Polêmica

Djamila Ribeiro é alvo de internautas e vira trending topics do Twitter

Filósofa publicou texto sobre o debate envolvendo Roger Waters e Milton Nascimento; ex-Pink Floyd pediu que brasileiro cancelasse seu show em Israel

Por Da redação
Publicado em 02 de julho de 2019 | 12:48
 
 
Djamila Ribeiro entrou na polêmica entre Milton Nascimento e Roger Waters e foi bastante criticada por internautas FRM/Divulgação

A escritora, ativista e filósofa Djamila Ribeiro foi muito criticada por internautas após se manifestar sobre a polêmica envolvendo Milton Nascimento e Roger Waters, que, em uma carta, pediu para que o brasileiro cancelasse seu show em Israel por conta das violações de direitos humanos cometidas pelo país comandado por Benjamin Netanyahu e pelo histórico do conflito entre o país e a Palestina. Milton, por sua vez, retrucou: "Jamais abandonarei meu público". 

Djamila, que se posicionou “contra a violência que o Estado de Israel promove contra o povo palestino” disse não ter gostado do tom arrogante do ex-Pink Floyd, que, segundo ela, teria rotulado Milton Nascimento, e questionou, em um trecho do texto: “O que não entendi foi Waters cobrar coerência de Milton e ter vindo cantar no Maracanã no ano passado, com ingressos caríssimos. Num estado em que há favelas militarizadas, onde tanques de guerra passam por vielas, em que a população negra morre cotidianamente vítima de uma polícia assassina”.

A publicação rendeu ataques a Djamila e é um dos assuntos mais comentados no Twitter nesta terça-feira (2). “Genocídios a parte, só acho que com esse post você deixou de ser fã do Milton e virou fanática”, escreveu um internauta. “Desta vez você errou feio. Cuidado!”, postou outro seguidor.

Em um segundo post, a filósofa paulista respondeu alguns de seus seguidores e, em tom de desabafo, afirmou que “as pessoas são desonestas num nível impressionante”. “Quem realmente leu meu post anterior, viu que eu sou contra o Estado de Israel, inclusive já recusei convites para ir a Israel. Respeito e muito a luta do povo palestino. Meu ponto foi tão somente a seletividade, como não acreditar que estamos em guerra num país em que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado?”, publicou.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Sou totalmente contra a violência que o Estado de Israel promove contra o povo palestino. É cruel, desumano e autoritário. Um governo que pratica apartheid e repete a lógica dos campos de concentração. Sou totalmente contra ao que esse governo representa. Vi que Roger Waters escreveu uma carta, num tom um tanto contundente, pedindo para Milton Nascimento cancelar sua apresentação em Israel. Entendo o pedido, mas não gostei do tom. Angela Davis nem de longe foi arrogante quando escreveu para Linn da Quebrada, ao contrário, já Rogers rotula Milton como "quem escolheu o outro lado", o esvaziando de história. Li o posicionamento do Milton, um homem com história, que lutou contra a ditadura militar no Brasil e que não pode ser reduzida. O que não entendi foi Waters cobrar coerência de Milton e ter vindo cantar no Maracanã no ano passado, com ingressos caríssimos. Num estado em que há favelas militarizadas, onde tanques de guerra passam por vielas, em que a população negra morre cotidianamente vítima de uma polícia assassina. Veio cantar em São Paulo, no estádio do Palmeiras, também com ingressos caríssimos. A polícia de São Paulo é igualmente assassina. Vivemos em um Estado autoritário e estamos em guerra faz tempo, uma guerra contra as populações negras, indígenas e periféricas. Por que Roger não boicotou o Brasil em respeito à população negra que é exterminada cotidianamente? Não dá pra cobrar coerência dos outros quando não se tem. O que não dá é pagar de militudo, recebendo um cachê milionário, e vir cantar num Estado igualmente assassino para burgueses da zona sul carioca. É o ídolo perfeito de uma esquerda burguesa metida a revolucionária, mas que pula os corpos negros estirados no chão.

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As pessoas são desonestas num nível impressionante. Quem realmente leu meu post anterior, viu que eu sou contra o Estado de Israel, inclusive já recusei convites para ir a Israel. Respeito e muito a luta do povo palestino. Meu ponto foi tão somente a seletividade, como não acreditar que estamos em guerra num país em que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado? Tá tudo bem cantar num país que compra armas de Israel e depois apontar o dedo para os outros? Esse foi meu ponto. Não estou discutindo a vida de quem vai pra outro país ou não, eu mesma vou para vários e seguirei indo, esse mundo nos deve, meu ponto é: se você cobra posicionamento, e eu concordo, você também precisa entender que pode ser cobrado. E as pessoas precisam parar de tratar o Brasil como negócios estrangeiros, como quarto de despejo do mundo, como colônia de exploração. Todo mundo vem pra cá e sequer questiona nossa situação. Faz um telão com "Ele não" e já era. E ai de nós se não aplaudir e achar revolucionário. Mas aí, comprovando o que venho dizendo há algum tempo, o comportamento de manada surge. As pessoas preferem distorcer, mentir, ofender, só pra ter razão. E juram que são de esquerda. O nível é tão baixo que, não faz muito tempo, até que estavam sendo processadas por mim, inventaram. Num país em pessoas negras são criminalizadas todos os dias, teve gente inventando fake News se dizendo criminalizada. No país do encarceramento. Tudo isso para não assumir que mentiu para passar pano pra humorista racista. E foi realmente muito importante ver como as pessoas agem de modo que dizem combater. Agem como se não pudéssemos questionar um rock star rico e chegam na loucura de comparar a vida de um cara rico que mora nos EUA, com a de uma mulher preta trabalhadora do sul do mundo. Como se estivéssemos em igualdade de oportunidades. A galera não tem vergonha na cara. Apoiar os projetos pretos, cadê? Discutir branquitude, cadê? O ódio que destilam a quem questiona seus ídolos, sobretudo se quem questiona não é a norma, mostra bem o caráter dessas pessoas. Acho sempre bom isso acontecer, é preciso nomear os bois. Deixar essas pessoas saírem dos bueiros. Eu quero mais é estar longe delas.

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