A primeira vez em que Gabriel Sater, 40, subiu ao palco do teatro do Minas Tênis Clube foi para lançar seu terceiro disco, “Indomável”. Ele tinha acabado de experimentar algo novo em sua trajetória artística: atuar. A convite do diretor Luiz Fernando Carvalho, o filho de Almir Sater interpretou o carismático Viramundo, na novela “Meu Pedacinho de Chão” (2014), remake de Benedito Ruy Barbosa.
 

 
 
 
Oito anos depois, Gabriel está de volta ao mesmo espaço. Ele faz única apresentação neste sábado (24), às 21h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (todos os ingressos estão esgotados), da turnê “Quando For a Hora”, que celebra o lançamento do DVD homônimo e os 22 anos de carreira do ator, cantor e compositor. E, por uma feliz coincidência, o artista está no ar em outro remake de Benedito, desta vez adaptado pelo neto do autor, Bruno Luperi. Em “Pantanal”, ele é o misterioso violeiro e peão Xeréu Trindade. 
 
Gabriel celebra a volta a Belo Horizonte, terra natal de sua esposa, a artista plástica e sua produtora Paula Cunha, num momento mais do que único de sua vida. “Amo essa cidade, amo esse Estado. BH mora no meu coração por inúmeros motivos, a começar pela Paula, que é daí e é meu talismã. E sempre me inspirei na música mineira, no Clube da Esquina. Minas é um lugar que sempre me fascinou em vários aspectos. A geografia, a topografia marcante das montanhas, as cachoeiras. Sem contar a culinária mineira, que é uma das melhores do mundo. Depois do Pantanal, certamente Minas Gerais é o lugar em que mais passo minhas férias”, salienta. 
 
O repertório do show na capital mineira mescla canções autorais de Gabriel Sater, releituras de canções de que ele gosta, além de homenagens a compositores que o guiaram em sua carreira musical e que, hoje em dia, ele tem a “sorte”, como gosta de frisar, de serem seus parceiros. É o caso de Luiz Carlos Sá, com quem compôs “Em Folha e Flor” e “Boca do Mato”, e Renato Teixeira com “Quando For a Hora", música que batiza a turnê e que também tem a coautoria de João Gaspar. João, aliás, além de assinar a coprodução musical do show, faz parte da banda de Gabriel, na qual canta e toca violão. O time fica completo com o acordeonista Eliomar Landim e o baterista Paulinho Vicente.
 
“Fiquei muito feliz de ter casa cheia em BH. Não conseguimos uma sessão extra por agora, mas certamente vou voltar em breve com outros projetos, como o que faço com o maestro João Carlos Martins (o concerto “Do Clássico ao Pantanal”, que traz Beethoven, passa pelo tango, por músicas regionais e pela trilha da novela da Globo e tem a participação também da Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP)”, garante Gabriel Sater. 

 

“Amor de Índio” 

Por falar em Martins, outra canção que estará no setlist do show no Minas é “Amor de Índio”, música de Ronaldo Bastos e Beto Guedes, que ganhou uma linda versão justamente do maestro e pianista e de Gabriel. A composição foi parar por acaso na trilha sonora de “Pantanal” e embala o romance de Juma (Alanis Guillen) e Jove (Jesuíta Barbosa). “A gente a gravou para o meu disco ‘Erva Doce’, que por sinal será lançado em dezembro também em formato físico, com a produção musical da nossa empresa, a Indomável Produções Artísticas. O tempo passou, e eu enviei sem nenhuma pretensão para a direção musical da novela. E, felizmente, fui surpreendido um dia com uma ligação da assessora de imprensa de ‘Pantanal’, a Julia Costa, falando que a canção ia entrar na trilha. Naquele momento, as lágrimas começaram a cair. Não acreditei naquele presente do destino. Agradeço demais também ao Rogério Gomes (diretor geral artístico da trama), ao Rafael Luperi (irmão do autor Bruno Luperi, produtor musical da novela), além do Rodolpho Rebuzzi (outro produtor musical do folhetim). Definitivamente, ‘Amor de Índio’ é uma música que marcou a minha carreira e marca o meu show”, celebra. 
 
Além de ter emplacado uma faixa na trama global, Gabriel conquistou um papel que, na versão original de “Pantanal”, em 1990, foi interpretado pelo pai, Almir Sater. É o enigmático Trindade, que, inclusive, deve fazer uma “aparição” no capítulo desta sexta (23), em que ele vai ajudar Irma (Camila Morgado) a dar à luz o filho dos dois. É o segundo trabalho de Gabriel Sater em novelas. Ele revela que, assim que soube que a Globo ia fazer o remake da trama de Benedito Ruy Barbosa, correu atrás para estar no projeto. Fez o teste, a propósito, sem o conhecimento de Almir.
 
“Eu fiquei louco e só pensava nisso. Queria demais aquele papel e foquei esse teste como nunca foquei nada na minha vida. Nunca quis tanto na vida um personagem como o Xeréu Trindade”, recorda o artista, que, para passar no teste, reviu a novela original, se dedicou mais à viola e se preparou tanto física quanto espiritualmente, já que, querendo ou não, são dois personagens, Trindade e Cramulhão, uma espécie de diabo.
 
“A construção deles foi muito complexa, foram 21 meses de dedicação total, e, para a minha alegria, eu recebi a notícia de que ganhei o papel no dia do aniversário do meu saudoso avô Sater, que já morreu”, conta Gabriel, que afirma ter sido picado pelo mosquitinho da dramaturgia. Além das novelas “Pantanal” e “Meu Pedacinho de Chão”, ele fez o musical “Nuvem de Lágrimas” (2015) e os filmes “Malasartes e o Duelo com a Morte” (2017) e “Coração de Cowboy” (2018). Gabriel, aliás, já foi sondado para outros trabalhos como ator, sobretudo para o teatro, mas ainda está analisando.

“Esse universo de ator sempre me fascinou. Agora, que os shows voltaram com tudo, está mais complicado, mas espero algum dia poder continuar com a arte da dramaturgia. Amei essa experiência”, garante ele, que tem a aprovação total do pai. “Eu, inclusive, acabei de compor a primeira música com ele. Ela se chama ‘Voa Vagalume’, e também conta com a parceria com o Luiz Carlos Sá. Foi uma alegria enorme, e vai estar no meu novo disco”, diz. 
 
Mesmo com a rotina bem atribulada, ele não se queixa. Gabriel Sater acredita que está vivendo o melhor momento de sua vida. “Nunca vivi nada parecido. A maior felicidade é quando você se dedica para um projeto e tem um retorno tão especial do público quanto estou tendo agora. E não só por causa da minha personagem, mas do projeto (‘Pantanal’) como um todo. A gente trabalhou de uma forma muito coletiva, moramos todos juntos durante meses. Todo mundo torce pelo outro, quer ver o bem do outro, e isso é raro nesse meio, como já me confidenciaram várias lendas da dramaturgia. O que a gente está vivendo aqui é muito especial. Estou amando tudo que está acontecendo porque foi isso que eu sempre pedi na vida, em termos profissionais”, festeja.  
 

Trinca mineira 

Além de Belo Horizonte, Gabriel Sater se apresenta nesta sexta-feira (23) na Festa do Morango, em Barbacena, na Zona da Mata, onde vai contar com a participação da jovem violeira mineira Giovana Rezende, de apenas 13 anos, e, no domingo (25), faz show no 2º Festival Gastronômico & Cultural de Uberaba, no Triângulo.