulce Quental e o poeta norte-americano E.E. Cummings.
Para Guto, essa valorização da palavra escrita aconteceu muito por influência do primeiro produtor do Barão Vermelho, o jornalista e compositor belo-horizontino Ezequiel Neves (1935-2010).
"Para escrever para o Barão tem que ter culhões. Nossa simpatia sempre foi pelos transgressores do rock, embora a gente também curtisse gente como o Luiz Melodia e a Angela RoRo, que eram mais marginais", conta.
Apesar da inspiração vinda de outros escritores, Guto diz que o grande catalisador da arte dentro do grupo foi mesmo o Cazuza.
"Ele foi um cometa que nos trouxe muita luz, passou rápido e deixou semente. Como letrista, tenho ele como um guru e tento deixar escorrer esse romantismo até hoje no que escrevo. Sou totalmente apaixonado e desbundado com a poética do Cazuza", revela.
Mas agora, depois de tantas histórias e muitos anos de estrada, o que se pode esperar do Barão daqui para frente?
"Estamos tocando bem e gozamos de boa saúde, então vamos com tudo para essa longa turnê nos próximos dois anos", confessa Guto, que garante que a banda tem ainda muito gás para queimar.
"Estamos sempre curiosos para os próximos passos, e não temos medo de correr riscos. A verdade é que estamos numa fase em que podemos brincar na chuva pelados e as pessoas vão dizer: 'Isso é Rock 'n' Roll'", conclui, às gargalhadas.
Serviço: Barão Vermelho comemora 40 anos
Minissérie
Dividida em quatro episódios, produção está disponível no Globoplay. Último capítulo vai ao ar neste sábado (3), às 23h, no canal BIS.
Lançamentos musicais
Disco "Acústico" já está circulando pelas principais plataformas de streaming.
EP "Lados "Clássicos" e "Blues & Baladas", chegam ao mercado fonográfico nos meses de outubro e novembro, respectivamente.
Turnê
Ainda sem local definido, turnê "Barão 40" deve chegar a Belo Horizonte em novembro.