Música

Em 'Louvação à (minha) mãe', Camila Menezes reflete sobre a maternidade

Lançada nesta quinta-feira (24), canção integra “Bença”, primeiro trabalho solo da compositora e multiartista mineira

Qui, 24/06/21 - 13h10
Na segunda música de uma trilogia, a artista propõe uma reflexão poética sobre “as tecnologias corpóreas do gerar e do nascer” | Foto: Raphael Carvalho/DIvulgação

A trilogia de singles "Bença", da compositora Camila Menezes, ganha nesta quinta-feira, 24, mais um capítulo, com o lançamento de "Louvação à (minha) mãe" nas plataformas digitais. Depois de discutir a relação entre os humanos e o planeta em “AzulAmarelo” – faixa de estreia, lançada no dia 17 –, agora, nesta segunda música, ela propõe uma reflexão poética sobre “as tecnologias corpóreas do gerar e do nascer”. O trabalho, vale dizer, foi inteiramente construído por Camila: além das composições, ela responde por arranjo, gravação (vozes e instrumentos), mixagem e masterização. Em tempo: intitulada “Para-ti”, a última faixa será lançada na próxima terça, 29, fechando a tríade musical.

Para o arranjo de “Louvação à (minha) mãe”, Camila Menezes resgatou o Mellotron, um dos primeiros instrumentos usados como sampleador, para fazer o som das flautas. No material de divulgação da iniciativa enviado à imprensa, ela fala da inspiração, que veio da convivência com a mãe. "Estou passando a pandemia com ela. Estamos só nós duas, isoladas, desde março de 2020. E tem sido uma experiência incrível. Minha mãe é uma pessoa extraordinária. Brinco que é um anjo da guarda disfarçado de gente. Aprendo muito com ela”, conta.

“Quando estava fazendo o arranjo de ‘AzulAmarelo’, aconteceu uma coisa engraçada. Eu ia tomar banho, entrava no box e vinha na minha cabeça: ‘a mãe é um portal’. Fiquei pensando: ‘e se isso virasse uma música? Ou um refrão?’. Então, comecei a pensar sobre o fio-condutor do trabalho. Essa coisa de quem sou, onde estou, para onde vou. Sentei e escrevi uma estrofe sobre minha mãe, que se chama Rosa: ‘Minha mãe é uma rosa / Minha mãe é uma flor / Ela é toda tão formosa / Ela é feita de amor’”, relembra Camila.

A partir daí, surgiu também a vontade de expandir a reflexão sobre o corpo como portal para além de sua própria mãe, reconhecendo pessoas que decidem tornar-se passagem para outras vidas. Poeticamente, mas sem romantizações ou demagogias. “Por enquanto, não penso em ter filhos. Mas respeito quem tem, porque é uma decisão muito corajosa. Não romantizo a maternidade, de forma alguma, mas acho uma coisa incrível. Algo muito tecnológico, já que a única forma de acessar esta realidade física é através de uma outra pessoa. Não tem outro meio de transporte”, reflete Camila. “Então, fiz outra estrofe, que generaliza a questão. ‘Se você tá neste mundo / Se você tá neste chão / Reconheça a coragem / De quem se tornou passagem / Pra nascer um coração’. É isso, uma louvação. Reconhecer e agradecer”.

A trilogia de singles evidencia a fluidez musical da artista, que apresenta o resultado harmônico da fusão entre a tecnologia do eletrônico e a organicidade da viola. “A viola representa um símbolo do interior do Brasil, que tem muito a ver com as minhas raízes. Ao mesmo tempo, as músicas vêm do meu interior, da minha forma íntima de ver o mundo, da minha relação com os meus pais e com quem me cerca”, conta Camila, que viveu sua infância e adolescência em Abaeté. “Musicalmente, é interessante trazer essa mistura e mostrar que não existe campo fixo de trabalho para a viola ou para o eletrônico. São possibilidades que podem dialogar, chegando a resultados de expressão bem poéticos”.

A multiartista “toma bença” a seus pais para trilhar os novos caminhos que começam com o lançamento do EP. “‘Bença’ ocupa, em mim, um lugar específico, em que eu vou buscando essa coisa da raiz, com o que posso produzir em casa, com o meu computador. E é uma reverência ao que me permite estar aqui, hoje, fisicamente, neste lugar. A quem me emprestou os elementos da tabela periódica para formar este corpo. À minha mãe, que me gestou; e ao meu pai, que além de emprestar o material genético, me gestou na música”.


Sobre Camila Menezes

Camila Menezes é multi-instrumentista, compositora, arranjadora, maestrina e produtora musical. Artista atuante da efervescente cena musical de Belo Horizonte, integra a banda de indie pop Dolores 602, com a qual conquistou, por suas composições, oito premiações em festivais. Também participa da banda Tutu com Tacacá, que funde ritmos mineiros e do Norte, como o carimbó. A mineira também toca baixo na banda da cantora Marina Machado e é, desde 2012, maestrina do Coral Casa de Auxílio e Fraternidade Olhos da Luz (Sabará), que vai do tango ao folk, passando pelo fado e pelas músicas regionais brasileiras. Psicóloga de formação, mestra em Psicologia Social, também leciona Canto Coral na Associação Querubins e dá aulas particulares de violão, baixo e ukulele.  

 A gravação do EP ”Bença”, de Camila Menezes, é realizada com o apoio do Ministério do Turismo e do Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Lei Emergencial Aldir Blanc.

Ouça a música

https://tratore.ffm.to/louvacaoaminhamae

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