No Sempre um Papo

'Carolinas – A Nova Geração De Escritoras Negras Brasileiras' tem lançamento

Ana Paula Lisboa, Dalva Maria, Lara de Paula e Júlio Ludemir conversam com Afonso Borges sobre o livro, que reúne textos de 180 autoras

Por Patrícia Cassese
Publicado em 05 de maio de 2021 | 16:35
 
 

A edição desta quarta-feira do projeto Sempre Um Papo em Casa aborda uma obra que reverbera potência:  o livro “Carolinas – A Nova Geração De Escritoras Negras Brasileiras” (Bazar do Tempo), em coedição da Festa Literária das Periferias, a Flup. A partir das 19h, Afonso Borges recebe Ana Paula Lisboa, Dalva Maria, Lara de Paula e Júlio Ludemir para falar sobre o lançamento, que abarca textos de 180 mulheres negras e de diferentes regiões do Brasil, participantes de oficinas de escrita da Flup 2020, que teve como tema “Uma Revolução Chamada Carolina”, em celebração aos 60 anos de publicação do “Quarto de despejo – diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus.

A obra "Carolinas" reúne contos, crônicas, diários e relatos autobiográficos. Em entrevista ao Magazine,  o escritor, roteirista, produtor cultural e criador da Flup Júlio Ludemir lembra que, se formos observar a literatura negra no Brasil em números, imediatamente se deduz a a relevância do livro. "Ao longo da história, desde Maria Firmina dos Reis (1822-1917, considerada a primeira romancista negra brasileira) até os dias de hoje, foram publicados, acho que 26 romancistas negros e, salvo engano, 45 contistas negros e negras. Pode ser que eu tenho errado em um ou dois. Esses dados são de uma pesquisa, da tese de doutorado da Fernanda Miranda ("Corpo de romances de autoras negras brasileiras (1859-2006): posse da História e colonialidade nacional confrontada, USP, 2019). E esse livro, agora, reúne 180 autoras. Mais que isso, 180 autoras de todo o país: Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí; que estiveram junto conosco, participaram do processo de formação 'Uma Revolução chamada Carolina', e que trouxeram uma narrativa muito próxima do Brasil".

Ludemir coloca em relevo que, apesar de as mulheres cujos textos estão reunidos no livro, pertencerem a faixas etárias diferenciadas ("tem gente de 60 anos e tem gente de 20), registra-se uma presença esmagadora de mulheres universitárias: 40% delas têm curso superior completo e 38%, mestrado ou doutorado. "As outras 20% estavam na universidade. A gente tem um grupo particular que é o de catadoras de lixo do ABC Paulista, as Carolinas de hoje", compara.

Para o mentor da Flup, essas tantas mulheres que, não obstante as dificuldades, conseguiram avançar nas graduções e pós, são as filhas das ações afirmativas registradas no país. "São claramente a primeira geração de intelectuais negras em números expressivos que existe no Brasil,  geração que está redesenhando o país de todas as formas, trazendo um novo público para o mercado editorial, para o mercado de arte, para a comunicação, para as redações, para os festivais... A presença de pessoas negras e particularmente, de mulheres negras". 

No entanto, ele resssalva que todas essas mulheres tiveram uma Carolina de Jesus na família. "Ou uma avó ou uma mãe", situa. Ludemir ressalta que, até pouco tempo atrás, a boa nova era que as descendentes dessas Carolinas tinham ido para a universidade, feito uma mobilidade social. "Agora, a gente está diante de um novo quadro, de um novo país em que muitas das conquistas dos últimos 20, 30 anos, foram literalmente jogadas no lixo, onde as Carolinas estão catando. Então, acho que é isso, acho que a gente está falando de uma nova geração de escritoras que se espalha por todo o país e que chegou para ficar, da mesma forma como as mulheres que o (Luiz Rufatto) organizou naquela coletânea lá (referindo-se ao projeto "Mulheres Que Estão Fazendo A Nova Literatura Brasileira"), ou como a  geração mimeógrafo... Várias gerações que passaram por nós, e que vieram para ficar. E elas agora podem testemunhar a chegada dessas novas mulheres ao mercado editorial", saúda.

Saiba mais sobre os participantes da edição do Sempre um Papo

Júlio Ludemir é roteirista, produtor cultural e criador da Batalha do Passinho e da Flup (Festa Literária das Periferias). Além de autor de diversos livros, dentre eles, "Lembrancinha do Adeus" (Planeta, 2004), primeiro romance da literatura brasileira a mergulhar no universo das disputas no Complexo do Alemão (Rio de Janeiro); "O bandido da Chacrete" (Record, 2008), livro-reportagem que teve sua pesquisa usada no roteiro do filme "400 contra um" (Globo Filmes, 2011), do cineasta Caco de Souza, e "Rim por Rim" (Record, 2009), livro-reportagem indicado ao Prêmio Jabuti de Reportagem.

Ana Paula Lisboa nasceu no Rio de Janeiro e, atualmente, divide a moradia entre o Complexo da Maré, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro e Luanda, onde dirige a produtora cultural Aláfia. Formanda em Letras e escritora desde os 14 anos, publicou contos e poesias em coletâneas nacionais e internacionais como a “Estrelas Vagabundas”, “26 novos autores da Flup”, “Eu me chamo Rio” e na “Je suis Favela”. Em 2014, recebeu o 1º Prêmio Carolina de Jesus, dado a pessoas que tiveram suas vidas mudadas pela Literatura. Em 2016, passou a escrever para a revista feminista "AzMina" e para o Segundo Caderno do jornal "O Globo". 

Lara de Paula nasceu em Minas Gerais, no ano de 1995. Arqueóloga nas horas vagas, poeta em tempo integral. Também é Doutoranda em Antropologia, com habilitação em arqueologia, na Universidade Federal de Minas Gerais.

Dalva Maria Soares é graduada em Ciências Sociais com ênfase em Sociologia pela UFMG e doutora em Antropologia Social pela UFSC. É pesquisadora das culturas populares, mais especificamente do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, popularmente conhecido como Congado, com ênfase na trajetória de mulheres. Nos últimos anos, tem mediado conversas com mulheres quilombolas do Vale do Mucuri e ministrado oficinas sobre a obra de Carolina Maria de Jesus. Em 2018, participou juntamente com outras 19 mulheres da coletânea "Raízes: escritoras negras, resistência histórica", da Editora Venas Abiertas.

 

 

 

#SempreUmPapoEmCasa com Ana Paula Lisboa, Dalva Maria, Lara de Paula e Júlio Ludemir 

Dia 5 de maio, quarta-feira, às 19h

Local: Youtube, Facebook e Instagram do Sempre Um Papo

Informações: www.sempreumpapo.com.br