Memória e patrimônio

Congonhas ganha apoio do BNDES para criar réplicas dos profetas de Aleijadinho

Um total de R$11,7 milhões será investido em um plano de ações que também prevê a ampliação do Museu de Congonhas

Sex, 05/06/20 - 17h05
Profetas de Aleijadinho se tornaram Patrimônio Mundial em 1985 | Foto: Leo Fontes – 29.4.14

Congonhas, na região central do Estado, dá um passo fundamental para a preservação e valorização de um dos símbolos máximos da história e da cultura de Minas Gerais. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) aprovou um projeto de R$ 11,7 milhões, valor que irá possibilitar a confecção, em pedra-sabão, de réplicas de 10 (Isaias, Jeremias, Baruque, Ezequiel, Daniel, Oseias, Abdias, Amós, Habacuque e Naum) dos 12 profetas esculpidos por Aleijadinho e que integram o adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, considerado, em 1985, Patrimônio Mundial pela Unesco.

A ação finaliza o plano iniciado em 2011, quando as reproduções de Joel e Jonas foram realizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan) e pela Unesco.

O investimento, captado via Lei Rouanet, contempla também a expansão do Museu de Congonhas, com a construção da Galeria dos Profetas, que irá abrigar as 12 réplicas. No museu, ainda está previsto o funcionamento de um anfiteatro para receber ações culturais. Com os novos recursos, o BNDES alcança, no total, R$ 18,9 milhões no aporte ao plano de expansão do espaço.

Também participaram das ações empresas privadas, a Prefeitura de Congonhas e o Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan). Ao todo, foram destinados R$ 39 milhões.

Segundo Sérgio Rodrigo Reis, responsável pela elaboração dos projetos e captação dos recursos, o projeto é extremamente complexo e está dividido em etapas. “Cada uma delas está condicionada a todas as contratações e medidas de autorizações. Primeiro, contrata-se a empresa para fazer o projeto e, num segundo momento, realiza-se a contratação da empresa especializada para fazer a edificação", explica.

“É um desafio para os próximos anos. Imagino que ainda em 2020 Congonhas consiga dar andamento nas licitações e contratar as empresas para que elas comecem a atuar”, ele acrescenta. Está previsto, ainda, o funcionamento de um anfiteatro para receber ações culturais. 

O gestor ainda diz que houve um cuidado com a atualização de tecnologia 3D e softwares capazes de garantir máxima precisão das imagens. “Era fundamental concluir uma metodologia de preservação. Por isso, insistimos em fazer moldes dos originais, e também fizemos cópias de segurança para qualquer eventualidade. O molde e a cópia a serem confeccionados serão considerados objetos históricos e de utilização replicável, e terão a função de registro, documentação, referência e matriz, que será usada, e não a cópia original”, afirma.

Importância histórica

Sérgio Rodrigo Reis ressalta a importância do projeto para a memória de Minas Gerais e do Brasil e observa que a ação também contribui para a percepção de que o patrimônio histórico e cultural deve ser preservado, valorizado e divulgado como riquezas de um povo. Para o gestor, a alma do mineiro está sintetizada na obra de Aleijadinho: “O barroco, a dramaticidade dessa cultura que surgiu no Ciclo do Ouro, encontrou apogeu na obra desse artista negro, que sofreu toda sorte de adversidades. Ele encontrou em Congonhas as condições para criar sua obra-prima e suplantou dor e sofrimento na obra de arte. É importante preservar essa referência da nossa cultura. Ali tem história de fé e de devoção, virou patrimônio do mundo”. 

Reis sublinha que essa etapa não tem nada a ver com a retirada das esculturas originais do santuário, assunto sempre debatido por pesquisadores - parte deles considera que elas sofrem com a ação do tempo e devem ser resguardadas para sua melhor preservação, ao mesmo tempo em que há uma corrente que sinaliza que a remoção dos profetas de seu local original prejudica a essência da obra, objeto de culto de turistas que enxergam em Congonhas um destino de peregrinação. “A questão da retirada dos profetas não será tratada agora, esse é um assunto para ser debatido daqui alguns anos”, diz.

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