Música

Cantora Maria Alcina completa 75 anos mantendo a irreverência em alta

Mineira de Cataguases, ela alcançou sucesso com canções de Jorge Ben Jor e João Bosco, casos de 'Fio Maravilha' e 'Kid Cavaquinho'

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 22 de abril de 2024 | 06:00
 
 
Na década de 1970, Alcina migrou para o Rio de Janeiro e logo chamou atenção do público em suas apresentações na boate Number One Foto: Lucas Kakuda/Divulgação

Maria Alcina é sinônimo de irreverência, alegria e música brasileira. Habituada a se apresentar com plumas e paetês, ela não perde o espírito lúdico inspirado em Carmen Miranda, e, aos 75 anos, continua uma eterna criança pronta a divertir e encantar o público com sua voz grave e seus trejeitos carnavalescos em cima do palco. 

Nascida em Cataguases, interior de Minas Gerais, ela cantava desde cedo, inclusive na fábrica onde trabalhava na cidade natal. Na década de 1970, Alcina migrou para o Rio de Janeiro e logo chamou atenção do público em suas apresentações na boate Number One. 

Mas o primeiro impacto nacional aconteceu com sua histórica performance no Festival Internacional da Canção, em 1972, quando, para um Maracanãzinho ao mesmo tempo perplexo e abarrotado, ela entoou o samba “Fio Maravilha”, de Jorge Ben Jor, e levou o estádio abaixo. 

No embalo do sucesso, Maria Alcina gravou o seu primeiro álbum, com versões para músicas como “Maria Boa”, “Mulher Rendeira”, “Alô, Alô”, “Paraíba”, entre outras, com seu estilo peculiar de interpretação. Em 1974, ela voltou a emplacar uma música nas rádios com “Kid Cavaquinho”, da dupla João Bosco e Aldir Blanc. 

No entanto, a artista logo começou a sofrer com a censura da ditadura militar, que, diante de sua figura andrógina e libertária, se sentiu acuada, e proibiu que Alcina aparecesse em programas de televisão e tocasse nas rádios, prejudicando a sua carreira. 

Na década de 1980, longe dos holofotes, Alcina se apresentou em circos, que considerou uma das mais importantes escolas para o desenvolvimento de sua personalidade artística, e reencontrou o sucesso com a regravação de temas folclóricos de duplo sentido, como “Bigorrilho”, “Bacurinha” e “Prenda o Tadeu”.

Diva absoluta da comunidade LGBTQIA+, Maria Alcina foi resgatada por uma nova geração de compositores, gravando disco com o experimental grupo Bojo e sendo saudada em músicas por Zeca baleiro, Arnaldo antunes, Péricles cavalcanti, dentre outros, realizando um dueto memorável com Ney Matogrosso no álbum “De Normal Bastam os Outros”, lançado em 2013, quando ela celebrou 50 anos de carreira.

Agora, ela é tema de dois documentários que comprovam a força atemporal de seu discurso libertador e da personagem extravagante e divertida que ela criou para a música brasileira.